Motorista de carro de boi e datilógrafo: quais eram as antigas profissões de Florianópolis 56416t

Livro “Indicador commercial, industrial e profissional” fala sobre profissões que faziam parte do cotidiano da Florianópolis da década de 1920, algumas já extintas 2021e

Florianópolis é orgânica, ágil e inovadora. Uma cidade cosmopolita que se transforma a cada dia. Assim como seus moradores, ela evolui e caminha em direção ao novo, sempre sem perder sua essência. Mas a proposta desta reportagem do projeto Floripa 350 é fazer uma viagem ao ado.

Há quase 100 anos, mergulhando na capital catarinense de 1928, quando “pharmacia” era escrita com ph, “commercial” com dois ms e “constructores” com c mudo. Nem faz tanto tempo assim, mas muita coisa era diferente, incluindo algumas profissões.

Em quase um século, muita coisa mudou em Florianópolis. Foto da década de 1960 mostra a chegada das novos avanços tecnológicos que movimentaram o mercado de trabalho na Capital – Foto: Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva/NDEm quase um século, muita coisa mudou em Florianópolis. Foto da década de 1960 mostra a chegada das novos avanços tecnológicos que movimentaram o mercado de trabalho na Capital – Foto: Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva/ND

Uma relíquia guardada com carinho pela curadora de cultura do projeto Floripa 350, professora Lélia Nunes, revela alguns relatos deste tempo. É o livro “Indicador Commercial, Industrial e Profissional do Município de Florianópolis”, organizado por José Rodrigues Fonseca. Datado em 1928, a obra é uma espécie de lista telefônica daquele tempo e cita os principais profissionais da cidade nos mais diversificados segmentos.

Nele é possível encontrar anúncios como o da Companhia Nacional de Navegação Costeira (Porto de Florianópolis) que dizia ser o mais “rapido” (sem acento) e completo serviço para os portos do Norte e Sul do “Paiz” (sim, com Z). Tinha “sahidas” (com h) tanto para ageiros quanto para cargas. Dá para imaginar quantos profissionais, das mais diversas áreas, atuavam por lá?

Anúncio da Companhia Nacional de Navegação Costeira na Florianópolis de antigamentePropaganda da Companhia Nacional de Navegação Costeira – Foto: Livro Indicador commercial, industrial e profissional – Windson Prado (5)

É claro que, com os aterros da Capital da década de 1970 e 1980, Florianópolis perdeu parte de sua essência náutica. E os profissionais que ali tinham seu sustento tiveram que investir em novos ofícios.

Profissões de Florianópolis de antigamente 5n243y

Voltando ao livro do século ado, outras operações da época chamam a atenção. É o caso das chapelarias – que eram específicas sendo uma voltada a homens e três às “senhoras”, como relata a obra; os “guarda=livros” (com = no lugar do hífen); “cutilleiros” – que fabricavam instrumentos de cortes; agentes de loterias, parteiras, entre outras profissões que a cada dia têm menos adeptos.

"Chapellarias" antigas de Florianópolis tinham distinção de públicosLivro mostra “chapellarias” em Florianópolis com distinção de gêneros – Foto: Windson Prado/ND

No “Indicador Commercial” também há citações de mais de 30  nomes de poetas e escritores, de destaques como Clementino de Britto, Idelfonso Juvenal, Maura de Senna Pereira, Trajano Margarida, entre outros. Para entender o porquê de tantos nomes voltados à literatura é preciso contextualizar o momento histórico, artístico e intelectual da época de 1920.

Nas mais de 50 páginas do catálogo de serviços  da década de 1928, há ainda registros de atividades como “Dactylographia” (com y e ph), “Trapicheiros” e dezenas de opções de “aluguel de carroças”, uma espécie de uber de antigamente, só que movido à tração animal.

Antonieta de Barros é citada várias vezes no “Indicador”, seja como anunciante ou prestadora de serviços. Um dos destaque é a propaganda do “Curso Primário Antonieta de Barros, Externato fundado em 1922, para meninos e meninas”. Na divulgação, há ênfase de que a capacitação oferece em “annexo (com dois ns) um Curso de Preparatorio (sem acento) aos exames de issão ao 1° anno (com dois ns) Gymnasial (com y) e ás (com acento agudo ao invés da crase) Escolas Complementar e Normal, com aulas diurnas e nocturnas (com c)”.

As profissões do ado, presente e futuro 2w135t

O curador de desenvolvimento econômico do Floripa 350, professor Neri dos Santos, apresentou um exercício de futurologia para elencar algumas em ascensão. Confira o top 10 do professor!

Tendências das novas profissões 2g1e3p

  1. Engenheiros de inteligência artificial: com o rápido avanço da inteligência artificial, há uma crescente demanda por profissionais capazes de desenvolver sistemas inteligentes, algoritmos de aprendizado de máquina e aplicar a IA em várias áreas;
  2. Desenvolvedores de realidade virtual/aumentada: à medida que a tecnologia de realidade virtual e aumentada continua a se expandir, surgem oportunidades para profissionais que possam criar experiências imersivas e interativas em diversos setores, como entretenimento, educação e treinamento;
  3. Especialistas em segurança cibernética: com o aumento das ameaças cibernéticas, há uma demanda crescente por profissionais capazes de proteger sistemas, redes e dados contra-ataques virtuais;
  4. Gerentes de resíduos e sustentabilidade: com a crescente preocupação com o meio ambiente e a necessidade de práticas sustentáveis, profissionais que possam gerenciar resíduos, desenvolver estratégias de reciclagem e implementar medidas de sustentabilidade são cada vez mais valorizados;
  5. Especialistas em saúde digital: com a digitalização dos serviços de saúde e o avanço da telemedicina, profissionais capazes de gerenciar sistemas de informação em saúde, desenvolver aplicativos médicos e garantir a segurança dos dados estão em alta demanda;
  6. Desenvolvedores de software: Florianópolis tem se destacado como um pólo de tecnologia e inovação, com diversas empresas de software e startups estabelecidas na cidade. A demanda por desenvolvedores de software, programadores e especialistas em TI tem crescido significativamente;
  7. Profissionais de turismo e hotelaria sustentável: Florianópolis é conhecida por suas belezas naturais e turismo. Com a crescente preocupação com a sustentabilidade e o ecoturismo, há uma demanda por profissionais capazes de desenvolver e implementar práticas sustentáveis nas áreas de turismo e hotelaria;
  8. Especialistas em energias renováveis: Florianópolis tem potencial para se tornar referência em energias renováveis, especialmente devido à abundância de recursos naturais, como sol e vento. Profissionais especializados em energia solar, eólica e outras formas de energia renovável podem encontrar oportunidades na cidade;
  9. Especialistas em marketing digital: com o crescimento do comércio eletrônico e da presença on-line das empresas, há uma demanda crescente por profissionais de marketing digital, especializados em estratégias de mídia social, SEO, análise de dados e campanhas on-line.
  10. Especialistas em mobilidade urbana: Com o aumento da população e do tráfego nas cidades, incluindo Florianópolis, profissionais capazes de desenvolver soluções de mobilidade urbana, como transporte público eficiente, compartilhamento de bicicletas e sistemas inteligentes de tráfego, podem encontrar oportunidades de carreira.

“Essas são apenas algumas tendências e exemplos de profissões que podem emergir ou se tornar mais proeminentes no futuro em Florianópolis. À medida que a tecnologia e a sociedade evoluem, novas oportunidades de carreira surgem, e é importante se manter atualizado com as tendências do mercado de trabalho”, professor Neri do Santos.

Ofício que resiste a gerações 361mp

Em paralelo a tudo isso, alguns serviços manuais têm resistido a gerações. Muitos devido à técnica, ao rito, à qualidade, à cultura. O trabalho de bordadeira é um deles. Ainda há dezenas espalhadas pelos quatro cantos da Ilha e do Continente. São várias as técnicas e estilos empregados por cada uma delas. Um dos mais tradicionais de Florianópolis é a renda de bilro.

Salete ensinando a arte de bordar. “O bordado manual, aqui em Florianópolis é mais explorado na arte terapia, terapia ocupacional e na arte têxtil. Como profissão não tem incentivo. Faltam profissionais no mercado”, diz a artesã – Foto: Salete Boschi – Bordadeira – arquivo pessoal (2)Salete ensinando a arte de bordar. “O bordado manual, aqui em Florianópolis é mais explorado na arte terapia, terapia ocupacional e na arte têxtil. Como profissão não tem incentivo. Faltam profissionais no mercado”, diz a artesã – Foto: Salete Boschi – Bordadeira – arquivo pessoal (2)

Salete Boschi, 65 anos, aprendeu as técnicas de arte têxtil na escola. Trabalhou e criou os filhos por meio de seu artesanato. Depois, aos 50 anos, foi fazer faculdade de moda na Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina). Hoje, ela dá aulas a jovens e adultos que encontram nesta arte, maneiras de explorar a criatividade, gerar renda e até fazer terapia ocupacional.

“Foi no tempo do primário, aos 10 anos de idade, que despertei minha vocação para o bordado. Estudava em colégio de freira, e o bordado era uma das atividades da disciplina de artes manuais. Ali aprendi crochê, tricô… eu adorava”, lembra a bordadeira.

O tempo ou e Salete se especializou. “Não parei mais. Estava sempre aprendendo novas técnicas. Depois tive lojas, dei aulas, enfim, o bordado sempre foi minha fonte de renda. Com ele, podia trabalhar perto dos meus filhos – numa época em que não existiam as creches – isso foi muito bom”, pontua a artesã.

Salete Boschi trabalha com bordados há mais de 50 anos em Florianópolis – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação/NDSalete Boschi trabalha com bordados há mais de 50 anos em Florianópolis – Foto: Arquivo pessoal/Divulgação/ND

“Bordar para mim é tudo”, avalia Salete. “É arte, é moda, é terapia”. “Penso que jamais esta profissão vai deixar de existir, mesmo sentindo que ela diminuiu um pouco. Vejo que as filhas das rendeiras, por exemplo, quase nunca seguem os os das mães.  Mas a arte é a arte, o prazer de exercer estar profissão será sempre preservado”, comenta.

Hoje, Salete dá aula em vários projetos de formação profissional e cultural na cidade, entre eles no Casarão do Sambaqui, onde trabalha com o bordado da cultura popular portuguesa. “Fazemos o ‘Pão-por-Deus’, o ‘Lenço dos Namorados’ e os tradicionais ‘Bordados Viana do Castelo’”, finaliza a bordadeira.

No futuro, o que esperar das profissões de Florianópolis? 95p4t

O diretor da Vertical Educação da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), Otávio Pinheiro Auler, avalia um pouco do mercado de trabalho atual em Florianópolis e projeta o que os jovens podem esperar das profissões no futuro na Capital.

Otávio Pinheiro Auler, diretor de educação da Acate – Foto: Arquivo Pessoal/NDOtávio Pinheiro Auler, diretor de educação da Acate – Foto: Arquivo Pessoal/ND

“Com certeza muitas profissões vão deixar de existir, mas neste sentido, Florianópolis e Santa Catarina tem se destacado por se um dos estados melhores posissionados no Brasil, no que se refere à investimentos em formação de jovens para o mercado de trabalho do futuro, que será muito voltado à tecnologia”, pontua o diretor de educação da Acate, Otávio Pinheiro Auler.

Ele acrescenta que a Acate e seus parceiros têm  trabalhado bastante em programas de impulso à jovens para que eles possam pensar e construir carreiras no segumento. “O momento é agora. Tecnologia é a tendência. Precisamos estar preparados. Hoje já faltam profissionais no mercado, tanto aqui em Florianópolis, como em toda Santa Catarina. Por isso, a dica é se qualificar”, finaliza.

Floripa 350 y4k5m

O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.

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