Dados da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) apontam uma evolução no número de alunos negros formados após 15 anos da implementação do sistema de cotas. Comparado a 2008, a universidade aumentou o quantitativo em 160% no ano de 2023.

A UFSC foi uma das pioneiras na política de cotas. O primeiro sistema de reserva de vagas para pessoas negras foi instituído em 2008, quatro anos antes da criação da Lei de Cotas, sancionada pelo Governo Federal em 2012.
A Lei nº 12.711 definiu a reserva de 50% das vagas em cursos de graduação para alunos de escola pública, pessoas negras, indígenas e com deficiência.

“A UFSC sempre ampliou para além do que a legislação pedia o quantitativo de cotas, colocando diferentes categorias nesse sistema”, informou em nota a pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade, Leslie Sedrez Chaves.
“Um exemplo são as vagas suplementares para estudantes indígenas, quilombolas, e estudantes negros de qualquer percurso escolar. Com elas, não necessariamente os estudantes da escola pública podem hoje ingressar no sistema de cotas”, aponta.

No primeiro ano das cotas na UFSC, 170 profissionais negros se formaram na universidade. O grupo representava cerca de 6,5% do total de alunos formados em 2008.
Já em 2023, o número aumentou 160% e chegou a 442 formados. O ano bateu o recorde do percentual de alunos negros formados pela universidade, atingindo o pico de 17%.
“Os estudantes cotistas têm o direito de estar na universidade. Este lugar também é deles, é para eles. Então fazemos também um trabalho educativo tanto para as pessoas que são cotistas, quanto para os demais estudantes, para que a UFSC possa oferecer um ambiente acolhedor e de respeito à diversidade”, declara a professora Leslie Sedrez Chaves.

Em 16 anos de política de cotas na instituição, ao todo 5.887 estudantes negros conquistaram um diploma, considerando a soma de pretos e pardos.
O contingente equivale a 12,4% do total de 47.422 formados no período. A média é de aproximadamente 368 profissionais negros formados por ano na UFSC.
População negra em SC 2r2c27
A proporção ainda está abaixo do percentual da população negra em Santa Catarina, que é de 23,2%, segundo o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2022.
O levantamento mostrou que 19,2% dos catarinenses se autodeclararam pardos. O Estado tem o menor índice de cidadãos pretos no país, com apenas 4,07%.
A população brasileira é 55,5% negra, se considerada a soma dos autodeclarados pardos (45,3%) e pretos (10,2%).

Formatura do curso de psicologia chamou a atenção 1e3w44
No dia 18 de abril, a formatura do curso de psicologia chamou a atenção por contar com dez estudantes negros. Eles relataram que a união foi necessária durante a jornada da graduação.
“Mesmo a gente tendo entrado em fases diferentes, estamos nos formando junto porque é uma forma de resistência. Só conseguimos nos formar porque realmente nos unimos para ir contra essas tensões que querem nos expulsar daqui”, concluiu a formanda Mariana Milan.
Confira a evolução de alunos negros formados na UFSC 3y1f3a
O gráfico abaixo mostra uma tendência de crescimento na proporção de estudantes negros formados pela UFSC entre 2008 e 2023. A reportagem considerou os alunos negros como a soma de pretos e pardos.

A UFSC bateu o recorde em 2023, após 15 anos de cotas, com o pico de 17% no percentual de estudantes pretos e pardos. O ano, porém, não foi o que mais registrou alunos formados em termos absolutos.
O maior número de profissionais negros formados pela universidade foi registrado em 2012, com a marca de 583. A porção representou 16,8% das formaturas daquele ano.
Veja o ranking dos anos que mais formaram alunos negros na UFSC:
- 2012: 583 formados, sendo 16,8% do total
- 2022: 465 formados, sendo 16,3% do total
- 2018: 446 formados, sendo 12,8% do total
- 2023: 442 formados, sendo 17% do total
- 2019: 411 formados, sendo 12,4% do total
Além disso, a UFSC recebeu 1.304 novos alunos pretos e pardos em 2023, número que aumentou 28,6% em relação a 2022, quando 1.014 dos ingressantes eram negros.
“É importante lembrar que na Universidade Federal de Santa Catarina, atualmente, nós temos cotas para ingresso de estudantes em todos os níveis de ensino”, enfatiza a pró-reitora Leslie Sedrez Chaves.

As ações afirmativas na instituição abrangem o Núcleo de Desenvolvimento Infantil, o Colégio de Aplicação e a pós-graduação.
A pró-reitora ainda antecipa que a UFSC pretende adotar cotas para pessoas trans no próximo vestibular, uma categoria que não é contemplada pela legislação atual.
“A Universidade Federal de Santa Catarina tem feito todos os esforços para ampliar esse sistema e garantir também a permanência dos estudantes na instituição. O objetivo é que ingressem e que possam sair graduados”, afirma a pró-reitora em nota.
Políticas de Ações Afirmativas na UFSC 6og1r

A gestão do reitor Irineu Manoel de Souza criou em 2022 a Proafe (Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade), a partir da antiga Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidades.
O órgão visa “contribuir de maneira efetiva e relevante para a democratização do o à educação em todos os níveis de ensino, promover a permanência, a valorização dos direitos humanos, a pluralidade de saberes e o enfrentamento das desigualdades na universidade”.

Entre as responsabilidades da Proafe, estão a validação das cotas e a coordenação de programas que ampliem o o e a permanência dos estudantes.
A Diretoria de Ações Afirmativas da pró-reitoria institucionalizou em 2023 o Serviço de Acolhimento às Vítimas de Violências na UFSC e a Seção de Intérpretes de Libras, por exemplo.
Segundo o Relatório de Gestão da instituição em 2023, a Proafe validou 890 estudantes na categoria de cotas para negros, além de 11 quilombolas.

Um desafio da universidade, além de garantir o ingresso de estudantes negros, é o fomento da permanência dos alunos.
“Às vezes acho que é mais difícil permanecer do que entrar, porque a gente tem que dar conta de muita coisa. A maioria aqui teve que trabalhar enquanto estudava e a gente perde um monte de oportunidade dentro da UFSC”, observa a formanda de psicologia Helena Lívia de Souza.
A pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade, Leslie Sedrez Chaves, afirma que a instituição tem tomado medidas para incluir melhor os estudantes, seja na chegada ou durante o percurso universitário.

O objetivo é “dar e para esse estudante, tentando garantir que consiga se manter economicamente dentro da Universidade, com recursos financeiros. Por isso, há políticas para Bolsa Permanência e outras modalidades de bolsas da pós-graduação, mas sabemos que ainda não é o suficiente”, reconhece a professora.
Os alunos contemplados pela Lei de Cotas possuem prioridade no recebimento dos auxílios pecuniários da PRAE (Pró-Reitoria de Permanência e Assuntos Estudantis).
O órgão oferece diversos programas de assistência: Auxílio Moradia, Bolsa Estudantil UFSC, Moradia Estudantil, Auxílio Creche, Auxílio-Internet e Auxílio Emergencial de Permanência.

Há também a possibilidade de isenção do pagamento do Restaurante Universitário, além da Bolsa PAIQ (Programa de Assistência Estudantil para Estudantes Indígenas e Quilombolas).
Em 2023, o Departamento de Permanência Estudantil desembolsou mais de R$ 23 milhões nos pagamentos dos programas, que beneficiaram 3.087 estudantes.
“A gente ainda está muito longe. A gente a, mas não permanece, demora mais para terminar, tem gente que não consegue nem terminar e tem que fazer outro vestibular”, reflete Leoni Rita Vitória, formanda da turma de psicologia.
“Tudo isso já mostra que a ação afirmativa é boa, mas não é o suficiente para cobrir o déficit social histórico que a gente tem”, opina a estudante.

Por fim, a professora e pró-reitora Leslie Sedrez Chaves reitera o compromisso da atual gestão da UFSC com a inclusão e as ações afirmativas.
“E com certeza construir uma instituição mais humana, mais diversa que respeite os direitos humanos e os direitos de todas as pessoas de estarem na universidade e exporem as suas ideias, convivendo pacificamente, sem violência, com segurança e vivendo a sua cidadania de modo pleno”, assegura.