Negra e crespa com muito orgulho! Estudante de designer de moda, estilista e empreendedora, que lançou em Florianópolis a grife Gata Crioulla. Começou de forma tímida, mas sua marca nasceu cheia de força e estilo. Sempre pesquisando e se aprimorando no universo dos turbantes, ela mergulha cada vez mais fundo na pesquisa e moda afro. “O que usamos fala por nós antes mesmo de abrirmos a boca, tento traduzir essa fala de várias maneiras, trabalho com muitas tranças,tramas, nós, laços, representando a luta, a garra, a força, a união e muitas cores representando a alegria que não perdemos a leveza, a sutileza e a delicadeza de ser mulher”, afirma Mercê.

A inspiração como bandeira
Durante o meu processo de transição capilar que foi muito difícil, como para a maioria das mulheres negras, pois temos que lidar com uma carga emocional muito grande (não é só cabelo) eu conversei com mulheres pelo mundo inteiro, principalmente do continente africano e delas brotaram as primeiras inspirações. Sim, minhas inspirações vêm de mulheres anônimas para mídia em geral, mas verdadeiras heroínas do dia a dia, mulheres com vidas comuns, mas com histórias extraordinárias, que não deixam a peteca cair e são referência no meio em que vivem.
Busca pelo espaço na moda
Venho buscando meu espaço na moda com bastante serenidade, aprendo todos os dias com profissionais que já estão há algum tempo nesse mercado e têm muito a ensinar. Eu reconheço que tenho muito chão pela frente, mas posso afirmar que venho com muito gás, com muita força de vontade, para aprender, conquistar o meu espaço e sem perder essa essência, da moda inclusiva, sustentável e cheia de negritude. Essa busca é o que me move!
O diferencial na criação Ousadia e inovação. Cheguei com uma proposta bem diferente ao que o mercado de Floripa está acostumado, trabalho com órios afro-brasileiros feitos com tecidos e inspirados na beleza negra. Eu quero mostrar a força, abeleza, a alegria desse universo afro, que é muito rico e muito lindo, com a proposta de que a moda afro também é para todos, independentemente de cor de pele, que pode e deve ser usada pelos mais diferentes biotipos de mulheres, porque são órios cheio de personalidade, estilo, muito conforto e preocupação com a sustentabilidade, do início ao fim.
Investimento no estilo
A marca nasceu com o meu empoderamento como mulher negra, juntamente com minha transição capilar. Eu costumo dizer que eu não nasci negra, nasci com a pele escura sim, mas minha negritude veio bem depois, na vida adulta, pois negritude vai muito além da cor da pele. Com os novos cabelos nasceu uma nova mulher, com um novo olhar, novos anseios, outras vontades, com um mar de possibilidades. Tudo mudou de dentro para fora e com essa mudança veio a vontade de me sentir representada, com um estilo que falasse muito de mim.
O projeto
A Gata Crioulla é minha grife de órios onde crio e produzo todos os órios artesanalmente, resgatando aquele ar de alfaiataria que infelizmente foi se perdendo no tempo e sendo esquecido em meio a tanta tecnologia, aposto na qualidade e exclusividade desde a hora do atendimento, trabalhando com agendamento, o que me possibilita receber cada um com dedicação, tranquilidade, me encaixando em agendas e horários de clientes.
A negritude
Dentro da Gata Crioulla tenho o projeto Gatas Urbanas, em que a proposta é despertar curiosidade, instigar reflexões, chamar atenção para algo que é destrutivo – o racismo, o preconceito, a discriminação -, e para algo que é de suma importância – o empoderamento, mostrar que a ‘era tombamento’ não é brincadeira, não é futilidade é uma necessidade, precisamos de mais e mais representatividade. Convido mulheres que se amam na íntegra, queque ostentam sua negritude no dia a dia e sabem da importância, do poder da inspiração além da estética, pois estão dentro de universidades, cursos tecnólogos ou em profissões onde somos minoria, as convido para serem fotografadas em lugares que ainda nos dizem não serem nossos, com a camiseta do projeto que leva a seguinte frase: Respeite é melanina Pura! O apoio na luta por respeito No começo fazia tudo sozinha, hoje tenho uma equipe de mulheres que abraçaram o projeto com todo amor que ele merece, sem cobrar um centavo para contribuir com o crescimento dele; a fotógrafa Anna Derico, a maquiadora Isadora Souza e para auxiliar com os cabelos Cleusa Andrade. Esse projeto é inexplicável para mim, leva minha alma.
RAIO-X MERCÊ SOUZA NASCEU EM PORTO ALEGRE, SIGNO DE CÂNCER, VIVE EM FLORIANÓPOLIS HÁ 16 ANOS, CASADA COM EDINHO LEMOS, MÃE DE ISMAEL E MIGUEL