Um pioneiro que deixou as marcas no comércio de Florianópolis 341p3r

Morto em 1980, Oscar Cardoso deixou a marca do empreendedorismo no comércio do Estado, tanto nos ramos de alfaiataria, como no famoso palace hotel que levava seu nome 525l1p

Quem é nativo de Florianópolis ou vive há muito tempo na cidade vai se lembrar das lojas A Capital, do Colégio Barriga Verde e dos tempos áureos do Oscar Palace Hotel, que hospedou Pelé e cantores famosos que se apresentavam na Ilha. Se recuar um pouco mais, vai recordar da Alfaiataria Cardoso, que surgiu na esquina das ruas Saldanha Marinho e João Pinto e que depois mudou-se para a rua Tiradentes e mais tarde para a praça XV de Novembro.

Fundada em 1927, A Capital ocupou a esquina das ruas Trajano com Conselheiro Mafra, onde hoje fica a loja Tudo Dez.jpeg – Foto: Reprodução/NDFundada em 1927, A Capital ocupou a esquina das ruas Trajano com Conselheiro Mafra, onde hoje fica a loja Tudo Dez.jpeg – Foto: Reprodução/ND

À frente destes e de outros estabelecimentos estava Oscar Cardoso (1898-1980), um dos mais influentes empreendedores que Floripa já teve. Foi por iniciativa dele que em 1937 nasceu a fábrica de roupas Distincta, uma tentativa de transformar A Capital num polo têxtil como os que existiam nosvales do Itajaí e do Tijucas.

Florianópolis deve a esse pioneiro ações que deixaram marcas profundas na cidade. Em 1927, ele iniciou um movimento para criar a guarda noturna, para garantir a segurança dos estabelecimentos da Ilha – porque, já na década de 1930, havia furtos que preocupavam quem tinha comércio na área central.

Odson Cardoso herdeiro de Oscar Cardoso – Foto: Germano Rorato/NDOdson Cardoso herdeiro de Oscar Cardoso – Foto: Germano Rorato/ND

“Tudo o que sou herdei dele”, diz Odson Cardoso, 86 anos, um dos seis filhos do empresário e um de seus braços direitos, dando continuidade aos negócios, embora tenha se tornado advogado e feito carreira no Ministério Público do Estado. Oscar Cardoso também foi o primeiro presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Florianópolis e fez parte da União do Comércio, Indústria e Lavoura.

Símbolo do comércio em Florianópolis 4q36e

Criada em 1927, A Capital foi uma rede de varejo que atendia a um público exigente, na esquina das ruas Trajano e Conselheiro Mafra, e que se tornou um símbolo do comércio na cidade, permanecendo no mesmo endereço até 1979, quando se mudou para a avenida Hercílio Luz, no térreo do Oscar Hotel, inaugurado em 1960.

A rede instalou filiais em Blumenau (1938), Lages (1943), Tubarão (1947) e São Paulo (1953, no largo do Arouche). Nas cidades do interior catarinense, as lojas começaram em espaços alugados e depois ganharam sede própria, vendendo roupas e tecidos, ternos e outros itens de vestuário.

Oscar Cardoso, um pioneiro que deixou as marcas no comércio de FlorianópolisOscar também se envolvia em causas comunitárias – Foto: Arquivo Pessoal/ND

“Tendo estudado pouco, meu pai foi um autodidata que enfrentou as estradas ruins do Estado para tocar seus negócios em Lages, Tubarão e Blumenau, onde era difícil chegar até a década de 1970”, diz Odson. Até o fim da vida, em 1980, ele lia assiduamente o jornal “O Estado de S.Paulo” e os periódicos locais, acompanhando o que ocorria no país e os movimentos políticos catarinenses e nacionais, apesar de nunca ter se filiado a qualquer agremiação partidária.

O alfaiate das figuras ilustres 5u3k2

Filho de Domingos José Cardoso e de Antonia Kodzinsky Cardoso, nascida na Polônia, Oscar começou entregando itens da padaria de seu pai, instalada na rua Fernando Machado, e aos 15 anos se tornou aprendiz de alfaiate, atividade que exerceria em boa parte da vida. Dois anos depois, já era oficial de alfaiataria na Bonassis & Filho, na rua João Pinto, que trouxe para a Ilha o corte parisiense. Em 1917, Cardoso tornou-se titular da Alfaiataria Ribeiro & Cia., na rua Conselheiro Mafra, atendendo à elite da Capital.

Após trabalhar em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, nos anos de 1918 e 1919, ele voltou para a cidade natal e criou sua própria alfaiataria na esquina das ruas João Pinto e Saldanha Marinho. Em 1921 fez um estágio em São Paulo, onde aprendeu o corte estilo romano com os irmãos Carnicelli. Retornando a Florianópolis, mudou seu estabelecimento para a rua Tiradentes e se casou com Olga Freitas, com quem teve os filhos Olga, Oscar, Osni, Onilda, Oryon e Odson.

Em 1923, instalou uma filial da alfaiataria em pleno centro de Curitiba. A experiência durou apenas um ano, porque ele teve dificuldade para istrar as duas casas. Em 1924, já na praça XV de Novembro, a alfaiataria ou a atender figuras ilustres da cidade e do Estado – governadores, senadores, deputados, magistrados e outros profissionais.

Da esq. para dir.: o governador Heriberto Hülse; o comandante do 5° Distrito Naval, almirante Augusto Rademaker; o anfitrião, Oscar Cardoso; e o desembargador Ivo Pereira de Mello na inauguração do Oscar Palace Hotel, em 6 de novembro de 1960. Ao lado, o convite publicado no jornal O Estado – Foto: Lazaro Bartolomeu/Reprodução/NDDa esq. para dir.: o governador Heriberto Hülse; o comandante do 5° Distrito Naval, almirante Augusto Rademaker; o anfitrião, Oscar Cardoso; e o desembargador Ivo Pereira de Mello na inauguração do Oscar Palace Hotel, em 6 de novembro de 1960. Ao lado, o convite publicado no jornal O Estado – Foto: Lazaro Bartolomeu/Reprodução/ND

Além da guarda noturna, Cardoso se envolveu, com amigos, em 1950, na campanha pela construção do Ginásio Barriga Verde, na rua Ferreira Lima. Foi o primeiro estabelecimento a oferecer aulas noturnas e supriu a falta de vagas até o surgimento do Instituto Estadual de Educação, pelo governo do Estado.

Foi nesse prédio, ainda hoje em pé, que funcionou durante muitos anos a Faculdade de Medicina, depois transferida para o campus da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), no bairro Trindade.

O hotel que hospedou Pelé, Roberto Carlos e Caetano Veloso 44z9

Depois de abrir filiais da rede A Capital em Florianópolis, Blumenau, Lages e Tubarão, e de instalar a fábrica de roupas Distincta, que abriu mercado de trabalho para mais de 30 costureiras e alfaiates da cidade, Oscar Cardoso começou a construir, em 1949, o Oscar Palace Hotel, na chácara da avenida Hercílio Luz onde a família morava. Com sete pavimentos, era um dos prédios mais altos da Capital, à época. A inauguração teve a presença do então governador Heriberto Hülse e foi transmitida ao vivo pela rádio Diário da Manhã.

Segundo o jornalista Billy Culleton, esta foto com o menino Fernando Bastos é a única de Pelé no hotel – Foto: Arquivo Pessoal de Fernando Bastos Filho/NDSegundo o jornalista Billy Culleton, esta foto com o menino Fernando Bastos é a única de Pelé no hotel – Foto: Arquivo Pessoal de Fernando Bastos Filho/ND

Foi no térreo desse edifício que Cardoso inaugurou o Oscar Magazine, em 1960, outra vez inovando com padrões de varejo que não eram conhecidos na região. Em Tubarão, onde A Capital estava presente deste 1947, instalou uma loja mais moderna em 1962, no térreo de um edifício de oito andares que construiu para a filial do Oscar Hotel.

O hotel da avenida Hercílio Luz hospedou o Santos de Pelé quando o time veio jogar contra o Avaí, em agosto de 1972, no estádio Adolfo Konder. Oscar Cardoso não gostava de receber times de futebol em seu estabelecimento, mas abriu exceções para o Santos e para o Metropol, equipe de Criciúma que fez história no esporte catarinense. Ainda assim, costumava presentear com uma gravata ou camisa o jogador que fizesse o primeiro gol no clássico Avaí x Figueirense.

O nome do hotel era associado a grandes nomes da música brasileira, como Roberto Carlos, Agostinho dos Santos, Lupicínio Rodrigues e Caetano Veloso, que ali se hospedaram. Autoridades da República que vinham a Florianópolis procuravam o Oscar Hotel para ficar, assim como ocorria com os professores que se deslocavam de outras capitais do país para dar aulas na recém-criada universidade federal.

“O hotel contava com um restaurante panorâmico muito frequentado no sexto andar, onde ocorriam as grandes festas da cidade”, recorda OdsonCardoso. Era comum os artistas darem uma palhinha no piano-bar, que se tornou um requintado ponto de encontro de Floripa. Todos os anos, em 11 de junho, era comemorado ali, com um coquetel, o aniversário da batalha do Riachuelo, em evento organizado pelo 5º Distrito Naval com presenças ilustres, entre elas a do anfitrião, o comandante Augusto Rademaker, que viria a fazer parte da junta militar que presidiu o país de 31 de agosto e 30 de outubro de 1969.

Oscar chegou a se mudar para São Paulo, em 1971, onde comprava artigos para abastecer suas lojas em Santa Catarina, mas voltou dois anos depois, convencido de que “esta terra era a melhor para se morar”, nas palavras do filho Odson.

Transporte marítimo para incrementar o turismo 2d2x

“Meu pai acordava cedo e trabalhava muito, seja na fábrica de tecidos, seja nas lojas, seja no hotel, mas duas vezes por dia ia à unidade da Conselheiro Mafra para um papo sobre os acontecimentos políticos”, conta o filho Odson. À noite, frequentava o Racionalismo Cristão, onde doutrinava e reconfortava as pessoas que precisavam de seus conselhos. Defendia a construção de um túnel no Morro da Cruz, ligando o Centro à Trindade, e recebeu várias homenagens pelos serviços prestados ao comércio de Florianópolis.

Odson, caçula dos seis filhos, todos com inicial O, assim como os pais, Oscar e Olga, remexe nas memórias e continua o legado – Foto: Germano Rorato/NDOdson, caçula dos seis filhos, todos com inicial O, assim como os pais, Oscar e Olga, remexe nas memórias e continua o legado – Foto: Germano Rorato/ND

Com os irmãos, o filho Odson trabalhou com o pai em seus empreendimentos e também foi diretor do Hotel Plaza Caldas da Imperatriz, durante 14 anos. Fala pouco de si, preferindo enaltecer as virtudes do pai, as pessoas que ele ajudou, o seu talento como empreendedor e orador. Lembra da cidade antes dos aterros, das dificuldades para chegar ao Norte da Ilha, dos banhos de mar nas praias do continente. E, também, das vezes em que foi preciso empurrar o Chevrolet 36 da família nos deslocamentos a Blumenau e Lages, por causa da precariedade das estradas.

Empreendedores 435143

Casado há 61 anos com Iolanda Neves Cardoso, com três filhos, sete netose uma bisneta, ele defende a implantação do transporte marítimo na Capital como forma de desenvolver o turismo na região. Ele foi um dos fundadores da Abih/SC (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, secção de Santa Catarina), e atuou no Deatur, primeiro órgão de turismo do governo do Estado, e na Sociedade Brasileira de Termalismo em Santa Catarina.

Seu irmão Oscar, conhecido como Zico, foi dono da Dipronal, revendedora dos modelos Nash, Citroen, Mercedes Benz, Willis e Ford na cidade.Outros membros da família também abriram seus negócios ou atuaram como profissionais liberais ou servidores públicos.

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