Você sabia que o número de casais que não fazem sexo ou não o fazem regularmente vem aumentando? Será então que o sexo é realmente a base do casamento? E tem como viver um bom casamento sem sexo? É normal viver junto e não transar?
Casais que moram juntos e que se dão bem em diversas situações, mas que a vida sexual parou têm sido uma demanda recorrente e alta em meus atendimentos clínicos e na plataforma Sexo Sem Dúvida.

Qual é a frequência ideal? Duas vezes por semana? Todos os dias? Uma vez por mês? Acontece apenas com casais em longos relacionamentos? Casais novos em idade também ficam sem transar? Quanto tempo é normal um casal ficar sem transar?
Esses e outros questionamentos que aparecem regularmente nos atendimentos em terapia de casal e terapia da sexualidade vêm problematizando a vida sexual nos casamentos e revela o sentimento da vergonha.
O tema sexo no casamento é desafiador. A psiquiatra Regina Navarro em seus estudos sobre amor, sexo e intimidade nos revela que historicamente casamento não é sobre amor e nem sobre sexo. Casamento é sobre estruturas sociais e econômicas.
O que colou o amor e o sexo no casamento foi o amor romântico que nos fez acreditar que duas pessoas devem se encontrar e se complementar em todas as áreas da vida, que se eu amo eu só posso desejar sexualmente aquela pessoa, que o homem é o responsável pela vida e prazer sexual do casal.
Então, já temos aqui alguns mitos que interferem na vida sexual de casais. Importante saber que acontece com casais de todas as idades, tempos de relacionamento e formas de casamento. E, como o tema é repleto de possibilidades, vou trazer hoje três pontos de relevância para a reflexão de até que ponto está ‘ok’ não transar e quando se deve ligar o sinal de alerta.
1. Sexo não é a base do casamento 484k2u
Já começo a conversa contrariando o mito que o sexo é a base do casamento. As pessoas se casam por diversas razões, que não necessariamente o sexo. Por exemplo, projeto de vida, criação de filhos, questões econômicas e familiares, amizade e afetos. Então, fica a pergunta: se o sexo não foi a razão pela qual você se casou, por que ele hoje é um problema?
2. Rotina não é a grande vilã 51741
Não é a rotina do casamento que mina o sexo e sim como a vida sexual é priorizada nesta relação. A rotina na verdade é boa, ela organiza a vida. Assim, investe-se na construção da família, em mudar de casa, projetos de viagens, projetos profissionais.
Mas quanto de tempo e vontade se investe no relacionamento? Quando o sexo perde espaço? Quando ele deixa de significar muito mais do que ele é, o sexo? Aqui volto à questão do desejo sexual.
A sexóloga canadense Rosemary Basson em seus estudos revelou que o desejo não existe apenas de forma espontânea, pode também ser responsivo. Ou seja, além de você ter o desejo espontâneo você pode ter ainda o desejo responsivo, que é aquele que você consegue ativar o desejo, a vontade de transar, após estímulos sexuais.
Ela nos trouxe essa ideia, num primeiro momento, pensando na sexualidade das mulheres. Hoje, sabemos que as questões de desejo podem ser pensadas no dia a dia do casal.
A parceria pode se estimular e não ficar aguardando eternamente um desejo espontâneo que se perdeu na rotina sem prioridade sexual. É sobre criar intimidade sexual.
Inclusive recomendo aqui um seriado que pode ser uma inspiração – “Como criar um quarto o sexo?”, produção da Netflix que retrata formas de criar em sua própria casa espaços para explorar a sexualidade e novas fronteiras de prazer.
Leveza e sensibilidade são, sim, palavras que devem ser usadas quando falamos em vida sexual. Nem tudo é pegação e “pornográfico”. Logo, é preciso trazer intimidade e intencionalidade para o sexo, é preciso criar um espaço erótico para a relação.
3. Sexo quando é bom ativa a vontade 3v334g
A insatisfação não apenas da frequência sexual mas da qualidade do sexo é um dos pontos campeões no consultório quando se fala de casamento sem sexo.
Sabe aquele sexo no fim da noite, quando todos já estão cansados, que é mecânico, que é obrigação e que não conecta? Pois é, essa experiência negativa na intimidade pode manter o casamento sem sexo. Lembre, o sexo bom conecta e o sexo ruim desconecta. E hoje as pessoas, de uma maneira geral, relatam no consultório que preferem não transar a não terem um sexo prazeroso. Não falam apenas de orgasmo, mas de intimidade e conexão.
Então, qual o segredo de um casamento sexualmente satisfatório? 1m465t
Trazer o sexo enquanto prioridade em alguns momentos. Sexo não será mesmo sempre prioridade e tudo bem. Isso não é um sinal de alerta.
Frequência? Vai depender de cada casal. E ter em mente que o sexo é para aproximar, conectar. Caso contrário ele não liga as pessoas. Saber que menos sexo não necessariamente significa menos amor.
Um sinal de alerta é se alguém começa a se sentir sexualmente insatisfeito(a) na vida sexual, é hora de conversar e descobrir novos desejos e prazeres e não necessariamente um novo alguém. Falta de sexo no casamento não é desculpa para infidelidades. Mas a conversa sobre traições teremos em outro momento.
Minha sugestão para você? Não tenho. Te convido a se conhecer sexualmente, a resposta estará na sua sexualidade.
E por fim, deixo uma reflexão da psicoterapeuta belga Esther Perel. Ela quem criou o conceito de “inteligência erótica”. Quer se aprofundar no tema? Leia seu livro ‘Sexo no Cativeiro’.
“Primeiro colocamos amor no casamento. Depois, colocamos o sexo no amor. Em seguida associamos a felicidade conjugal com a satisfação sexual. O sexo para procriação foi substituído pelo sexo por recreação. Enquanto o sexo pré-nupcial se tornou norma, o sexo conjugal atravessou a própria revolução ando do dever matrimonial da mulher uma via conjunta de prazer e conexão”
Pense nisso!