No colo da mamãe Kelly Müller a pequena Mikaela toma mamadeira tranquilamente e segura. Ouve atenta tudo o que a mãe fala. Kelly foi até a Ucrânia realizar o sonho de ser mãe. Não imaginava que iria ficar no meio de uma guerra com uma bebê recém-nascida nos braços.

Kelly, o marido Fabio Wilke, a filha Mikaela e outros estrangeiros tiveram, inclusive, de se esconder no subsolo de um prédio quando a guerra foi deflagrada. Uma história e tanto. Mas, apesar do medo, da angústia, da espera, o final é feliz.
VÍDEO: “Finalmente, em casa” 3w534j
Vídeo: Arquivo pessoal/Divulgação ND
Kelly, que morou em Canoinhas, no Planalto Norte Catarinense, e tem familiares na região, decidiu, em janeiro do ano ado, buscar uma clínica de barriga de aluguel. Isto porque havia recebido o diagnóstico de “Incompetência de colo de útero” após três gestações traumáticas. Na primeira tentativa, houve aborto espontâneo. E nas duas seguintes, por mais que tenha feito todo o acompanhamento e tomado os cuidados, os bebês nasceram aos cinco meses e, infelizmente, sobreviveram apenas algumas horas.
“Me culpei demais. Estava muito difícil seguir a vida sem ser mãe”, confidencia.
A família, então, encontrou uma clínica na Ucrânia e para lá partiu em abril do ano ado para coleta de material.
“A nossa barriga de aluguel engravidou de primeira. Fiquei muito feliz. Era meu sonho”, continua.
Toda a gestação foi acompanhada e Mikaela, muito esperada aqui fora.
Kelly e Fabio viajaram para Kiev, capital da Ucrânia, dia 7 de janeiro. O parto de Mikaela estava previsto para dia 21 de janeiro, mas ela decidiu esperar mais um pouquinho e veio ao mundo em 27 de janeiro deste ano.

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Três dias após Mikaela nascer, Kelly e o marido pegaram Covid-19 e tiveram de ficar isolados da filha por nove dias. “Ela ficou em um andar e nós em outro andar do prédio”, conta. A pequena estava sendo assistida e se alimenta com fórmulas infantis.
O voo de volta ao Brasil estava marcado para domingo, dia 27/2. No entanto, aconteceu o impensável: a Rússia declarou guerra e invadiu a Ucrânia.
Kelly recorda que na manhã do dia 24/2, quando levantou para fazer a mamadeira da filha, viu a notícia de que o espaço aéreo havia sido fechado, olhou para janela e viu o trânsito caótico.
“Trânsito parou. Os carros não iam para frente nem para trás”. Desse dia em diante, momentos de tensão, esconderijo, barulho de bomba e muitas incertezas. No Brasil, familiares aflitos que não viam a hora de poder abraçá-los novamente.

A jornalista, que já trabalhou em um jornal de ville e agora é técnica do judiciário e mora em Guaratuba, no Paraná, revelou para Grupo ND como foi atravessar tudo isso, chegar ao Brasil e o que está sentindo agora.
Ao lado da mãe Evelin Schelbauer Müller, Kelly gravou um vídeo emocionado dizendo que está realizando o sonho da maternidade. “Estou muito feliz. Cuidar de Mikaela tem sido maravilhoso. Ela é muito boazinha.”
Quando a filha dorme, Kelly corre no celular para saber das notícias da Ucrânia, especialmente das famílias que dividiram espaço com ela no abrigo, da gestante da Mikaela e das pessoas que cuidaram da bebê, que tem pouco mais de um mês de idade.
“Tem sido maravilhoso, o momento mais especial da minha vida. Não imaginava que viveríamos uma guerra. A diferença agora é que temos de lidar com dois tipos de emoção: a preocupação, o medo pelos outros, mas ao mesmo tempo a felicidade de poder ter Mikaela aqui”, finaliza Kelly.
