A violência sexual contra as mulheres, além de ser um problema de saúde pública, pode acarretar, entre outras consequências, dificuldades emocionais e sexuais nas mulheres de qualquer idade.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) revela que pelos menos uma em cada cinco mulheres já foi vítima de estupro, e mais de metade delas conhecia o agressor.

É importante lembrar que estupro não se limita à penetração forçada. De acordo com o artigo 213 do Código Penal Brasileiro (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009), estupro é constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Ou seja, além da “conjunção carnal”, que se refere especificamente à penetração (pênis vagina – pênis ânus), a exigência de favores sexuais em troca de algo, beijos violentos sem consentimento, conduta sexual na qual haja intuito de humilhar e submeter a vítima à violência, conduta sexual que vise a manutenção de poder também é considerado estupro.
Assim, a maioria dos estupros não deixa marcas físicas, mas sim emocionais e sexuais.
Diante dessa realidade estarrecedora é frequente a busca de mulheres com disfunções e dificuldades sexuais em meus atendimentos clínicos e na plataforma Sexo sem Dúvida, que vão do entorpecimento afetivo à intensa hiperexcitação.
Então, essas vítimas apresentam dificuldades para ter ou retomar a atividade sexual, bem como ausência de desejo, dores na relação sexual, ausência de prazer, hipersexualização e dificuldades relacionais diversas.
Entram na conta outros sintomas “não sexuais”, como ansiedades, medos, fobias, pesadelos, dificuldades alimentares, dificuldades de aprendizagem, problemas relacionais e traumas.
É relevante salientar que a dinâmica da violência sexual é geradora de traumas psicológicos, podendo, inclusive, desencadear o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Em uma tentativa de sobreviver e reconstruir novos limites entre ela mesma e o mundo, a mulher vítima desse tipo de violência pode transitar entre ganho de peso, falta de cuidados pessoais, deixar-se não atraente sexualmente, desenvolver questões dermatológicas, de comportamento e de aprendizagem.

E pensando em sintomas associados ao TEPT, há casos em que as mulheres tendem a evitar toda e qualquer situação sexual ou, ainda, se coloquem em situações que repitam a violência sofrida.
Assim, é notório o comprometimento da satisfação sexual e dos relacionamentos interpessoais. As questões com a imagem, conceito e estima ficam negativamente afetadas e também as relações afetivas e sexuais. Se não tratados, os sintomas podem se estender e piorar por muito tempo na vida dessas mulheres.
Como resultado de violências sexuais, além de sufocar desejos, sexuais ou não sexuais, as mulheres costumam enfrentam uma emoção em comum: a vergonha.
Não há uma formula única de tratamento psicoterápico. Vai depender do impacto da experiência para cada vítima. O que importa é que haja a busca por permissão. Permissão para ter prazer através do ressignificar e reaprender o contato sexual, sentir-se sexual e sensual.
Reconciliar-se com seu próprio prazer sexual por meio do autoconhecimento e da autoestimulação (masturbação). É preciso compreensão de que a responsabilidade pela violência é do abusador/ofensor/violentador, para assim desprender a capacidade de desejar, sexual e não sexual.
Lembro que esta coluna busca entreter e informar, não fornecer tratamento psicológico. Para um tratamento psicoterápico, busque uma psicóloga registrada e construa uma vida sexual e íntima de forma saudável e segura.