Um sonho foi destruído no sábado, 2 de outubro de 2021, mas ele começou a ser trincado muito antes do segundo jogo das oitavas de final da Série D. O inferno da quarta divisão conseguiu ficar ainda mais cruel quando a Série D se transformou em pó, em nada. Um inferno que, apesar de cruel, cada torcedor tricolor gostaria de, ao menos, chamar de sua em 2022.

Os mais jovens vão viver pela primeira vez o que a imensa maioria da torcida já viveu: um ano sem calendário nacional. Em 2008 e 2009, o Tricolor viveu o pesadelo do limbo, de jogar Copa Santa Catarina, Catarinense e nada mais. E é isso que nos espera, novamente, em 2022.
Culpados? Todos. Para relembrarmos a trajetória dos últimos 13 anos em que o JEC saiu do nada para a elite e, mais uma vez, foi jogado no fundo do poço.
– 2008 e 2009: Sem série
– 2010: Série D e o para a Série C após irregularidade no América-AM
– 2011: Campanha irretocável e título da Série C
– 2012 e 2013: Série B
– 2014: Título da Série B
– 2015: Série A e rebaixamento
– 2016: Série B e rebaixamento
– 2017: Série C
– 2018: Série C e rebaixamento
– 2019 e 2020: Série D e eliminação na primeira fase
– 2021: Série D
– 2022: Sem Série
O JEC saiu do inferno ao céu em seis anos e despencou da elite para o inferno em outros seis. O desastre não aconteceu do dia para a noite, não foi construído por uma diretoria, não é fruto da irresponsabilidade e falta de profissionalismo, como muitos tentam pintar, de quem hoje está à frente do clube. Significa que não houve falha no processo deste ano? Não, erros foram cometidos, mas se hoje o JEC é um time que não tem calendário nacional, o fardo não pode cair em quem assumiu a bomba nos últimos 10 meses.
Importante lembrar que, atualmente, o JEC tem mais de R$ 45 milhões em dívidas e, ainda assim, conseguiu montar um time que nos fez sonhar novamente, após anos de elencos que eram limitados e aram longe de nos dar esperança de conseguir chegar onde o Tricolor merece estar.
O maior erro de 2021? Não dar o devido valor ao Campeonato Catarinense e prova disso é o fatídico 21 de abril, dia em que a derrota humilhante para o Hercílio Luz colocou uma pá de cal nas chances de garantir uma vaga na Série D do próximo ano e jogou toda a responsabilidade e pressão para essa temporada.
É claro que a diretoria errou em contratações, o que apenas alguém muito ingênuo para achar que não acontece em nenhum outro time. Jogadores vêm e vão, dão certo ou não e, no saldo final, o JEC terminou com um elenco muito acima do que seu curto cobertor de orçamento poderia nos deixar sonhar. Com mais acertos do que erros.
Após o Estadual pífio e a derrota dolorida e que nos deixou sem série, o time entrou nos trilhos, Leandro Zago chegou – bem questionado por parte da imprensa e da torcida – implantou um trabalho sério, plural, variado e que deu resultado: uma campanha sólida, com apenas uma derrota. A eliminação veio de maneira cruel, porque, como sabemos, a Série D é um inferno e nem sempre o futebol nos traz a justiça de ver um bom time classificado.

Mas, a eliminação nos escancara uma realidade que começou a ser construída quando ainda vivíamos o sonho da Série A. O JEC teve uma campanha de 7 vitórias, 10 empates e 21 derrotas, ficou na lanterna e voltou para a Série B. Na primeira divisão, o JEC chegou a ter 12 mil sócios e um dos erros que mostra, nitidamente, que sequer sabia como lidar com o aumento da torcida e de suas responsabilidades, foi parar de aceitar novas adesões de sócios, provando que estava “perdido” com a ascensão. E a queda livre começou novamente.
Neste processo, ações trabalhistas, salários não pagos, contratações equivocadas, contas que não fecham e uma bola de neve de dívidas que arrebentou a porta da Série D novamente. Enquanto no campo a situação se agravava, fora dele, naturalmente, a receita caiu, o número de sócios que superou a marca dos 10 mil chegou a míseros menos de 2 mil, patrocinadores saíram, outros diminuíram as cotas e o time se afundou.
Nos seis anos que separam o JEC da Série A do JEC sem série, presidentes falharam – e muito, diretorias erraram – e muito e deixaram o Tricolor cair, sem freio, no inferno que tanto nos custou sair.
A eliminação no último sábado fez muitos jogarem a culpa em Charles Fischer e quem está hoje no clube e eles têm, sim, sua parcela nessa conta, assim como Nereu Martinelli e sua diretoria, Jony Stassun e apoiadores, Marco Polo Cunha, Vilfred Schapitz e cada um que fez parte dessas diretorias porque, todos, absolutamente todos viram a tragédia se formando e ninguém foi capaz de frear.
Agora, mais uma vez, quem paga a conta é a torcida. É a cidade. É quem trabalha no clube sem um cargo de “destaque” e que, enquanto presidentes entraram, saíram e nada fizeram, continuaram mantendo a estrutura em dia, do jeito que o orçamento, cada vez mais curto permitia.
Quando um time fica sem série, sem calendário nacional, uma cidade inteira sofre, uma torcida do tamanho e com a paixão da torcida tricolor sofre, trabalhadores sofrem. Quando o JEC teve a materialização da destruição do sonho, no último sábado, os dedos imediatamente se apontaram para Leandro Zago, Leo Roesler, Charles Fischer, Edson Ratinho, Naldo, e todos que hoje povoam o CT, mas esses dedos não podem ficar tão em riste para uma diretoria, para um treinador, para um elenco.
O JEC não saiu da Série A para nada em um ano, o time não se afundou em dívidas em um ano, esse cenário foi construído tijolo após tijolo, em seis anos, por inúmeros diretores, conselheiros, dirigentes que, agora, apontam dedos, mas que precisam aprender a se responsabilizar. Todos têm culpa. Em seis anos, todos têm sua parcela. E quem está pagando e vai continuar pagando não é uma diretoria. Elas am, sempre am e, como se percebe, as responsabilidades são esquecidas, mas o JEC continua.
A queda não começou neste ano, começou há seis anos.