Em junho de 2020, enquanto o coronavírus avançava pelo planeta, Hilda Siqueira começou a pintar para desviar a atenção da pandemia da Covid-19.
Nem imaginava que iniciava ali, autodidática, despretensiosa e tardiamente, em sua casa no bairro Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, um novo ofício.

Após 30 anos dedicados ao ateliê de costura, sem artistas na família, nem ter estudado arte, surpreendeu-se com a rapidez do alcance de sua obra – espalhada pelo Brasil e, logo, na Itália.
Em seis meses vendeu sua primeira tela. Seguidamente, foi convidada a participar da Expo Arte SP – Feira de Artistas Independentes e no local onde esteve diversas vezes como turista: o Carrousel du Louvre, em Paris.
Ela integra o elenco de artistas brasileiros que apresentarão na capital sa, de 21 a 23 outubro, trabalhos no Salão Internacional de Arte Contemporânea, sob curadoria de Lisandra Miguel, do Rio de Janeiro.

O que fez despertar a atividade artística quando o mundo todo se voltava para a pandemia?
Foi uma busca por um mundo novo, sem qualquer pretensão de encontrar nada além de um lugar melhor para eu estar naquele momento. Como sempre gostei das coisas ligadas a estética, imagem, a pintura foi surgindo com certa naturalidade, à medida que fui me dedicando ao processo. Acredito que sempre esteve dentro de mim, em algum lugar.
Já havia interesse pelas artes, lias a respeito, visitavas galerias e museus antes de te arriscares a pintar de maneira autodidata?
Comecei a pintar em plena pandemia, apenas com a ideia de tirar o foco da doença. Acabei me apaixonando pela arte. Já estive em algumas galerias e museus, sempre mais com o olhar de turista do que um interesse pela arte em si. Isso realmente começou a despertar depois que comecei a pintar.
Chegaste a fazer algum curso ou oficina de desenho ou pintura para aperfeiçoar o trabalho?
Antes de começar a pintar nunca havia feito qualquer curso ou aula sobre arte. Apenas depois, para aperfeiçoamento e conhecimento de novas técnicas.

Em dois anos obtiveste reconhecimento que muitos artistas demoram bem mais a conquistar – quando conseguem. Surpresa?
Quando comecei, nunca foi com pretensão de expor, vender ou ser reconhecida. Foi uma grande surpresa para mim. Seis meses depois, fiz a minha primeira venda e, em 10 meses, o convite para Paris. Confesso que até hoje é difícil acreditar que as coisas estavam acontecendo de forma tão rápida. Esse foi um dos grandes incentivadores para que eu encarasse isso como profissão, e não só distração, como eu estava procurando naquele momento.
Que técnicas usas em teus trabalhos?
A minha técnica predominante é o acrílico sobre tela e texturas acrílicas. Meu trabalho é a pintura abstrata, com nuances e aspecto envelhecido. Gosto de seguir uma combinação de cores de acordo com o meu senso estético.
Porque a atração pelo abstrato?
A atração pelo abstrato é fato de a obra me permitir uma criação livre, a partir de uma tela em branco, e que possibilita a cada pessoa enxergar o resultado da sua maneira. Sem qualquer limite à imaginação. Chego na frente da tela com a mente vazia e vou preenchendo de acordo com o que vai surgindo.

Como foi a experiência na Expo Arte SP – Feira de Artistas Independentes?
No ano ado recebi o convite para participar da exposição. Após isso, eles me procuraram novamente para que eu retornasse à galeria com meu trabalho. A experiência de expor em um lugar especializado em arte é realmente fantástica, pois as pessoas vão com o objetivo de apreciar. Além de permitir conhecer outros artistas, técnicas e divulgar meu trabalho.
E o convite para Paris?
Surgiu em abril de 2021, por meio da assessoria Vivemos Arte, especializada em levar artistas para outros países, nesse tipo de exposição. Eles chegaram ao meu trabalho pela minha rede social, e estreitamos a relação. Vou expor duas obras. Jamais imagine estar no Louvre como uma artista, expondo minha arte sob o mesmo teto que obras tão importantes, como a “Mona Lisa”.

Em maio deste ano, um homem jogou uma torta na “Mona Lisa”. Qual a leitura que fazes ao ver a arte sendo agredida desta maneira?
Acredito que esse tipo de manifestação tem lugar mais apropriado para ser feito. Nada justifica a vandalização de uma obra ou do trabalho de qualquer pessoa com o objetivo de manifestar uma opinião individual ou de um grupo.