Antes de começar, efetivamente, esse texto, eu gostaria de pedir licença àqueles que não me conhecem e àqueles que apenas acompanham meu trabalho. Esse texto será pessoal, de uma torcedora que, por paixão ao esporte e ao jornalismo, uniu as duas coisas e se tornou repórter esportiva. Este é um desabafo.

O coração vem sendo machucado há anos a fio, sequências de temporadas desastrosas dentro e fora de campo foram fazendo o JEC se encolher, foram fazendo o torcedor sair do céu dos títulos brasileiros e dos os ao inferno da desconfiança promovida e potencializada a cada mau resultado. Em 46 anos, o Tricolor viveu altos e baixos, mas nada, nunca tão baixo como agora. Este é, sem dúvida, o pior momento da história de um time que nasceu campeão e, nos últimos anos, parece ter desaprendido a vencer.
Há mais de 15 anos, minha paixão pelo JEC nasceu quando o time não tinha uma série para chamar de sua e me fez percorrer Santa Catarina, visitar estádios, virar noites em comemorações, ar horas na rua antes e depois dos jogos, ar mal na arquibancada ainda de cimento no sol e calor do verão, tomar chuvas torrenciais daquelas que faziam o moletom precisar ser torcido ali mesmo, na arquibancada.
Uma relação que me fez assistir a jogos da Copa Santa Catarina, em pleno domingo de manhã na Arena ville. Uma relação que me fez sair do estádio aos prantos quando aquela vaga na Série C escapou – momentaneamente – no jogo contra o América-AM, que me fez explodir de alegria no Mercado Municipal anos depois, que me fez voltar a chorar copiosamente nos seguidos rebaixamentos e que me fez derrubar lágrimas doloridas na eliminação contra o Uberlândia, mas não tanto quanto as do domingo (20).
O jogo contra o Próspera parece ter aberto um buraco ainda mais fundo do que aquele que, achávamos, era o limite. Sem série, na zona de rebaixamento e precisando fazer, em dois jogos, o que não fez em nove, o JEC vive o pior momento de sua história, uma história vitoriosa e que parece insignificante quando nada, nem ninguém consegue fazer o time reagir para, ao menos, evitar a humilhação da segunda divisão estadual.
A humilhação que aperta uma ferida aberta e cutucada ao longo dos anos ainda seria o menor dos problemas. Mas, há mais. Um rebaixamento que, no atual cenário, parece o desfecho mais provável, além de colocar o ville na Série B do Campeonato Catarinense, traça um futuro de, na melhor das hipóteses, três anos sem série no futebol nacional.
Três anos sem disputar o Campeonato Brasileiro. Três anos de ostracismo, de dívida se multiplicando, de enfraquecimento da marca. Na melhor das hipóteses, isso torcendo para que o time consiga o o no ano que vem e, ainda, a vaga por meio do Catarinense de 2024 para, voltar à Série D somente em 2025.
O pior momento do JEC foi construído ano após ano para eclodir, com requintes de crueldade para o coração tricolor, entre 2021 e 2022. A péssima campanha no Catarinense do ano ado, a eliminação mesmo com uma campanha de apenas uma derrota na Série D e o desastre no Estadual deste ano parecem ter sido as três pás de cal que faltavam em um roteiro que veio se desenrolando desde 2015, quando o time ainda estava na Série A.
E quando pensamos nesse recorte temporal, a história é ainda mais cruel. Em sete anos, o JEC saiu de um time de primeira divisão nacional para um clube sem série e rebaixado em um Estadual que, excluindo a excepcionalidade deste ano, não deveria representar um risco para o ville. Mas, a bola de neve de erros transformou o Catarinense em uma bala que se mostra fatal para o time e para a torcida.
O sentimento do torcedor é de decepção, misturada a uma tristeza que não cessa. Jogo após jogo. Jogadores am, comissão técnica a, diretores am, presidentes am, mas quem herda os frutos de gestões desastrosas, de times mal montados, de jogadores sem comprometimento com o peso dessa camisa, quem fica com tudo, é o torcedor.
O mesmo que ou anos sem série, que recolheu os cacos para apoiar o time e o impulsionou aos dois títulos brasileiros e ao retorno à elite. É essa torcida que, mais uma vez, terá que ser resiliente.
E quem ama o time vai continuar. O resultado machucou, o desfecho que se avizinha faz as lágrimas rolarem antes mesmo do martelo batido, mas nada disso é maior que o amor pelo preto, branco e vermelho. Ser torcedor do JEC é viver, diariamente, com as emoções à flor da pele, é entender que ninguém é maior que o clube.
O futuro é devastador. Eu, que cresci como torcedora e me tornei repórter, não imaginei, apesar das falhas, dos erros e dos resultados, que viveria esse momento novamente, potencializado, em tão pouco tempo.
Há inúmeros culpados. Jogadores, treinadores, diretores, presidentes. Todos têm sua parcela de culpa e todos precisam assumir sua responsabilidade, embora assumi-la não faça o tempo voltar e o desfecho mudar.
Ao JEC e ao torcedor resta apenas a certeza de que o time é grande, apesar das tentativas incessantes de diminuí-lo.
O JEC não merece, a cidade não merece, a torcida que segurou as pontas no ado e irá segurar novamente no presente e no futuro não merece o que desenharam para um time com essa história.
Mas, amar o JEC é ar por provações e permanecer e, ao contrário de quem jogou e cavou o fundo do poço para colocar o time lá, nós continuaremos.