O mês de setembro é marcado por ações de prevenção ao suicídio e o poder da escuta é uma das principais ferramentas quando se trata de ajudar o próximo. Milhares de voluntários no Brasil se dispõem a ouvir e acolher as pessoas que procuram atendimento no CVV (Centro de Valorização da Vida).

O CVV é um serviço desenvolvido por voluntários que oferecem apoio emocional para aqueles que desejam ou precisam conversar sobre seu momento de vida, angústias, tristezas e muitas vezes sobre suas conquistas e realizações.
Somente em 2022, mais de 3 milhões de pessoas foram atendidas pelos voluntários no país. Os atendimentos acontecem por meio do número 188, pelo chat disponível no site ou por e-mail.
Atualmente, há mais de 100 postos espalhados pelo Brasil, com cerca de 3.500 voluntários. Entre as pessoas que se disponibilizaram a ajudar o próximo está Rubia, que atende como voluntária no CVV de Blumenau desde 2019.
Ela explica que antes de começar os atendimentos precisou fazer um curso de processo de seleção de voluntários, que durou cerca de três meses.
“Nele, nós aprendemos como fazer os atendimentos, quais as formas de atender as pessoas, além de várias outras ferramentas e recursos que nos auxiliam ao longo desse processo, dos plantões que realizamos, para melhor prestar esse serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio de forma empática, respeitosa e compreensiva”, enfatizou.
Mesmo após iniciar os atendimentos, os voluntários seguem com uma formação continuada para afeiçoar cada vez mais o trabalho ofertado.
Vontade de ajudar o próximo 3o4w29
Rubia comenta que sempre teve vontade de ajudar o próximo, foi quando viu uma oportunidade de integrar o grupo do CVV.
“Enquanto voluntários, recebemos muito mais do que damos, essa sensação de gratidão, de nos sentirmos bem por praticarmos o bem, não tem preço”, destacou.
Apaixonada pelo trabalho voluntário, ela busca deixar as pessoas confortáveis para desabafar sobre os problemas e até mesmo compartilhar suas conquistas, já que algumas delas se sentem sozinhas e às vezes não tem com quem compartilhar o que sentem.
“Nós, enquanto sociedade, temos o dever de agirmos de forma coletiva em prol dessa causa”.
Os voluntários possuem um plantão telefônico de 4 horas e meia semanal, ou seja, atendem um dia por semana. Esse atendimento acontece por meio de um sistema em que eles recebem ligações gratuitas de todo o país.
As ligações chegam até eles de forma aleatória e sem nenhuma identificação, possibilitando a segurança do anonimato.
Além dos plantões, eles também podem participar de uma reunião mensal com outros voluntários, em que são feitos treinamentos, além de comissões de estudos, ações comunitárias, palestras, entre outras atividades.
Cada posto do CVV é independente e uma pessoa jurídica fica responsável por sua manutenção, que possui despesas mensais. Os voluntários, além de contribuir com essas manutenções, buscam recursos financeiros para manter a estrutura e continuar oferecendo os atendimentos.
Os interessados em atuar como voluntários no CVV precisam ter mais de 18 anos. As inscrições podem ser feitas no site e na sequência será enviado um e-mail com os próximos os e orientações necessárias.
Blumenau conta com diversos canais de atendimento 3f5q21
Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo anualmente. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano.
De acordo com o SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), Santa Catarina registrou 926 casos de suicídio em 2022. Até o dia 4 de setembro deste ano, foram notificados 580 casos.
Em Blumenau, o último levantamento aponta que entre 2019 e 2022, cerca de 143 casos de suicídio foram registrados na cidade. Para reduzir cada vez mais esses números, o município possui a Raps (Rede de Atenção Psicossocial), composta por serviços de saúde de variados níveis de complexidade.

Os profissionais realizam em seu cotidiano atendimentos à população, contemplando estratégias de atenção e cuidado, potencializando intervenções de prevenção e promoção à saúde.
A Semus (Secretaria Municipal de Promoção da Saúde) destaca que o problema pode ser combatido de forma conjunta, estabelecendo canais de comunicação permanente, trocando informações, definindo metas e ajustando condutas.
A área de Saúde Mental de Blumenau é composta por serviços que abrangem a atenção básica até urgência e emergência.
Enquanto atenção especializada, são disponibilizados serviços de atenção psicossocial que ofertam atenção para casos graves e persistentes, respeitando suas modalidades de atendimento.
De janeiro até agosto deste ano, Blumenau realizou mais de 90 mil atendimentos voltados à saúde mental.
- Serviço de Avaliação em Saúde Mental – 34.006 atendimentos
- Centro de Atenção Psicossocial II (Caps II) – 11.081 atendimentos
- Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi) – 16.367 atendimentos
- Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (Caps AD III) – 37.516 atendimentos
Pensando na porta de entrada da atenção em saúde (Unidades Básicas), o município oferece diariamente os atendimentos, contemplando e e encaminhamentos necessários às demandas apresentadas na região.
A importância de procurar ajuda 2l465s
“Investir na saúde mental pessoal é também estender a mão para quem precisa de ajuda”. A médica psiquiatra Vanessa Adegas Roese fala sobre a importância em se conhecer e se entender para depois ajudar o próximo.
“O autoconhecimento é a chave que precisamos virar para engrenarmos em uma existência mais harmônica e agradável para todos. Quando nos conhecemos internamente no nosso contexto e com toda a complexidade que nos rodeia, conseguimos perceber o outro da mesma forma, com toda sua individualidade e profundidade”, destacou.
Segundo a psiquiatra, a saúde mental é uma construção que requer sentido e propósito. Aqueles que aprendem a escutar atentamente conseguem perceber o sofrimento alheio com empatia e compaixão. Contudo, é importante destacar a importância em procurar ou indicar ajuda profissional.
“A mudança de comportamento é um sinal de que pode estar havendo algum problema psíquico. Na dúvida, o melhor a ser feito não é procurar informações na internet e nem tentar reproduzir falas de frases prontas que podem intensificar o sofrimento em vez de amenizar. Apenas escute e se mostre disponível para direcionar essa pessoa a procurar profissionais especialistas como médicos psiquiatras e psicólogos”, explicou Vanessa.
A psiquiatra ainda comenta sobre as redes sociais e como ela pode afetar a saúde mental das pessoas. Apesar de parecer que todo sorriso publicado é real, é preciso entender que tudo bem não estar sempre alegre.
“A crença limitante atual é de que precisamos estar alegres o tempo todo, então silenciamos tudo que se afaste dessa crença, mesmo que saibamos que a tristeza e outras emoções negativas façam parte da construção pela felicidade de nos tornarmos seres humanos cada vez melhores”.
O autoconhecimento é um dos fatores citados por Vanessa, que enfatiza a importância das pessoas olharem para dentro de si mesmas e procurar ajuda quando necessitam, além de praticar atividades que geram um conforto e bem estar, promovendo saúde e longevidade.