A relação com a fé já era e continua intensa na vida de Hélio Zampier Neto, o Neto da Chapecoense. Há cinco anos, ele foi um dos seis sobreviventes do voo 2933, da companhia LaMia, que caiu na Colômbia, matando 71 jogadores e dirigentes do futebol, profissionais da imprensa e convidados.

O zagueiro esperou em torno de oito horas e foi o último a ser socorrido. Ficou 12 dias em coma, em um hospital da Colômbia, e precisou recuperar-se de diversas fraturas. Cinco anos depois, tornou-se um porta-voz dos direitos das famílias das vítimas da tragédia, ainda lida com as críticas do mundo do esporte como superintendente de futebol da Chapecoense, e continua levando sua Bíblia em todas as viagens.
Enquanto estava internado, em 2016, a Bíblia que Neto havia ganhado da esposa, foi encontrada pelo jornalista Roberto Cabrini, em meio aos destroços do avião. Foi devolvida para Simone, que afirmou emocionada: “é o primeiro item da mala dele”.
Quando foi achada, a Bíblia estava aberta no Salmo 63, conhecido como a “Oração contra o inimigo” ou “Anseio da alma por Deus”. Hoje, ela está guardada na casa da família. “Ficou como uma relíquia para nós, não manuseamos mais porque ela pegou muita chuva após a queda do avião. Mas está bem guardada”, conta o ex-zagueiro.

Cinco anos depois, coincidentemente ou não, Neto está em viagem a trabalho, na Europa. Mesmo em meio aos compromissos, conversou por vídeo com o ND+. Quando questionado se continua carregando uma Bíblia na bagagem e se havia levado o livro para esta viagem, fez questão de virar a câmera do celular e mostrar sua Bíblia ao lado da cabeceira.
“Ela continua sendo o primeiro item da mala. Sempre encontro uma palavra de conforto ou também uma palavra para me confrontar e me fazer ser melhor. Ela também auxilia na tarefa de rearmos a importância da fé aos nossos filhos, sem forçar nada, apenas com exemplos”, conta. Logo depois, recebemos uma foto de Neto com a Bíblia em mãos.

O Neto após cinco anos da tragédia 6r2524
Cinco anos após a tragédia, perguntamos ao Neto: “Quem é você hoje?” Com a resposta, percebemos a multiplicidade de “Netos” existentes. Naturalmente, enxergamos primeiro o ex-zagueiro e atual superintendente de futebol da Chapecoense, que tem aprendido a lidar com as críticas em razão de o time ter caído para a série B do Campeonato Brasileiro, e que, segundo ele, “tem sido alvo de muitas fake news”.
Enxergamos também o superintendente que visita, nesta semana, clubes de futebol em Lion e Madri para conhecer a gestão do futebol. “A Europa é tão evoluída em muitos aspectos, precisamos entender como eles trabalham e aproveitar para abrir ainda mais a marca da Chapecoense para fora do país”. O retorno está marcado para segunda-feira (29), para participar do evento “Pra sempre lembrados”, na Arena Condá.
O marido e pai de família 6c4p59
Depois, enxergamos o marido da Simone e o pai da Helen e do Helam. Ainda, olhamos para o filho, o irmão, e para o Neto escritor, autor do livro “Posso crer no amanhã” (2017). Ele não deixa transparecer, mas afirma existir um Neto cansado. “É um esgotamento físico, mental, emocional. Nos últimos cinco anos, tornei-me num cara que se doou muito, que tentou preservar o nome da Chapecoense acima de tudo”, relata.
Por fim, vimos um Neto que viaja para todos os cantos para defender os direitos dos familiares das vítimas da tragédia. “Meu alívio virá quando a Chapecoense e as famílias forem recompensados. O dinheiro não é tudo, sabemos, mas é uma forma de justiça. Nesse dia vou saber que minha parte foi feita”, afirma.

Um homem de fé 5g4o43
Por último, mas não menos importante, vimos um homem com muita fé em Deus. “Acredito que Deus fala comigo quando e como quer. E, às vezes, por meio de sonhos”, relata, ao perguntarmos sobre o sonho que teve dias antes de viajar, em 2016.
Na época, Neto contou que o sonho mostrava que ele estava num avião, era noite, chovia, e de repente tudo apagava, o avião caía, mas ele ficava vivo. “No dia da tragédia, comecei a pensar no sonho que tive e comecei a orar. Mandei uma mensagem para minha esposa, falei o quanto amava ela e nossos filhos, e pedi para ela orar por nós. Depois, embarquei no voo e foi aí que percebi que a vida é um sopro”, afirmou.
