Cristina Maria da Silveira Piazza cresceu usando fantasias feitas pela mãe nos bailes infantis de Carnaval do Clube Doze de Agosto e do Lira Tênis Clube, em Florianópolis. “Ia a todos, e pena que só tinham esses dois…”, lamenta.
Já formada em arquitetura e urbanismo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), ela contou com este conhecimento para elaborar trajes de alas de escolas de samba e os seus próprios, com os quais desfilou como destaque na avenida e concorreu nos clubes sociais da região.
Nos dois modos, em todas as vezes e somente com fantasias feitas por ela mesma, sempre foi vencedora. “Eu sempre desfilei na categoria luxo. Por quê? Gosto de brilho! (risadas)”.

Seu talento também chegou à decoração de rua no Carnaval de 1988, quando criou o “Salão Tropical” para o Largo da Catedral, a “Quadra de Samba” para a praça Fernando Machado e “Fonte dos Desejos” para o Mercado Público e a esquina do bar Roma, na avenida Hercílio Luz.
Foi uma participação intensa nas festas de Momo, que só parou por conta do enfraquecimento gradativo dos concursos de fantasias desta natureza. O brilho está guardado no baú, registrado nas fotografias e na memória, e seus troféus é que ocupam hoje lugar de destaque – e honra.
Qual a tua lembrança mais remota do Carnaval?
Sempre gostei. Me lembro de um episódio com uma fantasia do Dico [Osvaldo Gonçalves]. Certa vez, ele pediu para os meus pais guardarem uma fantasia em casa. Foi o máximo!!! Na época, eu tinha sete anos, aproximadamente. A fantasia tinha um manto de cerca de cinco metros de comprimento, e era em veludo e com boás em todo o seu contorno. Adivinha o que fiz… fiquei quase o dia todo na sala (onde o manto foi guardado), desfilando com ele.
Quem fazia as tuas fantasias quando eras pequena?
Minha avó materna, Tide, era costureira/modista e minha mãe, Lourdes, também sempre costurou muito bem. Quem fazia era a minha mãe. Lembro de duas fantasias: uma de grega e outra de havaiana.


Quando entravas no salão repleto de pessoas fantasiadas, que sensação tinhas?
Eu me imaginava dentro delas e em quais eu me via vestindo ou não.
Quando começaste a confeccionar fantasias?
No final de 1985. Comecei com uma fantasia, “Luxúria”. Com ela, participei pela primeira vez do concurso de fantasias de luxo no Baile Municipal de Florianópolis, no Clube Doze de Agosto. Depois, adentrei de vez na seara das fantasias de luxo e como destaque das escolas de samba, onde era carnavalesca: Coloninha, Consulado, Copa Lord. Foram muitos prêmios e, por todas as vezes, campeã, tanto individual como pelas escolas.

Em que o curso de arquitetura te ajudou na confecção das fantasias?
A arquitetura foi fundamental para me inspirar e definir formas, equilíbrio, contrastes, conjunto.
Em quais clubes concorrias?
Clube Doze de Agosto, em Florianópolis; Clube Recreativo 1° de Junho, em São José; Clube Recreativo Sete de Setembro, em Palhoça.
Quanto tempo em média para fazer e até quantos quilos pesava uma fantasia?
Em geral, demoravam para ser confeccionadas de dois a três meses. E pesavam de 25 a 35 quilos.

Que materiais usavas? No que te inspiravas?
A inspiração vinha do enredo da escola de samba. Como material, usava paetês, cristais, strass, plumas.
Qual foi a melhor época dos concursos de fantasia?
A que participei. Vinham concorrentes de outros Estados e entre todos havia uma confraternização bastante grande.
Quem eram os grandes carnavalescos que competiam contigo?
Equipe do Clóvis Bornay.

Quem foi o maior carnavalesco de fantasias de Florianópolis?
O maior, pelo exemplo que deu, foi o querido Dico. Teve o Ney Braga. Depois, mais recentemente, o Sidney Nocetti. Três queridos.
Como eram os encontros dos foliões na praça 15 de Novembro, no fim do Carnaval?
Sensacionais. Lembrei que, desde pequena, os meus pais iam me buscar às 6h da manhã em casa, para acompanhar o encontro. Esse era um momento muito especial.
Tens uma linha de semijoias. Há uma aura das fantasias nelas?
Sim, além do CMSP Studio, meu escritório de arquitetura, tenho a Arquitetura de Joias, onde trabalho com ouro, prata, platina e pedras naturais. Tudo vem do desejo de criar peças especiais e únicas, balizadas pela proporção e geometria da seção áurea. O que de certa forma acontecia na criação das fantasias das escolas de samba, como carnavalesca.
