Racismo estrutural: já ouviu falar neste termo? Se a sua resposta for “não”, antes de tudo vou explicar o que significa.
Vamos por partes! Ao longo da história brasileira, nossa estrutura social levou à manutenção do racismo. Os recém alforriados não tiveram em nada a vida facilitada por nossa legislação.
Lá nas primeiras leis penais da República em 1890, por exemplo, os negros sem terras, educação ou trabalho eram presos caso fossem encontrados na rua pedindo ajuda ou praticando capoeira.
A lei só contribuiu de fato para a democracia racial quase um século depois, em 1989. Foi quando a lei Caó (7.716/89, de autoria do ex-deputado federal Carlos Alberto Caó de Oliveira) tornou o racismo um crime inafiançável e imprescritível. A pena é de reclusão de até cinco anos. Ou seja, alguém que impede uma pessoa de entrar no elevador ou xinga uma apresentadora de TV por serem negras pode ser preso. É lei. Reflitam.
O buraco é mais embaixo 1n57b
Mesmo com a legislação, o buraco é bem mais embaixo. A cor da nossa pele é na maioria das vezes associada apenas a capacidades físicas – a dança, o esporte ou trabalhos pesados.
No caso de nós, mulheres negras… Quem nunca teve que responder a um suposto “elogio” perguntando de qual escola de samba éramos apenas por sabermos dançar ou nos acharem bonitas? Eu já tive que afirmar que era negra por ter a pele mais clara ou os traços mais “finos”.
“Ah… Mas você nem é negra né?” É a abilidade, conhecem? Quando uma pessoa tem sua identidade classificada como sendo de outro grupo. Tenho certeza que vocês se identificam.
Além do racismo, a mulher negra também sofre com outra construção social: o machismo. E isso remete lá aos tempos da escravidão, quando os senhores de engenho nos tinham como “diversão”. Eles nos estupraram por gerações. E ainda hoje despertamos a curiosidade de homens brancos que estão imersos nesse racismo estrutural. É como um estigma que não consegue ser apagado com o tempo.
A transformação está nos detalhes 6f353x
Mas como mudar isso? Antes de tudo, temos que conhecer a nossa história. O papel dos negros na evolução da sociedade brasileira. Precisamos procurar os heróis e heroínas que ficaram no anonimato, que não estão nos livros.
Somos mais que Antonietas ou Cruz e Sousas e temos referências nacionais até hoje. A professora Jeruse Romão que o diga. Durante a pandemia vi inúmeras referências dela distribuindo seu conhecimento, inclusive fora do país.

E a nossa querida Uda Gonzaga, que alfabetizou um grande número de jovens em Florianópolis. Sua história está sendo contatada em livro: vamos romper fronteiras.

Neusa Borges, atriz que é ícone catarinense e fez sucesso internacional. Tem uma carreira brilhante e quase não falamos sobre isso. Já não somos apenas negras ativistas e não devemos mais ser procuradas somente por assuntos relacionados ao combate ao racismo. Nosso conteúdo vai bem mais além.

Você ainda usa estas expressões? É hora de bani-las! 5i60p
Entendam, amigas e amigos brancos: vocês não têm o contexto ancestral que tivemos. Não foram escravizados nem mortos, não tiveram seus filhos arrancados dos seus braços.
Até hoje vocês ainda têm mais facilidade para serem selecionados para uma vaga de emprego. Em qualquer empresa ou repartição é comum notarmos que a maioria dos profissionais na limpeza ou na cozinha são negros. Não é demérito, mas escancara a desigualdade social latente em nosso país.
Nessa realidade, banir expressões de cunho racista do seu vocabulário já é um começo. Muitas delas você pode estar falando sem querer:
“A coisa está preta”
“Você é moreninha”
“Criado-mudo”
“Samba do crioulo doido”
“Denegrir”
“Estampa étnica”
“Cor do pecado”
“Cabelo ruim”
Não é mimimi… É conhecimento. É mudança. É futuro.
Se queremos uma sociedade melhor temos que começar por nós mesmos. Com fundamento e não por pressão. Sempre temos o que melhorar.
A mulher negra tem capacidade para ter seu lugar ao sol tanto quanto, qualquer pessoa. O sol é para todos. Eu amo quando dizem que sou negra. Eu amo a minha cor e amo a força que vem junto com o tom da minha pele. Entender e aceitar isso é se libertar do estigma e usar a inteligência emocional para responder os casos de preconceito racial que sofremos diariamente. O racismo estrutural não é para ser aceito, ele existe. Vamos entende-lo e extingui-lo.