O esporte é um agente de mudança de vida. Seja para descobrir uma vocação, ganhar medalhas e oportunidades ou, até mesmo, competir nas paralimpíadas. Mas a atividade tem papéis ainda maiores: a inclusão e a integração. Por meio dele, pessoas podem voltar a sonhar, a sorrir e a encontrar um lugar de pertencimento.

O CER (Centro Especializado em Reabilitação) da Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinense) oferece essa oportunidade a 400 pacientes que frequentam os projetos e os serviços fornecidos pelo espaço. Entre as iniciativas, estão o vôlei e o tênis de mesa adaptados. São atividades recentes, mas que ocorrem uma vez por semana na quadra do Ginásio de Esportes da instituição.
“O projeto do vôlei adaptado vem junto do tratamento que realizamos com pessoas amputadas. A gente tem um grupo que a pela recuperação do coto [parte restante do membro após a amputação], porém essas pessoas têm a vida mudada pela perda de um membro. Então, essas atividades recreativas e esportivas dão uma nova oportunidade”, destaca o residente do curso de Educação Física, Marcos Paulo Campos Assis.
Foi o que aconteceu com a paciente Valmiria Mendonça de Oliveira, de 53 anos, que perdeu a perna há três anos devido a uma trombose e, desde então, participa do CER. Ela ressalta que o esporte ajuda na integração e no lazer. “É um divertimento praticar vôlei adaptado e tênis de mesa. Aprendi muitas coisas, conheci várias pessoas e fiz amizades na Unesc. Me sinto muito feliz quando participo das atividades; é uma tarde que a sem nem perceber”, comenta.

O residente do curso de Educação Física ainda enfatiza que as atividades ajudam os pacientes a perceberem que eles podem praticar esportes como lazer mesmo com amputação. “Fornecemos o tratamento específico para situação, mas também temos o psicossomático, que seria o tratamento de como a pessoa se vê na sociedade, como ela é, e a interação com outras pessoas, e o esporte contribui para isso”, completa.
Os pacientes também estão no clima das paralimpíadas, já que as regras utilizadas são as mesmas da competição oficial. Marcos Paulo Campos Assis explica melhor:
Regras do vôlei adaptado do CER são as mesmas das paralímpiadas – Imagens: Fernando do Nascimento e Marcos Mendonça | Edição: Fernando do Nascimemento
As iniciativas começaram há quase dois meses e contam com a participação de 14 pacientes de diversas cidades da região. “Ficamos surpresos com a animação deles em participar, sabendo das dificuldades logísticas, pois muitos não são daqui”, pontua.
Marcos conta sobre o sentimento de ver o projeto ganhar vida e dar vida aos pacientes:
Marcos Paulo Campos Assis, residente do curso de Educação Física da Unesc – Imagens: Fernando do Nascimemento e Marcos Mendonça | Edição: Fernando do Nascimento
Esporte como forma de reabilitação 43144o
Os pacientes com membros amputados chegam ao CER por meio do SISREG (Sistema Nacional de Regulação), após atendimento em UBSs (Unidades Básicas de Saúde). ”Eles vêm para uma avaliação, um acolhimento, e ficam no espaço para serem reabilitados e conseguirem adquirir a prótese”, explica Priscila Soares de Souza Victor, fisioterapeuta do Centro Especializado em Reabilitação, ao ND Mais.
Durante o processo, os pacientes recebem a preparação, além do fortalecimento e dos alongamentos necessários para o coto. Eles também aprendem como fazer o enfaixamento da forma correta. “Depois que esses pacientes recebem a prótese, eles continuam conosco para fazer o tratamento”, pontua a fisioterapeuta.
Por isso, o esporte também é utilizado como ferramenta de recuperação para essas pessoas. “Inserimos os pacientes nesse grupo para que interajam com outros que estão ando pelo mesmo processo de reabilitação do coto. O vôlei é um meio de interação social, mostrando que podem fazer muito mais”, enfatiza Priscila.
CER também é referência na parte intelectual 3s4h11
O CER também oferece a possibilidade de diagnóstico de crianças com suspeita do TDI (Transtorno do Desenvolvimento Intelectual) e do TEA (Transtorno do Espectro Autista). Hoje, o Centro Especializado em Reabilitação é referência na parte de avaliação intelectual nos municípios da Amrec (Região Carbonífera) e da Amesc (Extremo Sul de Santa Catarina).
“O processo de avaliação é sempre multiprofissional. Nós temos disponíveis, na equipe, profissionais de diversas áreas: psicológico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, nutricionista e neurologista”, afirma a psicóloga do CER, Karen Karkle. Também há parcerias com as clínicas da Unesc, por exemplo, o Programa de Residência Odontológica.
O público-alvo desses atendimentos, cujo objetivo principal é o diagnóstico desses transtornos, são crianças e adolescentes. No caso do TDI, entre seis anos e 16 anos, 11 meses e 29 dias e, do TEA, até 16 anos, 11 meses e 29 dias.
“Quando fecha o processo de avaliação do diagnóstico, nós encaminhamos as crianças e os adolescentes para os serviços que fazem a estimulação. Se não fechar o diagnóstico, a gente também encaminha para os serviços que são necessários no caso”, detalha a psicóloga do CER.
O período para avaliar as crianças e os adolescentes dura entre três e quatro meses. “Depende muito do quadro clínico. No final, a gente faz a elaboração desse laudo”, acrescenta Karen. O primeiro o é uma avaliação inicial, ou seja, uma espécie de triagem e de acolhimento.
“Se no momento da triagem não identificarmos sintomas, nós fazemos uma contrarreferência para o serviço necessário. Mas se identificarmos ou ficarmos em dúvida, a gente inclui no nosso serviço para fazer o processo avaliativo”, pontua a profissional do CER.
Como as crianças e os adolescentes chegam ao CER? 5y1v52
A psicóloga explica que para chegarem ao CER, as crianças e os adolescentes devem ser encaminhados via UBSs – bem como os pacientes amputados -, as quais foram capacitadas para preencherem os documentos necessários.
“As diretrizes do Ministério da Saúde dizem que esses tipos de diagnósticos, por serem do neurodesenvolvimento, existem uma avaliação multiprofissional para a gente tentar entender de forma mais global como é o funcional dessa criança ou desse adolescente”, frisa a psicóloga.
Um dos trabalhos que também é proporcionado pelo CER diz respeito ao atendimento e apoio às famílias. ”Atualmente, em parceria com o curso de Psicologia, e o Programa Acolher, da Unesc, nós também oferecemos apoio às famílias através de grupos que tem o sentido de acolher e compreender melhor o universo das famílias para orientar de modo afetuoso e eficaz”, enfatiza Tatiane Macarini, coordenadora do CER da Unesc.
Ainda conforme a profissional, os familiares de crianças ou adolescentes com autismo podem encontrar, por meio do CER, um espaço seguro de acolhimento. “Além de receber informações sobre o próprio processo e a maneira como lidar numa situação de crise, como lidar com situações específicas de cada criança/adolescente com TEA ”, complementa Tatiane.
CER como referência em acolhimento 3z1z3u
O Centro Especializado de Reabilitação é um projeto do SUS, habilitado para a Unesc, por meio da portaria MS:1.357, de 2 de dezembro de 2013, do Ministério da Saúde. A iniciativa, localizada dentro das Clínicas Integradas, é referência no atendimento a pessoas com deficiência intelectual e/ou física dos 27 municípios da macrorregião Sul.
“Nós atendemos com uma equipe multiprofissional, composta por neurologistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e outros profissionais, desde o início da entrada do usuário no serviço até o acompanhamento do tratamento e alta”, destaca Tatiane Macarini, coordenadora do CER da Unesc.
De acordo com a coordenadora, o trabalho do centro fomenta práticas de inovação que possibilitam ao paciente maior autonomia e independência na vida social e familiar. Outra iniciativa é promover maior ibilidade, e fortalecer a rede de atenção à pessoa com deficiência, como explica Tatiane:
Atividades esportivas do CER possibilitam ao paciente maior autonomia e independência – Imagens: Fernando do Nascimemento e Marcos Mendonça | Edição: Fernando do Nascimento
“O CER também conta com grupos operativos e terapêuticos para atender a demanda, não só do paciente, mas também da família e da rede de cuidadores. O diferencial do centro é que ele está inserido em um espaço rico de conhecimento que contribui com outras áreas e finalidades, como pesquisa e extensão. A reitora Luciane Ceretta é uma grande parceira e incentivadora da iniciativa e tem projetos futuros para ampliação do atendimento, incluindo também a reabilitação para crianças com TEA Nível de e 1.”, conclui.
Atualmente, são realizados mais de dois mil procedimentos mensais, totalizando mais de 12 mil por ano. O serviço de reabilitação funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h.