Para incentivar a educação antirracista, o espaço escolar precisa contar o ado de outra forma, na perspectiva daqueles que viveram na pele aquilo que está nos livros. Essa é a realidade de cerca de 950 estudantes do primeiro ao nono ano da Escola Municipal João Costa. Por lá, os componentes curriculares ampliam a abordagem da temática, indo além da apresentação apenas no período da Consciência Negra.

A ideia de criar o projeto “Vozes Negras no Espaço Escolar” partiu da professora de geografia Léia Alves dos Santos. O documento foi construído com a participação de outros educadores e da equipe pedagógica da unidade. As conversas começaram ainda em 2022, mas algumas ações já foram feitas, incluindo oficinas, palestras, teatro, contações de histórias e exposições — o grupo tem até uniforme do projeto.
O propósito é incluir a educação antirracista nas temáticas debatidas com as turmas, levando em consideração a idade e a abordagem correta. “O objetivo é trabalhar a questão racial dentro da escola, criar dentro da escola uma política antirracista. Trazer e dar visibilidade para as vozes negras que são silenciadas dentro do espaço escolar”, conta a criadora do projeto.
Além de abordar a educação antirracista em sala de aula, Léia decidiu mudar um roteiro que já viveu, com casos de preconceito na escola, na época em que era estudante. Para isso, entendeu que era necessário falar do racismo com os pequenos. “É uma coisa humana o racismo, o racismo é aprendido. A criança não nasce racista, ela é ensinada.”
O projeto será incluído nas abordagens da unidade neste ano, aproveitando os componentes curriculares para ir além daquilo que está nos livros. “O que a gente vê na história da África no Brasil e a presença negra no Brasil é só a escravidão, mas tem muitas outras coisas, a própria contribuição, hábitos culturais, palavras africanas presentes na nossa cultura”, opina a professora, que também contribuiu com as atividades desenvolvidas pelos colegas da profissão.
Seminário Municipal de Educação para Promoção da Igualdade Racial 5r5n6e
Para fazer da escola um espaço cada vez mais inclusivo às diferenças, as Leis 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008, tornam obrigatório o ensino do histórico africano nas escolas.
Para ir ao encontro das necessidades dos alunos, a Secretaria Municipal de Educação de ville ofertou o Seminário Municipal de Educação para Promoção da Igualdade Racial, neste mês de março.
“O seminário teve como objetivo trazer essa provocação ao debate para reforçar temas de combate ao preconceito, intolerância religiosa, xenofobia e ao racismo. Esse foi o grande objetivo do seminário, que está inserido dentro da Década Internacional de Afrodescentes, que foi instituída pela ONU em 2014”, expressa o diretor executivo de formação e inovação, Cleberson de Lima Mendes.
O evento contou com palestras e a participação de professores, gestores e profissionais da educação. Neste ano, a novidade foi a apresentação de banner e a explicação de trabalhos desenvolvidos na rede municipal.
Educação antirracista x dados no Brasil 1k2c5b
Seja na escola ou na rua, os casos de racismo estão presentes em diversos espaços. Mas qual é o papel da educação antirracista? Para compreender que o respeito precisa ser o ponto de partida em todas as relações, independentemente da cor, a temática é responsável por propor debate, ensino e conscientização – fatores fundamentais para um futuro sem discriminações – e aqui o aprendizado vai além da teoria.
A educação antirracista é tão necessária que números comprovam a relevância do tema: em um país onde 56% da população é negra, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), uma pesquisa do PoderData, realizada em novembro de 2021, acende um sinal de alerta, expondo que 79% dos entrevistados concordam que há racismo no Brasil, mas 59% deles alegam não ter nenhum tipo de distinção — uma conta difícil de fechar.