Pelo silêncio e calmaria da rua Doutor Barbosa Gonçalves, é difícil imaginar que em uma daquelas casas grandes e antigas, está um abrigo de cães, que já acolheu mais de 300 animais desde que as chuvas começaram a devastar a Grande Porto Alegre.

Em pouco mais de duas semanas, o trabalho desenvolvido pela contadora Julia Zelanis, e diversos voluntários, já ajudou a salvar, tratar, direcionar e dar um novo lar para cachorros dos mais diferentes tipos.
Casarão se transforma em abrigo para cães 2j5g2a
“A casa é minha e do meu marido, a gente estava reformando para vir morar aqui. A casa ainda estava sem uso, e a gente teve a ideia de abrigar alguns cachorros, mas nunca pensamos em quantos”, conta à reportagem.
Depois disso, Julia entrou em contato com uma influenciadora digital, que estava resgatando animais, e foi assim que os primeiros chegaram até o endereço, que logo ganhou o nome de abrigo “Segura Minha Pata”.
Conforme foram chegando, os cães foram acolhidos com água e ração, camas, cobertores e roupinhas, consultas com médica veterinária, treinamento para sociabilidade com outros cães, tudo feito através de voluntariado, ou doações.
Nos primeiros dias, os animais eram cadastrados em blocos de notas, com nome e principais características, como pelagem, tamanho, peso, dentição e outras informações importantes para facilitar a identificação. Com o ar dos dias, outros processos foram estabelecidos para auxiliar na organização, principalmente, pela rotatividade de pessoal.

A estrutura da casa ou por algumas intervenções, que foram pensadas pela arquiteta Juliana Freitas. As áreas da casa, que seriam espaços de convivência, se transformaram em quartos improvisados para os cães, com divisórias feitas por sacos de ração. Os quartos dão lugar a acomodações para os cães, dispensa de remédios e áreas de higiene.
“Não tinha nada na casa, então ajudei a pensar no AUphaville, um espaço de convivência na parte de trás da casa, segurança, instalando os corrimãos, mas não fiz nada sozinha. O pessoal da equipe das veterinárias vieram com ferramentas e tudo, então eles fizeram os portões”, conta a voluntária.

Rede de Solidariedade 1t2i4m
Caminhas, potes de ração, coleiras e todos os itens utilizados para deixar a vida dos animais mais confortável foram comprados com dinheiro de doação. Uma campanha virtual arrecada, desde a abertura do abrigo, doações em dinheiro para manter, não só o conforto, mas as contas da casa.
“A gente veio pra cá sem água e sem luz, na primeira noite ficamos aqui com umas velas acesas, morrendo de medo para não incendiar nada. Eu sei que algumas pessoas não querem doar dinheiro e acabam nos trazendo mantimentos, mas a gente também precisa de dinheiro porque vai faltar para uma internação, dar vacina, pagar a conta de luz, a gente tem que ter verba pra isso”, afirma Julia.

A contadora destaca que toda prestação de contas, das doações recebidas, são publicadas na rede social. Inicialmente, o espaço seria mantido por seis meses, mas a organizadora já projeta que o abrigo funcionará por, pelo menos, um ano. “A gente não precisa esperar acontecer uma pandemia, um incêndio, uma enchente para ver que as pessoas precisam de ajuda”, completa.
Em busca de um lar 4d265p
Enquanto recebem os cuidados, a contadora tenta encontrar os tutores dos cães através das redes sociais, ou lares temporários que possam, ou não, se tornar definitivos.
“A gente já fez até reencontros dos tutores com os bichinhos, mas muitos donos perderam tudo e estão em abrigos que não aceitam animais, então a gente não quer separar a família e está mantendo alguns deles aqui”, explica.

Hoje, o abrigo Segura Minha Pata tem quinze cães destinados para lar temporário. Para estimular novos tutores, os animais foram batizados com nomes de personalidades e artistas que se envolveram nos trabalhos de apoio às vítimas da enchente.
A médica e influenciadora, Marcela McGowan, o surfista, Pedro Scooby, o humorista, Whindersson Nunes, e o influenciador, Felipe Neto, foram alguns dos homenageados.

A Prefeitura de Porto Alegre não tem um número exato de quantos animais foram resgatados na cidade, no entanto, anunciou a contratação emergencial de até 60 médicos veterinários para ampliar a capacidade de atendimento. O Governo do Estado contabiliza 12.358 resgatados no Rio Grande do Sul.
Nesta quarta-feira (22), uma reunião junto ao Ministério Público tratará do tema, não só em Porto Alegre, mas em conjunto com Estados e municípios que procuram soluções na área animal.