À hora de ar o comando de uma empresa familiar para a próxima geração pode ser decisivo para o futuro dos negócios. Exemplos de empresas de sucesso que não conseguiram o mesmo resultado após as mudanças na gestão são vários, por isso, de acordo com os especialistas a sucessão é um momento que deve ser articulado de forma programa pelos empresários e acionistas.
O principal problema enfrentado, de acordo com o presidente da Doers Human Capital Solutions, Delsio Klein, é saber o momento certo para fazer esta transferência de cargos entre as gerações e que isso não seja feito de uma forma repentina. “Normalmente o dono a a empresa para seus sucessores quando não pode mais, por motivos de saúde, estar a frente dos negócios. E na maioria dos casos, estes sucessores sequer foram preparados para assumir tal função”, exemplificou Klein.
Para o sócio da PwC e coordenador da IBGC-PR (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), Carlos Peres, os empresários e acionistas devem prever um plano de sucessão, elencando as principais características que o futuro presidente da empresa deve ter. “Caso não seja identificado nenhum sucessor com tais qualificações, os empresários devem optar pela profissionalização”, pontuou Peres.
Os especialistas ainda citam que, para facilitar este momento de transição, a sucessão deve ser feita para a segunda geração, e não esperar pela terceira. “Isto porque, a medida com que surgem novas gerações, se amplia o número de acionistas, sendo mais difícil em conjugar os interesses de todos”, comentou Peres.
Governança profissionalizada
Muitos empresários optam por contratar uma empresa terceirizada para auxiliar neste processo. A Doers Human Capital Solutions oferece pacotes de governança corporativa para auxiliar a empresa familiar durante a sucessão. “Às vezes o processo pode durar até três anos, tudo depende de cada caso. Outro fator que também interessa as empresas para implementar a governança é o forte controle fiscal que está sendo exercido pelo governo brasileiro, na intenção de organizar suas contas”, afirmou Delsio Klein, presidente da Doers.
Porém, quando a transição da empresa para os herdeiros não é bem sucedida, pode resultar em grandes problemas para a empresa. Nestes casos, conforme Peres, é necessário fazer uma reflexão estratégica. “Se a empresa está há dois ou três anos sem empregar os resultados que espera, ela deveria ter um momento de reflexão estratégica profunda, podendo ser feita internamente, ou com acompanhamento de um consultor de fora da empresa – o que acredito ser o mais indicado”, observou Peres.
Sucessor deve crescer por méritos
A Orbenk, empresa que atua no ramo de limpeza e conservação, foi fundada em 1986 por Alcides Benkendorf. Ele esteve no comando da empresa até 2011, quando sentiu que era hora de deixar que seus dois filhos, Ronaldo e Roney Benkendorf, tomarem a dianteira dos negócios da família.
Mas a decisão, segundo Ronaldo, não foi tomada da noite para o dia. O pai preparou os filhos para um dia assumir a empresa. “Meu pai sempre se preocupou com a sucessão, e fez questão que, tanto eu como meu irmão, ássemos por todas as áreas dentro da empresa, inclusive as operacionais, em que aprendemos a limpar um banheiro e roçar grama”, lembrou Ronaldo, que atualmente é diretor comercial da Orbenk.
O interesse dos filhos em continuar os negócios do pai apareceu cedo. Ronaldo começou a trabalhar na Orbenk aos 14 anos, e seu irmão quando completou 16. “Sempre foi meu interesse estar na empresa. Nosso pai não nos exigiu isso. Acredito que seja importante deixar livre para que o filho escolha a sua carreira”, observou.
Outro sistema implantado pelo fundador fez com que a transição entre gerações fosse bem sucedida. Segundo o diretor comercial, o sucessor deve crescer por mérito, e não porque é filho do dono da empresa. “Caso o contrário, é mais barato pagar este familiar longe da empresa. Nós sempre conseguimos galgar os cargos por mérito. Hoje temos 6.000 colaboradores em Santa Catarina e Paraná, e um grande desafio pela frente, que é continuar com a empresa e fazê-la crescer”, destacou.
Alceu Benkendorf continua envolvido na empresa. Ele é presidente do conselho e tem papel fundamental em opinar nas grandes questões estratégicas da empresa. “Antes do nosso pai se afastar de cargos executivos, ele nos deixou claro que se fôssemos brigar para ver quem assumiria a empresa, ele preferiria vendê-la. Ele pediu, então, para que nos organizássemos e decidíssemos quais atividades ficariam a cargo de cada um. Fizemos isto e a nossa gestão está dando certo”, comentou Ronaldo.