Em um beco na rua Tiradentes, em Taió, não é a primeira vez que o rio que leva o nome da cidade invade as ruas e as casas. Mas, segundo a aposentada Adelaide Salvador, de 81 anos, desta vez as forças das águas superaram as marcas que ela tem na memória. Demonstrando muita força e, principalmente, vontade de ajudar, ela construiu a própria canoa para ter e nos momentos de cheias.
Em uma pequena cidade, em um beco, é sempre normal vizinhos se conhecerem por nome, histórias e necessidades. E foi assim que desde a noite de domingo (8), todos fizeram uma corrente de solidariedade. O fio condutor: a canoa da dona Adelaide.
A embarcação, segundo a aposentada, foi toda feita com madeira beneficiada. “Pintei ela antes. Isso ai salvou a nossa vida. Todo mundo usou ela”, contou Adelaide.
Na casa dela, depois das cheias do Rio Taió, dez pessoas estão abrigadas. No meio de tanta notícia de perda, foi de canoa, que crianças no colo das mães chegaram para uma sopa quente de casa de vó.
Dona Adelaide ajudou as famílias que moram próximo da sua residência em Taió – Vídeo: Arquivo Pessoal/Reprodução/ND
É ali que todos veem a inspiração, a força de quem com mais de oito décadas de vida, ainda projeta como pode ajudar. “O remo se foi. Estamos com uma pá para conseguir se locomover. Temos que fazer um remo”.
40 anos depois, as águas tiram o sono da aposentada 1q3r1i
Adelaide foi morar na casa onde abriga pessoas desalojadas em Taió no início de 1980. Ela, o marido e quatro filhos acompanharam o êxodo rural do período e fixaram uma das primeiras residências no local.

Há 40 anos, em 1983, ela viu as águas do rio invadirem de forma devastadora muitos locais. Nesta época eles tiveram grandes prejuízos, não tinham canoa. Perderam muita coisa. Pelos olhos dela, enquanto vê a rua na frente de casa sendo tomada pelas águas, a marca de 1983, foi menor. “Agora na casa do vizinho está enchendo também, logo alguém vai lá tirar tudo. Se quiserem alguma coisa estamos com a canoa”.