Em apenas 50 dias de gestão, o governo de Javier Milei na Argentina implementou uma série de mudanças que transformaram significativamente a vida da população, levando a protestos e greves. Enquanto o país se prepara para avaliar um importante Decreto Nacional de Urgência (DNU) no Congresso nesta terça-feira (30), o cenário gera preocupações para argentinos e brasileiros como Jackie, catarinense que estuda Medicina na Universidade de Buenos Aires.

Mudanças do governo de Milei d1o4l
O estudante afirma que o custo de vida aumentou bastante no país no último mês. Jackie pontua que a mudança mais notável do governo de Milei foi o corte abrupto dos subsídios, que levou a um aumento significativo nos preços dos produtos básicos de consumo, como comida e produtos de higiene pessoal. “Eu viajei para o Brasil, fiquei 15 dias, e quando voltei os preços dobraram”.
Como exemplo, o catarinense contou que quatro rolos de papel higiênico estão custando entre R$ 10 e R$ 22; a pasta dental mais barata R$ 9 e o quilo de arroz não sai por menos de R$ 12.

O economista Daniel Corrêa explica que a decisão de eliminar todos os subsídios de forma drástica causou um aumento vertiginoso nos preços. “Ao invés de começar aos pouquinhos e tentar ir ajustando, ele largou todos os subsídios de uma vez só, por isso os preços tiveram essa disparada”, explicou.
Jackie afirma que isso afetou o comportamento de consumo das pessoas que moram na Argentina, que almoçam menos em restaurantes e evitam comprar determinados alimentos: “O custo do dia a dia ficou tão elevado, que não sobra dinheiro para lazer, o consumo de carnes nobres, que era uma coisa cotidiana para os argentinos, está impraticável”.

Impacto nos Aluguéis 49342
Outra mudança que afetou diretamente a vida na Argentina foi a revogação de regulamentações relacionadas aos aluguéis, afirmou Jackie. Antes, os aluguéis tinham ajustes anuais, duração mínima de seis meses e pagamento em moeda nacional. Quando assumiu, o governo de Milei rapidamente eliminou essas restrições. “Agora, se os proprietários quiserem aumentar mês a mês o aluguel, eles podem”, afirmou Jackie.
O economista também explicou que a expectativa de retornos maiores no futuro pode estar diminuindo a oferta de aluguéis e aumentando os preços: “Algumas pessoas estão apostando numa desvalorização do peso e estão esperando para alugar os imóveis mais tarde, e isso deixa os aluguéis mais caros”.
Jackie disse temer o aumento do seu aluguel: “Aqui no meu prédio, quase todos os estrangeiros se mudaram por causa do aumento abusivo no valor. As pessoas estão tendo que morar em bairros mais afastados. O meu contrato termina em março e já estou me preparando”.
O estudante também critica a medida, que não resolve o grande problema de sonegação de imposto que acontece no país. “Grande parte dos locadores só aceitam aluguel em dinheiro. Milei fala de diminuir o déficit fiscal, só que não cria nenhum mecanismo para que sejam pagos os impostos desses aluguéis”, disse Jackie.

Taxação para Estudantes Estrangeiros 224w2n
Uma das medidas propostas pelo governo de Milei, que faz parte do DNU e deverá ser analisada pelo Congresso Nacional nesta terça-feira, é a cobrança de mensalidades para estudantes estrangeiros em universidades argentinas. Essa é a medida que mais tem apoio popular, afirmou o catarinense. “Muitos argentinos têm medo de que os estrangeiros roubem as oportunidades deles”, disse o estudante.
Vale ressaltar que a Argentina tem um ensino superior diferente do Brasil. Além de ser majoritariamente pública e gratuita, a universidade é massificada e não necessita de vestibular. Isso faz com que muitos estrangeiros busquem o país pela facilidade de o ao ensino superior.
O economista coincide que a medida não deve encontrar muita resistência, mas levanta preocupações sobre sua legalidade, já que a Constituição argentina prega que as universidades são independentes do governo e têm total autonomia para decidir as políticas dentro da instituição.
“Milei está tentando criar uma base legal para essa cobrança. Mas ela pode se chocar com a Constituição. Se for aprovada, provavelmente as Universidades tenham autonomia para implementar a taxa e também estipular o valor”, afirma Corrêa.

Panorama Geral e Recomendações 12d1l
Diante desse cenário de mudanças, Jackie aconselha cautela aos estrangeiros que planejam estudar ou trabalhar na Argentina. “Para quem deseja vir estudar, vale a pena se considerar os custos da universidade de Medicina no Brasil. Porém, quem deseja vir trabalhar para se manter, vão ar por um período de dificuldades. Viver com um salário mínimo argentino está insustentável”.
O economista reforça que não é um bom momento para visitar o país sul-americano. “Como a inflação segue alta e o poder de compra do brasileiro não é extraordinário, o turismo na Argentina não está tão ível, mesmo com a moeda tão desvalorizada. Não vai ser mais barato que viajar para Chile ou Uruguai, como chegou a ser ano ado”.