Carros antigos, folclore, games retrô, comida, bebida, produtos artesanais, tudo isso no Centro de Florianópolis em mais de 200 barraquinhas. A primeira edição da Feira de Cascaes em 2023, no domingo (2), levou centenas de pessoas para o Centro Histórico da Capital. Entre eles, crianças, jovens, idosos, casais, amigos, famílias.

Organizada pela Prefeitura de Florianópolis, por meio da Fundação Franklin Cascaes, a maior feira da cidade terá mais cinco edições, até dezembro, sempre na primeira semana do mês, no entorno da praça 15 e Largo da Alfândega, alcançando a área em frente a Catedral Metropolitana.
Entre os expositores, Manoel Pereira, 72, que começou um novo ofício após uma ‘visão’ do neto Carlos Eduardo: ‘O vô tem uma inteligência dentro do coração que consegue fazer carrinho de boi, violeiro, gaiteiro, rendeiro’. Não deu outra, há seis anos, o aposentado Manoel faz ‘terapia’ ganhando dinheiro com artesanato.
“Trabalhei 42 anos em comércio diversificado, nunca pensei em artesanato. Casei, tive três filhos, me aposentei, e o meu caçula teve um menino, que é autista”, conta Manoel. Depois que o neto lhe falou sobre o dom, Manoel começou para alegrar o pequeno e dava as peças para as crianças da vizinhança.

“Aí vim aqui na rua João Pinto, participei da feira, e o pessoal da Franklin Cascaes disse: ‘o senhor está intimado a vir em todas as feiras’, lembra Manoel, que comercializa as peças no valor de R$ 30 a R$ 100. “Tornou-se uma terapia. Tenho concentração e prazer, devido a forma como iniciou. Eu falo do meu neto e choro”, comenta Manoel emocionado.
O corretor de imóveis Edson Padilha, 50, de Petrolândia, no Alto Vale, veio sábado para São José visitar amigos e ontem foi com a família para a Feira de Cascaes. “Primeira vez que vim e achei muito interessante o bilro das mulheres da Lagoa. Chamou minha atenção a diversidade da cultura da Ilha. Apesar de não morar aqui, tenho orgulho da cidade, porque é a nossa Capital”, declara Edson, que pretende se mudar para a Ilha.
A diretora de planejamento e gestão Aline Dallagnol, 40, de Porto Alegre (RS), fez esse movimento há três anos e também não conhecia a feira. “Achei incrível. Cheguei 12h, almocei no Mercado Público, comi tainha, uma delícia”, diz.
João Victor Silva da Rosa, 23, trabalha com tecnologia da informação e aproveitou jogando Bruxólico, um game retrô baseado nas lendas de Franklin Cascaes. “Achei legal, pega bem a essência dos jogos antigos e tem essa dificuldade nata dos jogos daquela época”, comenta.

Desenvolvedor do game, Paulo Andrés explica a história: “havia um poço sem fundo, na freguesia do Pântano do Sul, onde as pessoas jogavam tralhas, coisas velhas e sentimentos ruins, até que um dia, foi tanta coisa ruim, que explodiu e saiu tudo quanto é criatura bruxólica para causar estripulia na Ilha, inclusive o Boi-Fantasma, o personagem principal, inspirado no nosso boi de mamão, que enfrenta as criaturas até que voltem para o poço”.

Criador da Amaweks, Andrés vende o jogo pelo site www.amaweks.com e também um pdf do livro com a história. Franklin Cascaes está nos personagens e lendas do livro ilustrado, uma delas relatada por Peninha ao desenvolvedor do jogo.
Presidente da Fundação Franklin Cascaes, Roseli Pereira ressalta que esta é a maior feira da cidade. “Foi um dia de lazer, cultura e arte para a população e aqueles que vieram nos visitar”, diz.

“Florianópolis é uma cidade turística e uma forma de ela se desenvolver economicamente é trazer esse atrativo cultural, gastronômico, essa economia criativa. Queríamos trazer as pessoas para o Centro aos finais de semana e potencializar nossos fazedores de cultura, que precisam mostrar o seu trabalho”, completa. Realizada desde 2021, a próxima Feira de Cascaes será em agosto.
Paixão por carros antigos 5smg
Uma atração da Feira de Cascaes é a exposição de carros antigos. O empresário Marcelo Lima, 51, um dos organizadores, lembra que no início eram meia-dúzia de carros, mas que já teve feira com 150.
No domingo, foram 92, entre Fuscas, Kombis, Opalas, Chevettes, Brasílias, que remontam às décadas de 90, 80, 70, 60 e até 50. “É uma paixão e quem cuida dos carros antigos, cuida de uma parte da história. A população adora, porque lembra um carro que o avô ou o tio teve”, ressalta Marcelo, dono de um Opala 1990.

“Era um carro de madame. A dona andava com um motorista e ia sentada atrás. Ela faleceu e o carro ficou para o filho, que era surfista, e andou muito nas praias de Florianópolis, então, apodreceu quase todo. Quando peguei, restaurei”, lembra Marcelo.
O servidor público Marcos Antônio, 58, tem carro antigo desde 1982 e já teve nove fuscas. Trocou um 1978 por um 1968 em 2017. “Rodo pelo menos duas vezes na semana. Só dia de chuva que não tiro da garagem”, diz Marcos. Segundo ele, a pintura em verde Caribe e o interior em vermelho são marcas registradas do modelo entre 1967 e 1969.

Lucimar Teixeira, 47, aprendeu a dirigir numa Brasília antiga do pai. “Ele tinha uma bordô e isso me traz boas lembranças”, conta. Natural de Urussanga, no Sul, se apresenta como manezinho de coração, pois está na Capital desde os 4 anos.

“Primeira vez que vi a exposição e achei bem interessante. Para quem tem um pouco mais de idade, é um resgate. Ver carros antigos nos lembra dos nossos pais, avós, é uma viagem no túnel do tempo”, descreve o nostálgico Lucimar.