É difícil assistir ao filme “Lua em Sagitário” sem sorrir ao menos uma vez. A diretora Marcia Paraíso cumpre o objetivo que estabeleceu ao fazer um romance road movie voltado para o público jovem que aborda a questão agrária no Brasil, pontuada pela perspectiva do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A mistura de elementos, um desafio para maioria dos cineastas, é o que dá vida ao longa-metragem catarinense que tem estreia nacional neste mês, no dia 8 de setembro, em Florianópolis, e 15 de setembro em São Paulo e Rio de Janeiro.

Rodado entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015 em Dionísio Cerqueira, Princesa, Abelardo Luz e Urubici, “Lua em Sagitário” tem co-produção com a Argentina e conta a história da adolescente Ana (Manuela Campagna), que reside em Princesa, cidade de 5.000 habitantes localizada no interior de Santa Catarina. A protagonista se apaixona pelo jovem Murilo (Fagundes Emanuel), um rapaz nascido e formado no MST que mora num assentamento em Dionísio Cerqueira, na divisa com o país vizinho. Juntos, o casal viaja e contorna o Estado para chegar a um festival de rock na Capital catarinense.
A trilha sonora é de personalidade, formada por músicas de Johnny Hooker, Tulipa Ruiz, Mallu Magalhães, Marcelo Jeneci, Boogarins, Os Skrotes, além do rock argentino indie de bandas como El Mató a um Policia Motorizado, Niño Elefante, Atrás Hay Truenos e Sui Generis. O longa tem qualidade técnica na direção de fotografia, com enquadramentos bem calculados que levam o espectador a uma viagem por paisagens interioranas e serranas de Santa Catarina. A montagem também é astuta e traz na edição cortes objetivos que estruturam a história – as cenas duram o tempo que têm de durar, sem prolongar; exemplo é a mesma cena presente no início e fim do filme, que faz uma ponte na narrativa.

O elenco em sintonia engrandece a dramaticidade do filme, com a atuação realista da florianopolitana Manuela Campagna – que recebeu pela interpretação o prêmio de melhor atriz no 20º Festival de Avanca, em Portugal – e participações do argentino Jean Pierre Noher, do cantor Serguei e de Elke Maravilha – o longa foi a última atuação no cinema de Elke, que morreu em agosto de 2016 e interpreta no filme uma personagem que se assemelha à sua própria personalidade. “Elke e Serguei são figuras históricas que devem ser eternizadas por gerações. A ideia de tê-los no filme foi uma homenagem para que os jovens que não os conhecem descubram quem são: pessoas de espírito livre, livres de preconceito, que têm muito a ver com o próprio conceito do longa. Por menor que seja a atuação deles, fizeram toda a diferença e trouxeram um alto astral para o set”, observa a diretora.
A narrativa de “Lua em Sagitário” caminha para uma dicotomia entre um filme leve e divertido e outro profundo e complexo, que leva o espectador a pensar sobre a liberdade da juventude, as diferenças entre o campo e a cidade, e principalmente sobre os preconceitos, consequência da luta de classes no Brasil. A concepção dos personagens do filme também surpreende ao quebrar estereótipos. Marcia, que tem uma cinematografia construída por documentários, parece buscar claramente o teor de verdade também em sua primeira ficção.
“O filme é uma viagem, uma história real de transformação. Expõe diferenças, desde as divisões socioeconômicas, ando por conflitos geracionais, até a oposição entre o racionalismo e o gosto por astrologia dos protagonistas”, conta a diretora, também responsável pelo roteiro do filme, junto de Will Martins.
“Lua em Sagitário” foi o primeiro projeto audiovisual de Santa Catarina a ganhar o prêmio Ibermedia, programa de estímulo à produção de filmes ibero-americanos que teve apoio da Ancine (Agência Nacional do Cinema) através do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). O longa-metragem foi produzido com um orçamento total de R$ 1,2 milhão e uma equipe técnica de 26 profissionais, além do elenco.
LUA EM SAGITÁRIO – TRAILER OFICIAL CINEMA from Plural Filmes on Vimeo.