Um ciclone extratropical, ventos fortes e muita chuva. Florianópolis, teve “um dia daqueles” na quarta-feira (10). Nos bairros, os alagamentos prejudicaram o trânsito em diversas vias. Os trabalhadores tiveram dificuldades.

Para fazer entregas na Ilha e cidades vizinhas, os motoboys se arriscaram em estradas “transformadas” em rios. A água também invadiu casas, trazendo preocupações a famílias inteiras, inclusive com crianças.
A cozinheira Susiani Martins, 44 anos, atualmente desempregada, mora com o marido, Marcos Almeida Chaves, de 51 anos, e a filha Giovana, de cinco, no Rio Tavares, na rodovia Francisco Magno Vieira. Na quarta, cedo, a casa dela alagou.
A família mora perto de uma barreira feita pela PMRv (Polícia Militar Rodoviária) na SC-405, no dia, devido a pontos de alagamento na via. Esta foi a terceira vez que a casa da família alagou somente em 2022.

“De perder comida e móveis, é a segunda. A gente está apavorado e não sabe mais o que fazer. Tenho pressão alta, já tive AVC (acidente vascular cerebral), está bem complicado”, desabafou Susiani. “Não aguento mais. Sinto vontade de abandonar a casa”, disse Susi, aos prantos.
Ela conta que os vizinhos lutam pela drenagem de um rio próximo ao imóvel. “Está entupido, tem muito mato estamos lutando. Já fizemos manifestação, fechamos a rua. É o quarto ano que estamos nessa situação. Eu perdi todas as coisas do chá de bebê da minha filha”, relatou Susiani.

“Só queria pedir para alguma autoridade olhar pelo Rio Tavares, que está esquecido”, completou.
Procurada, a Prefeitura de Florianópolis informou que limpou, recentemente, todos os rios e valas da região do Rio Tavares, e que esse trabalho é realizado permanentemente.
A família de Susiani conseguiu erguer e proteger o que deu, mas perdeu alimentos (leite, arroz, feijão) e móveis (pia, máquina de lavar e roupeiro). Conforme a moradora, a água começou a subir por volta das 6h.

“Ia fazer um exame, meu marido ia trabalhar e disse: ‘Susi, levanta que tá entrando água dentro de casa’. Pensa no meu apavoro. Tive que tirar minha filha da cama e ar esse transtorno todo”, narrou a moradora do Sul da Ilha.
O ajudante de pedreiro Arnaldo Evanio Artuzo, 30 anos, mora há um ano na Servidão Beira-Rio, no Rio Tavares. Segundo ele, quando chove muito, é comum que a rua alague.
Ele enfrentou o problema pelo menos quatro vezes, desde que se mudou para o local. Arnaldo e o irmão, Ezequiel, aram três semanas fora de casa, em Garopaba, trabalhando numa obra e no retorno, na quarta, encontraram a rua alagada. O jeito foi atravessar o rio que se formou para conseguir entrar em casa.
Vida dura para os motoboys 6c714a
Maicon Maciel, 37 anos, trabalha há dez como entregador. “Está bem complicado ser motoboy, hoje[quarta], em Florianópolis. É o trânsito, as vias mal sinalizadas, essa enchente. Tá complicado trabalhar”, disse o motoboy no ponto de interdição que a Polícia Militar Rodoviária precisou fazer na SC-405.

A primeira barreira, montada por volta das 11h, nos dois sentidos, foi numa faixa de cerca de dois quilômetros. Depois, por volta das 12h30, foi mantida apenas a interdição de uma faixa menor, de 100 metros, porque os carros estavam ando na via alagada e jogando água nas casas à margem da rodovia no trecho.
Segundo Maciel, rodando quarta na Grande Florianópolis, também estava difícil trafegar em São José e Biguaçu, por causa dos alagamentos.
Também motoboy, Fernando Cesar de Souza Ferreira, 31 anos, metade da vida trabalhando sob duas rodas, disse que se já se arriscou com a moto, muitas vezes, em dia de chuva.

Na quarta à tarde, ele precisou entrar com o veículo na grande poça d’água que se formou perto do ponto interditado na SC-405. Para ele, não foi nada fácil trabalhar de moto nos últimos dias.
“Não tem como fugir. Não estudei, tenho aluguel, preciso enfrentar”, comentou. Fernando contou que o pior cenário que viu, na quarta, por causa da chuva, com alagamento de ruas, foi em Forquilhinhas, bairro de São José.
Viagens de barco canceladas para Costa da Lagoa 4r1x6m
A artesã Rosângela Máximo, 62 anos, pegou, às 7h de quarta, o barco que sai da Costa da Lagoa para a Lagoa da Conceição para fazer uma cirurgia no dente.
“Não tinha aviso aqui e ninguém avisou que só teria barco para voltar às 17h30”, reclamou. Em dias normais, os barcos saem de uma em uma hora da Cooperbarco (Cooperativa de Barcos de Florianópolis), na Lagoa da Conceição.

“Fiquei revoltada porque tomei chuva adoidado, perdi o guarda-chuva, igual muita gente. O que mais tinha na cidade era guarda-chuva destruído. Fui comprar outro, mas a loja estava fechada sem luz”.
Para a moradora, falta um canal de comunicação melhor com a população em relação às mudanças no horário das viagens de barco na Lagoa. Rosângela ficou esperando 5 horas para voltar para casa, onde vive há 15 anos.
Sandra Regina da Silva, 48 anos, mora há 30 na Costa da Lagoa, trabalha na limpeza da escola Orisvaldina da Silva, na Lagoa, e estava na mesma situação. “Vim para trabalhar, pensei que a diretora ia liberar, mas não liberou e estou desde 12h40 aqui”, relatou a moradora da Ilha.
Volnei Valdir Andrade, 49 anos, presidente da Cooperbarco, confirmou que foi preciso mesmo paralisar o serviço na quarta.
“O entendimento do usuário é querer ir e vir, mas temos que ver primeiro a segurança das pessoas. Marinha e diversas entidades pediram para ninguém sair para o mar, muito menos fazer o que a gente faz aqui de parar nos pontos para pegar ageiros”, afirmou Volnei.

De acordo com ele, na parte da manhã, nos primeiros horários, os barqueiros tentaram prestar o serviço, mas devido à força do vento, da chuva e da maré, não foi possível atracar nos pontos para pegar os ageiros.
“Tivemos que parar os barcos e só fizemos o último horário no final da tarde. O barco da Costa para a Lagoa saiu às 16h e o da Lagoa para a Costa às 17h30, para o pessoal ir embora”, reiterou o presidente da Cooperbarco. A expectativa dele é que o serviço seja normalizado nesta quinta-feira (11).