A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi criada para transmitir mensagens e informações, sejam concretas ou abstratas. As crianças do Núcleo de Educação Infantil Municipal (NEIM) Doralice Maria Dias têm o primeiro contato desde cedo, compreendendo como as expressões e a linguagem corporal também podem demonstrar sensações e desejos.

A abordagem em Libras é destinada para os pequenos entre os três e os seis anos, mas a troca de conhecimento também é ada para os mais novos— seja no momento do lanche ou nas brincadeiras que ocorrem no parquinho, estimulando desde cedo uma comunicação além dos sons.
O diferencial está no vínculo que será criado com a nova língua, sensação que pode ser diferente nas demais fases da vida.
“Depois de adulto, a pessoa fica com vergonha, fica retraída, tem medo de se expor e de fazer troca, mas isso para a criança é natural, é uma forma de brincadeira”, explica a professora e intérprete Keli dos Santos.
O foco é pensar em atividades capazes de instigar as questões visuais e as diversas formas de dialogar. O estímulo, além de ser uma tarefa capaz de contribuir com o desenvolvimento, ainda vai ao encontro de outras capacidades, já que o olfato, o paladar e a audição, por exemplo, são incentivados desde cedo — alguns quando ainda estamos em formação, durante a gestação. “A visão, se você não estiver olhando, você não está absorvendo, não está aprendendo”, comenta a educadora.
Todas as vivências são pensadas em parceria com o professor de Libras Rui Zuzza. Uma das tarefas que despertaram a curiosidade da turma foi a atividade com as sombras.
Isso porque o grupo precisava descobrir as imagens que estavam sendo recriadas por trás de um de pano. A intérprete narrava a experiência e depois demonstrava o que estava sendo feito.
Em um segundo momento, o desafio foi imitar as sombras que estavam impressas no material, criando conexão entre a visão e os movimentos do corpo — ação que vai além da memorização dos gestos.
“Mesmo sozinho, eu percebo que eles estão se comunicando, estão fazendo os sinais das cores, estão fazendo oi, pedindo desculpa”, declara Rui.
E o contato desde cedo é essencial para eliminar qualquer tipo de preconceito, demonstrando que a convivência com um surdo é algo natural. Por mais que a intérprete esteja presente, o intuito é que eles estejam à vontade para gesticular.
“Dentro da sala eles precisam sentar e olhar para mim. Ouvir a intérprete, mas prestar atenção em mim, eu sou a referência, o professor surdo, então eles precisam conversar com a mãozinha”, conta o professor.
E a Libras já é uma das atividades preferidas na unidade, pelo menos para Anthony Lorenzo Gonçalves Vaz, 4. ” A aula é bem importante e eu gosto de aprender várias coisas”, declara o pequeno, que demonstra interesse pela tecnologia e pelo desenho.
O conhecimento adquirido por meio das brincadeiras extrapola os muros da escola, chegando ao convívio familiar. “Algumas crianças têm um tio surdo, um primo, alguém na família e estão tentando aprender, mas agora eles não têm mais medo”, complementa Rui.
É importante lembrar que existem algumas práticas que são comuns para todos os seres humanos, independente das características ou individualidades. O diálogo é um deles, já que até os mais introvertidos gostam de expressar pensamentos e ideias em determinado momento.
No entanto, por mais que a conversa com os colegas e os familiares seja algo natural, a fala não é o único caminho para estar próximo do outro.
Experiência própria 3wu3s
A descoberta da surdez é um processo único e que pode ser vivenciado de diversas formas, mudando de acordo com a aceitação da família e as necessidades individuais. A comunicação é sempre um desafio, e com o professor Rui Zuzza não foi diferente.
Depois de uma gestação tranquila e sem complicações, a avó, que era enfermeira, foi a primeira a perceber que o bebê não correspondia aos sons — como as batidas.
A busca por atendimento começou logo cedo, aos dois anos de idade. Foram diversas visitas aos médicos e alguns acreditavam que o problema podia ser emocional. Até que, aos três anos, veio o diagnóstico de surdez e o tratamento com o fonoaudiólogo foi iniciado.
O desejo pela oralidade também partiu da mãe, Silvia Zuza, com o objetivo de incluir o filho na sociedade. A Libras ou a fazer parte da rotina aos nove anos e, hoje, Rui é professor, modelo e ator — uma das atuações foi na série Crisálida, produção da Netflix.
A dupla já abriu a primeira agência de modelos surdos do Brasil, além de algumas associações em Santa Catarina e outros Estados.
Não existe surdo-mudo 296f31
Por mais que o assunto ainda seja novidade para muitos, existem alguns termos que devem ser excluídos do vocabulário, incluindo o surdo-mudo. O erro está em pensar que todo surdo é mudo, quando a emissão de sons vai depender do desenvolvimento de cada um.
É fato que a fala tem como estímulo a audição, mas alguns surdos podem pronunciar palavras e usar outras formas de comunicação para dialogar.
É importante compreender que existem diversos tipos de surdos e que tudo depende da identificação de cada um e não da porcentagem de perda auditiva, como muitos pensam.