Um plano ousado e que pretende inovar e revitalizar um dos principais bairros da cidade: o Estreito, na área continental de Florianópolis. Esse é o projeto “Estreitar: distrito alternativo”, liderado pela Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis). O planejamento é trabalhar em quatro eixos: governança e políticas públicas; o ambiente natural construído; a economia criativa e o empreendedorismo; e a identidade e os recursos culturais.

Segundo Marcus José Rocha, coordenador do Estreitar, um entusiasta do ecossistema de inovação, a ideia surgiu após observar da janela do escritório de sua empresa, em um prédio localizado no bairro, e se viu incomodado com o abandono de alguns imóveis da região.
“Vim empreender no Estreito, e por acaso a sala fica no sétimo andar e isso me incomodou um pouco, quando olhava para o mar e via Baía Norte e começava olhar para baixo e via que o bairro está feito. Vi que o bairro está precisando de mais vida”, contou.
Não deu outra, Rocha iniciou contato com empresários do bairro e percebeu uma baixa estima dos comerciantes. Para o coordenador, sempre faltou ao Estreito um movimento organizado de investimento, já que o local convive com altos e baixos de desenvolvimento e ocupação, como por exemplo, a inauguração da Beira-Mar Continental e a reabertura da Ponte Hercílio Luz.

Rocha buscou apoio da professora Clarissa Stefani Teixeira, do Departamento de Engenharia do Conhecimento (EGC) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), líder do Grupo VIA Estação Conhecimento com foco em habitats de inovação e empreendedorismo, que embarcou na ideia.
Inspiração vinda de Barcelona 43635j
O projeto Estreitar é inspirado na região denominada 22@Barcelona, localizada na Espanha, onde antigas fábricas têxteis deram lugar a centros de inovação, com incubadoras, e muitas empresas que desenvolvem a economia do conhecimento, por meio de um planejamento urbanístico e de infraestrutura pública e, graças a isso, a iniciativa privada começou a investir.
Foram investidos 200 milhões de euros na infraestrutura e foram mobilizados 2,5 bilhões de euros em investimentos privados. São mais de 1,5 mil empresas que não existiam antes e mais de 44,6 mil trabalhadores, 61,7% com títulos acadêmicos.
“A inspiração do projeto é o bairro Barcelona 22@ que ou por um movimento muito parecido ao que a gente deseja. Era uma área muito pior, era de frente para o mar, uma área industrial antiga. Fábricas têxteis caindo aos pedaços, inclusive com um processo de favelização, coisa que não temos aqui. Hoje o 22@ é uma referência mundial, uma área de economia criativa”, disse o coordenador.
Rocha conversou diretamente com o professor Josep Miquel Piqué, que foi responsável pela iniciativa na cidade espanhola. “Ele esteve muitas vezes em Florianópolis, desenvolveu junto com a UFSC, a política de inovação no Estado, e compartilhou conosco a metodologia de Barcelona”, revelou Rocha.
Com a inspiração e a metodologia dos espanhóis, ele conversou com algumas lideranças do setor imobiliário, com CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas), ACIF, e a Floripa Amanhã, e alcançou o apoio desejado. “A própria ACIF se comprometeu em liderar o projeto”, lembrou.

De acordo com Rocha, foi feito um levantamento junto aos empresários e se identificou mais de 150 problemas no bairro. Segundo ele, um dos pontos mais destacados foi que o ambiente construído não está digno da localidade e precisa de investimento imobiliário para melhorar o aspecto.
“O bairro não é bonito em termos construídos, apesar de ter um ambiente natural maravilhoso. A infraestrutura precisa melhorar, com um pouco de investimento público, mas ele só irá se viabilizar se resolver a paisagem construída do local”, explicou.
Para Marcus Rocha, outro ponto do projeto é resgatar a autoestima e identidade do morador do bairro. “Conversei com alguns moradores mais antigos e eles se acham periferia de Florianópolis”, contou. Uma das iniciativas é revitalizar praças, como ocorreu com a Nossa Senhora de Fátima, uma ação do projeto Boa Praça da empresa WKoerich.

Outra ideia é incentivar as chamadas ocupações mistas, ou seja, as pessoas moram e trabalham no bairro. O Estreito é um local emissor de pessoas para outras regiões da cidade.
O coordenador alertou que o objetivo é estimular o o à residência para todas as classes sociais e não apenas para classe alta. “Ter residência para todo mundo, para não ter o fenômeno de gentrificação, no qual o morador mais simples é expulso para periferia”, afirmou.
Rocha disse que o projeto quer aumentar a densidade do bairro com empreendimentos imobiliários mistos, como por exemplo, prédios que embaixo seja comércio e na parte de cima residência, ou então uma torre de comércio e outra com residência. “Desde que respeite o distanciamento para o mar, cresça mais para dentro do bairro e não crie um paredão de frente para o mar”, observou.
No eixo de identidade e recursos culturais, o objetivo é levar cultura para o bairro, resgatar tradições com as feirinhas, além de incentivar pequenos eventos na localidade, para integrar a comunidade com os comerciantes locais.
O Estreitar contempla ainda o Balneário e o Canto. “O Canto tem a vocação natural para ações de esporte e cultura. Tem um ginásio que está praticamente abandonado. Quem sabe fazer um complexo esportivo.
Liderança da Acif 2f102i
O presidente da Acif, Rodrigo Rossoni , é um entusiasta do projeto e garantiu o apoio da entidade na iniciativa. “A Acif abraça o projeto Estreitar com muita alegria. Junto com todos os atores da sociedade civil organizada, que serão convidados, e que já estão participando, nós iremos dar a governança, transparência, e também subsidiar recursos para que ele possa se desenvolver no curto, médio e longo prazo”, disse.
Para Rossoni, com a liderança da Acif, se poderá atrair novos participantes e fazer o “Estreito pulsar e prosperar, se tornando referência para outros bairros da cidade”.