Um documento que relata infância de Jesus Cristo foi descoberto após ar despercebido por mais de mil anos pela Biblioteca Estadual e Universitária Carl von Ossietzky de Hamburgo, situada no Norte da Alemanha.

O documento, que é uma espécie de papiro — como eram conhecidas as folhas produzidas no Egito Antigo utilizadas na escrita —, foi decifrado por uma equipe de pesquisadores da universidade, entre eles um brasileiro.
O papel tem cerca de 1,6 mil anos e ninguém esperava o quão importante o documento poderia ser, pois era considerado uma nota antiga e privada. Ou seja, poderia ser alguma carta ou até uma lista de itens domésticos.
No entanto, os papirologistas Lajos Berkes, do Instituto de Cristianismo e Antiguidade da Humboldt-Universität, e o brasileiro Gabriel Nocchi Macedo, da Universidade de Liège, conseguiram identificar o texto como a cópia mais antiga do evangelho apócrifo de Tomé, que contem o detalhe da infância de Jesus.
O que são livros apócrifos? 2c3c2b
Para quem não sabe, os textos apócrifos são relatos do ministério de Jesus Cristo na Terra, mas não são reconhecidas pelas religiões cristãs, pois os estudiosos consideram que tais textos de “autoria duvidosa” e não foram criadas segundo a inspiração do Espírito Santo.

Atualmente sabe-se que existem centenas de livros apócrifos rejeitados pelos religiosos e, por isso, não podem ser encontrados na Bíblia Sagrada. Os mais conhecidos são o Evangelho de Maria, o Evangelho de Tomé e Atos de Pedro, por serem de autoria duvidosa.
O texto encontrado pelos papirologistas foram publicados pela revista Zeitschrift für Papyrologie und Epigraphik e, apesar de não estarem presentes na Bíblia Sagrada, o papiro traz mensagens compartilhadas pelos fiéis na Antiguidade e na Idade Média.
Manuscrito conta milagre realizado durante a infância de Jesus Cristo 111s3k

O texto conta um milagre realizado ainda na infância de Jesus Cristo. Conforme o papiro, ele brincava à beira de um riacho com o barro, a partir disso ele criou 12 pardais com o mesmo material.
Quando José o encontrou naquela situação, brigou com o menino e perguntou a motivação de ele estar fazendo aquilo em um sábado. Então Jesus, com cinco anos bateu palmas e os pardais de barro criaram vida e voaram.
José havia brigado com Jesus, pois a lei judaica ordenava que não se podia fazer qualquer exercício no sábado, por ser considerado um dia santo, como consta no segundo o mandamento em que ordena que o sábado deve ser guardado para descanso, como diz o versículo abaixo.
“Lembre-se de guardar o sábado, fazendo dele um dia santo. Você tem seis dias na semana para fazer os trabalhos habituais, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, seu Deus. Nesse dia, ninguém em sua casa fará trabalho algum: nem você, nem seus filhos e filhas, nem seus servos e servas, nem seus animais, nem os estrangeiros que vivem entre vocês.”
— Êxodo 20:8-10
Se o evangelho de Tomé fosse declarado de autoria legítima o primeiro milagre de Jesus Cristo seria alterado, pois a Bíblia conta que Ele realizou seu primeiro ao transformar a água em vinho, em uma festa de casamento, presente no livro de João, no segundo capítulo, do versículo um ao onze.
Evangelho que conta a infância de Jesus foi escrito em grego 2y2rt
O professor brasileiro explica que a descoberta aponta que a teoria de que Tomé havia escrito seu evangelho originalmente em grego. No entanto, o papiro decifrado seria uma cópia do original, devido à caligrafia desajeitada.
A descoberta é considerada significativa e remota aos primórdios do Cristianismo.
“Por outro lado, porque conseguimos datá-lo do século IV ao V, tornando-o o exemplar mais antigo conhecido. Por outro lado, porque pudemos obter novos insights sobre a transmissão do texto”, contou Berkes.
Quem é o pesquisador brasileiro que descobriu o texto da infância de Jesus? 1r3i6q

Gabriel Nocchi Macedo, nasceu no Rio Grande do Sul, em uma família de origem italiana, portuguesa, sa e basca. Desde muito cedo era apaixonado por línguas e livros e sonhava com uma vida dedicada ao estudo desses mundos do ado descritos em mitos e contos de fadas.
Formado em línguas e literaturas antigas, orientação clássica na ULiège, continuou sua formação em filologia clássica, papirologia e paleografia em Roma e Heidelberg.
Sua investigação centra-se na papirologia literária grega e latina, na história dos textos e dos livros, na materialidade da escrita e na recepção da poesia grega e latina na Antiguidade.