Entrevista: Osvaldo Gonçalves (Dico) 3g2gn

Campeoníssimo de concursos de fantasia de luxo, ele participou ativamente da história do Carnaval da Ilha por mais de 60 anos 2x3t4u

Foto: Casa da Memória/FCFFC/Divulgação/NDFoto: Casa da Memória/FCFFC/Divulgação/ND

Osvaldo Gonçalves, o Dico, colaborou ativamente para a formatação do Carnaval de Florianópolis como o conhecemos hoje. Montou carros alegóricos, confeccionou fantasias, decorou salões, desfilou nas ruas e nos clubes. Funcionário público aposentado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), aos 80 anos (completados no último 12 de novembro), mantém na memória afiada a vivência na folia de Momo. Sua fama veio com a coleção de títulos nos concursos de fantasia de luxo, inclusive o de hors-concours. Morando na subida do Morro do Céu, ele não guarda nem um paetê. Os trajes foram doados e as fotos e os troféus estão no acervo cultural do Clube Doze de Agosto.

Por onde iniciou a tua ligação com o Carnaval?

Eu era guri, de nove anos. Então, o pai chegava em casa dizia assim: “ah que carro (alegórico) bonito”. Fiquei curioso para ver aquilo. Peguei a chave de fenda e fui lá para o Granadeiros da Ilha, na frente do Instituto (Estadual de Educação), fui ver como é que fazia. Aí comecei ali. Fui para o Morro do Céu e comecei a fazer os carrinhos de Carnaval que saíam sempre no Zé Pereira, puxados numa Pick-up, na praça 15.

Trabalhaste também com a Tenentes do Diabo?

Tenentes do Diabo na frente do (restaurante) Lindacap. A gente vinha lá do Lindacap. O ponto de partida era no hotel Lux, perto do Ponto Chic. Depois, nós desfilávamos em frente à Catedral, aqueles carros belíssimos do seu Davi Gevaerd, e depois, então, na Prefeitura (Câmara) e na praça Fernando Machado. Naquela época, não tinha essas facilidades que têm hoje. Era grude com polvilho. Aquele polvilho que minha mãe fazia broinha. Aí fazia aqueles grudes e botava em lata por causa das baratas. Pegava pincel, ava no celofane cortado em pedaços e ia drapeando. Não posso provar: fui eu quem trouxe a cola quente para Florianópolis. Fomos no Salgueiro. Trouxe várias.

Foto: Marcos Cardoso/NDFoto: Marcos Cardoso/ND

Já em tempos mais recentes, montaste destes carros maiores?

O carro do Celso Pamplona (enredo da Os Protegidos da Princesa em 1985) quem fez fui eu, no barracão da Protegidos, perto do cemitério. Comecei a fazer a barriga do Celso com uma roda grande. Compraram um monte de tecido, aí revesti todo de fazenda branca. Montei o Celso em cima de almofadas lindas. Atrás, eu inventei de fazer o cabelo desfiado com corda branca.

Está tudo diferente, não?

Acabou-se o Zé Pereira, acabou-se aquele hino maravilhoso (cantarolando)… Lembras no Clube Doze uma fantasia amarela que eu fiz? Eu fui na Polícia Militar e contratei três militares para tocar aquele hino, e eu com a fantasia amarela, que era o sol, de costas para o povo. Aí pararam o hino e tocaram o samba da Mocidade, porque eu só desfilava com samba. Fui desfilando e toda a comissão julgadora levantou e aplaudiu de pé.

Por que só com samba?

Tudo com samba. É mais gostoso (balançando os ombros), aquele mexe-mexe, dá mais energia, né?

Dico e Erotides Helena da Silva (Nega Tide, cidadã-samba de Florianópolis 1965-1970) homenageados no Clube Doze de Agosto na década de 1990. Foto: Casa da Memória/FCFFC/Divulgação/NDDico e Erotides Helena da Silva (Nega Tide, cidadã-samba de Florianópolis 1965-1970) homenageados no Clube Doze de Agosto na década de 1990. Foto: Casa da Memória/FCFFC/Divulgação/ND

O concurso de fantasias do Baile Municipal, criado nos anos de 1960, era muito disputado no Clube Doze de Agosto. Quem concorria naquele tempo?

Comecei cedo, mas eu não participava muito. Eu peguei aquela época quando o desfile era em cima (mezanino), no início. Depois o baile começou a crescer e foi para baixo. O Nezinho (Manoel Garbelotti, decorador do clube) foi o primeiro campeão. Aí vieram o Orlando Taboada (São Paulo), o Ney Souza (Curitiba), eu e depois o Duduco. Todos hors-concours.

És uma pessoa ponderada, tranquila, educada. Alguma vez saíste da linha por algum problema no Carnaval?

Em Criciúma. Eu desfilava no bloco Palmeirinhas. Estava o Edson (cabeleireiro), meu amigão, o Dilsinho, a turma toda. De repente, fui botar o esplendor do Edson… não dava certo. Aí descobri quem foi que fez aquilo, e toquei-lhe a mão na cara. “O que houve?” Eu disse: “não faz mais isso comigo”. Ele mudou a ferragem, aí não encaixava. A ciumeira que tinham de mim.

Como eram as fantasias mais antigas?

Não tinha ferragem, era um tipo de maiô, tudo preso nas costas. Pesava 30, 40 quilos por causa da pedras. Depois inventaram aquele carrinho. Eu ia para a turma do Rio ajudar a montar as fantasias e descobrir como faziam.

Foto: Marcos Cardoso/NDFoto: Marcos Cardoso/ND

Quanto tempo demorava para fazer uma fantasia?

Depende. Nove meses, um ano. E o prêmio não valia a pena.

Um desfile marcante.

Quando a minha mãe faleceu o Paulão (presidente Paulo Roberto Abreu), disse: “Dico, não precisa desfilar, que teu prêmio está garantido” (Dico já era hors-concours). Eu assim: “não, Paulão, não vamos misturar as coisas. Eu fiz tudo para a minha mãe. Então, deixa ela de lado e vamos desfilar”. Eu desfilei com a gaiola cheia de pombos e comecei a chorar. Mas minha mãe dizia para eu continuar desfilando. Bobagem minha estar chorando. A comissão julgadora me aplaudiu porque viu aquela minha emoção do momento.

Qual era o nome da fantasia?

 “Saudades”.

Dico com o que restou do acervo do Museu do Carnaval de Florianópolis, na época de sua última exposição – Foto: Arquivo Comcap/Divulgação/NDDico com o que restou do acervo do Museu do Carnaval de Florianópolis, na época de sua última exposição – Foto: Arquivo Comcap/Divulgação/ND

Também foste decorador de salões dos clubes.

O seu Manolo (proprietário de restaurante) pegou o baile do centenário do Doze (1972). Fiz a decoração. Levei oito dias. Aquelas colunas tudo com papel, arame. Decorei o LIC (Lagoa Iate Clube) no Réveillon e no Baile do Hawaii, era um caminhão de frutas, cinco bufês. Decorei o Lira (Tênis Clube) também.

E as escolas de samba?

Comecei na Os Protegidos da Princesa, depois Copa Lord e Unidos da Coloninha. Eu não gostava de abrir o Carnaval no primeiro carro. Gostava do segundo carro, no último carro. Desfilava na escola de samba porque aquelas pessoas que não podiam ir no Clube Doze de Agosto não iam ter oportunidade de me ver. Muita fantasia arrastei pelo Mercado Público.

O que achaste quando o desfile saiu da praça 15?

Carnaval para mim era em volta da praça. Depois quiseram imitar o Rio. Não gostei. Ficou diferente, porque lá (na arela) só vai quem tem dinheiro, fica longe aquela travessia e é perigoso.

Foto: Marcos Cardoso/NDFoto: Marcos Cardoso/ND

Onde estão as tuas fantasias, troféus, fotografias?

Tudo que é meu está no espaço cultural do Clube Doze, em Jurerê. Lá tem os troféus, as fotos, placas. As fantasias dei tudo. Um Carnaval que não tem museu, né? O acervo (do Museu do Carnaval) foi exposto em alguns lugares. Na antiga Câmara Municipal, eu que montei. Depois tive que desmanchar tudo, botar em saco e foi para o lixão do Itacorubi. Outra coisa: esqueceram do nosso amigo Armandinho Gonzaga (fundador da escola de samba Embaixada Copa Lord). Nego fantástico, merecia um enredo. E a Geninha (da extinta Império do Samba)? Nega maravilhosa.

Houve algo no Carnaval que não fizeste e gostarias de ter feito?

Fiz tudo.

O que o Carnaval poderia fazer por ti?

Por mim, nada (risos). O Carnaval foi muito bom para mim.

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