Escassez geral de insumos para a produção agrícola e aumento do preço dos alimentos para o consumidor final em Santa Catarina e no Brasil. Essas são consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia de acordo com avaliação da FAESC (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina).

O conflito perturba os mercados de cereais, fertilizantes e petróleo – commoditties que têm forte impacto no setor primário da economia. A Ucrânia é quarta exportadora de milho e produtora de trigo.
Com ela fora do mercado em razão do conflito haverá menos milho no mercado mundial. Esse grão é essencial para a nutrição animal e com sua escassez ficará mais caro ainda para transformá-lo em proteína animal. Os criadores de aves e suínos, e as indústrias de processamento da carne terão, portanto, forte aumento de custos.
O mercado do trigo também piora porque a Rússia é o maior produtor e exportador mundial. O Brasil consome 12 milhões de toneladas das quais importa 6 milhões, boa parte da Argentina, principal fornecedora. O país vizinho já registra grande procura e os preços estão em viés de alta.
A movimentação das máquinas e equipamentos agrícolas requer diesel, subproduto do petróleo, que teve a cotação do barril majorada de US$ 80 para US$ 120 nos últimos três meses. Outro fator perturbador é o transporte marítimo que registra aumento do frete e a falta de navios, como resultado do fechamento de portos e restrição da navegação no leste europeu.
O impacto desses movimentos continentais chega a Santa Catarina que necessita, anualmente, cerca de 500 mil toneladas de fertilizantes para preparar o plantio de 1,4 milhão de hectares de lavouras. As culturas que mais necessitam de fertilizantes são soja, arroz, trigo e milho, além de frutas e hortigranjeiros.
“A agricultura catarinense já está sofrendo os reflexos da guerra porque o comércio está globalizado e os efeitos serão sentidos em todas as regiões do planeta”, analisa o vice-presidente da FAESC, Enori Barbieri. Os custos de produção aumentarão e o preço dos alimentos inexoravelmente subirá, prejudicando os consumidores.
A escalada dos preços dos insumos – cada vez mais escassos no mundo – é avassaladora. A ureia aumentou 300% no ano ado. O fosfato aumentou 100%, de US$ 400 para US$ 800 a tonelada e o potássio encareceu 170% e ou de US$ 290 a US$ 780 a tonelada.
A ureia é feita de gás de petróleo. Rússia suspendeu a produção para abastecer a Europa com gás. Por outro lado, o cloreto de potássio de Belarus não está sendo exportado em razão da guerra, pois a Lituânia trancou o o dos produtos daquele país.
No Brasil, por enquanto, não faltam fertilizantes porque os produtores estavam com os estoques necessários, mas como ficará o segundo semestre é uma incógnita. Pode faltar principalmente o potássio. O Ministério da Agricultura negocia uréia com o Irã e a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, vai ao Canadá atrás de cloreto de potássio.
Os contratos de fornecimento da carne catarinense (aves e suínos) não foram suspensos pelos países da zona de litígio, mas há problemas em várias frentes. Milhares de toneladas de carne estão retidas nos armazéns das indústrias, em portos brasileiros ou em águas internacionais sem previsão sobre a entrega final dessas mercadorias.
Além da falta de navios, as rotas internacionais tornaram-se perigosas para a navegação. Além disso, o banimento da Rússia do sistema bancário internacional cria insegurança sobre o pagamento das vendas ao exterior.
Barbieri não tem dúvidas que os produtores rurais usarão menos fertilizantes na próxima safra, condição que se refletirá em menor produtividade.
Diante desse cenário, o presidente José Zeferino Pedrozo saúda como positivo o anúncio do Ministério da Agricultura sobre a criação do Plano Nacional de Fertilizantes. Lembra que produzir no Brasil é caro e pouco competitivo, por isso as agroindústrias concluíram que é mais barato importar. “Precisamos buscar a autossuficiência nessa área porque os fornecedores mundiais são poucos”, alertou o dirigente. O Brasil importa 25% dos fertilizantes russos, mas pode buscar outros fornecedores como China, Canadá, Israel, países africanos.

Os principais nutrientes aplicados no País são potássio 38%, cálcio 33%, nitrogênio 29%. A cultura da soja demanda mais de 40% dos fertilizantes aplicados. O Brasil importa 9 milhões de toneladas de insumos por ano e é o quarto consumidor mundial de fertilizantes, atrás de China, Índia e EUA.
O País é dependente das importações, porém tem todas as matérias-primas para produzir, como gás natural, rochas fosfáticas e potássicas, e micronutrientes. As reservas de potássio estão localizadas em Sergipe e no Amazonas. “O Plano Nacional de Fertilizantes precisa encontrar um caminho para as necessidades da agricultura brasileira”, prevê Pedrozo.
“Vai encarecer até o paõzinho” 2w253
Segundo o vice-presidente da Faesc, até o pãozinho de cada dia pode ficar mais caro. Ele analisou as consequências para os mercados de grãos e fertilizantes e como isso impacta diretamente o Brasil e o Estado.
O vice-presidente da Faesc destaca que a Rússia é o maior exportador mundial de trigo e o Brasil, o maior importador do grão. “Certamente, o preço do trigo vai subir no mundo inteiro. Com isso, o Brasil vai pagar mais caro e, consequentemente, o preço do pão vai subir”, prevê.
Para Barbieri, não há como desviar do conflito no leste europeu no que diz respeito aos custos de produção. “Vivemos num mundo de comércio globalizado. A prática de compra e venda vai ser interrompida por conta dessa guerra”, afirma.
Frete está mais caro 2n1q2a
Jorge Luiz de Lima, diretor geral do Sindicarne (Sindicato das Indústrias da Carne e Derivado no Estado de Santa Catarina), ressalta que o aumento do dólar e o encarecimento dos combustíveis fósseis – incluindo o barril de petróleo – afeta o setor de exportação e produção de proteína animal.
“Temos ficado bastante preocupados com a pressão no preço das commodities, principalmente o milho” diz Lima, que é também diretor geral da Acav (Associação Catarinense de Avicultura). Isso porque o grão é base da ração de animais, que por sua vez produzem a proteína animal.
“Esperamos que isso se encerre o mais rápido possível”, conclui.