
Aos 60 anos, Phylon Max Nunes Pereira fala sobre como surgiu o seu amor pelo Figueirense ainda muito jovem e conta casos curiosos da Bobgueira, um grupo de amigos criado há 32 anos que se reúnem para torcer pelo alvinegro, ao som de muito reggae e “boas vibrações” de Bob Marley, Peter Tosh e outras lendas desse ritmo jamaicano. Apesar de ter familiares na Paraíba, Phylon é manezinho, nascido na maternidade Carmela Dutra. Sobre a Bobgueira, Phylon relata que na época sentiu pequenas rejeições e preconceitos por ostentar a bandeira do movimento com a foto do Bob Marley, mas que com o ar do tempo ou a ser aceito como uma galera do bem, que no fim das contas quer apenas torcer e demonstrar toda a paixão pelo Figueirense.
COMO FOI ESSA PAIXÃO PELO FIGUEIRENSE, MESMO SENDO UM PARAIBANO? CONSEGUE LEMBRAR O PRIMEIRO JOGO NO SCARPELLI? COMO ERA O CLIMA NO ESTÁDIO?
Para começo de conversa, eu sou manezinho, nasci na Carmela Dutra. Meu pai era militar da Aeronáutica e conheceu minha mãe na Paraíba. Ela é de Cabaceiras, onde foi filmado o filme o “Auto da Compadecida”. Hoje é um local até conhecido, mas antes quando eu falava dessa cidade, a galera ria um monte. Eu sempre morei no Estreito, em uma casa alugada de um tio, na rua Humaitá e meus avós moravam em frente à Praça Nossa Senhora de Fátima “aquilo era um buracão onde descia de rolimã e por lá tinha sapos e outros bichos” (risos). Meu pai era alvinegro e sempre nos levava aos jogos do Figueirense, tanto no Scarpelli quanto no antigo estádio Adolfo Konder. E outra influência foi o casamento de uma prima (a Márcia) com o ex-meia Luiz Everton (ídolo do Figueirense nos anos 1970). Ele e outros jogadores na nossa casa era algo muito especial. A paixão pelo clube só aumentava.
DE ONDE E COMO SURGIU A IDEIA DE CRIAR A BOBGUEIRA? NA ÉPOCA CHEGOU A OCORRER ALGUMA OBJEÇÃO OU PRECONCEITO?
Como a gente sempre ia aos jogos do Figueirense e a galera fica ali na pracinha do Balneário (Praça Renato Ramos da Silva), aquele local unia uma turma de alvinegros. Nós íamos para o Scarpelli naquelas bicicletas antigas, com aquelas catracas enormes (Risos). Até que um dia, coloquei uma imagem do Bob Marley na bandeira do Figueirense. E também levava um rádio a pilha, enorme e pesado para ouvir um reggae. Era engraçado, porque do nosso lado, alguém ouvia no rádio a transmissão dos jogos e nós ali ouvindo música. Aí atrás da trave, naquele breu na época das arquibancadas metálicas a turma foi aumentando. Até que que o amigo Sandro “Morcego” criou o nome Bobgueira. Foi a união do “útil ao agradável”: futebol, música e paixão pelo clube. Ah, preconceito sempre teve. Sempre teve piada. Mas hoje lembro disso com muitas risadas das frases que eu ouvia.
EM MARÇO, A BOBGUEIRA COMEMOROU 32 ANOS DE ATIVIDADE. NESSE PERÍODO QUAIS AS BOAS E INUSITADAS LEMBRANÇAS QUE VEM NA SUA MEMÓRIA?
As memórias são muitas. A final em Criciúma, as vitórias na Ressacada no clássico. Mas também tem as derrotas para o Avaí, né? (RISOS). E perder o clássico não é legal. E quando eu falo em perder, falo em não ir neste jogo, por causa do clima, da festa, da expectativa. É tudo muito diferente. Quem não conhece o clássico, não tem a ideia do que é. Lembro de jogos no Rio de Janeiro pela semifinal e final da Copa do Brasil de 2007. Quando eu pensei em chegar no Maracanã e ver ambulantes cariocas vendendo bandeiras do Figueirense? Quem não gosta de futebol bom sujeito não é. Lembro de um Senhor que sentava do meu lado, e no campo ele se transformava em outra pessoa. É isso, a Bobgueira está aí, 32 anos fazendo muita fumaça.
