BRUNO MOLINERO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma das últimas palestras deste sábado (3) na Bienal do Livro de São Paulo, o escritor e colunista da Folha de S.Paulo Ruy Castro voltou a falar sobre a liberação das biografias não autorizadas pelo STF em 2015.
“O Brasil finalmente se igualou aos países civilizados”, disse. Sobre o baixo número de livros desse gênero publicados após a decisão, o colunista declarou que isso é natural. “Biografia leva mais tempo para ser escrita. Pelo menos dois anos. A primeira fornada de livros que se beneficiaram da decisão deve estar para chegar”, comentou.

Ruy Castro estava acompanhado de sua mulher, Heloisa Seixas, na palestra. Em pouco mais de uma hora de conversa, os dois relembraram as tardes de autógrafos promovidas pela Editora do Autor, empreendimento de Rubem Braga e Fernando Sabino nos anos 1960, e o evento de lançamento do livro “O Ato e o Fato”, de 1964, do também colunista da Folha de S.Paulo Carlos Heitor Cony.
“O evento do Cony juntou mais de 2.000 pessoas e ficou conhecido como o primeiro grande ato contra o regime militar”, disse Ruy Castro.
Para ilustrar como o livro pode mudar a vida do leitor, o jornalista relembrou o sequestro do publicitário Geraldo Alonso, em 1992, que leu “O Anjo Pornográfico” no cativeiro -biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro. “Ele leu cinco vezes. Depois, pediu papel e lápis para os sequestradores e desenhou uma árvore, em que cada galho tinha o nome de um membro da família de Nelson Rodrigues”, disse.
Nesses galhos, Alonso teria escrito a tragédia pela qual cada membro da família teria ado, como uma maneira de superar a própria tragédia que vivia. “O livro tem essa coisa mágica. É preciso ter em mente que ele pode mudar fundamentalmente a vida do leitor.”
Ou, muitas vezes, é própria vida que motiva uma nova história. “Tinha sido convidada para participar de um evento em Belo Horizonte. Quando chegamos ao hotel, a rua estava cheia de carros de polícia, porque uma menina tinha se jogado de um dos quartos e morrido. Na recepção, o funcionário só me disse: ‘Ela se chamava Dóris’. Eu fiquei arrasada, não consegui tirar aquilo da cabeça. E escrevi um conto de terror com esse nome”.
A mesa terminou por volta das 21h15, horário em que menos pessoas circulavam pela Bienal. Mesmo assim, a palestra chegou a ser interrompida por gritarias de adolescentes. “Há uma coisa de saudável nessa molecada que faz bagunça. Isso é leitura também”, disse Seixas.