JAIRO MARQUES, THIAGO AMÂNCIO E RAFAELA MENIN
SÃO PAULO, SP, E CHAPECÓ, SC (FOLHAPRESS)
Dos 20 profissionais de imprensa mortos na tragédia aérea na Colômbia, que envolveu a delegação da Chapecoense, metade tinha menos de 35 anos e estava no início ou meio de carreira. A outra metade era formada por jornalistas com muita experiência e carreiras consolidadas.
Os grupos de comunicação Fox Sports, RBS, e Globo foram os que mais perderam profissionais. As empresas lamentaram a fatalidade.
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O mais jovem do grupo de brasileiros de imprensa era Bruno Mauri da Silva, 25, de Palhoça (SC), que trabalhava como técnico de externas na RBS TV havia quatro anos.
Os mais velhos eram todos da Fox Sports: o ex-jogador e comentarista Mário Sérgio, 66, o narrador Deva Pascovicci, 51, e o repórter Paulo Júlio Clement, 51.
Completam as perdas do canal esportivo Lilácio Pereira Júnior, 48, coordenador de transmissões externas, o repórter cinematográfico Rodrigo Santana, 35 e o carioca Victorino Chermont, 43, que nas palavras do também narrador Milton Leite, “a morte beira ao absurdo”.
“Ele estava no meu grupo de grandes amigos. Aquelas pessoas pelas quais você corre sempre que preciso, faz qualquer coisa para ajudar, estar próximo. Figura rara, ainda mais nesse meio de tanta vaidade que é a televisão”, disse Leite em sua página em uma rede social.
Dos jovens que estavam no avião, o repórter André Podiacki, 26, há uma semana celebrava a vida com o nascimento da sobrinha Antônia, de quem foi escolhido padrinho. Ele trabalhava havia quase seis anos no jornal “Diário Catarinense”.
Giovane Klein Victória, 28, nas palavras de seus amigos, era “muito bem humorado e divertido”. Trabalhava havia um ano e meio no Grupo RBS.
Professor universitário e repórter do site Globoesporte.com em Santa Catarina, Laion Espíndula, 29, era um entusiasta das plataformas online do jornalismo. Ele estava muito empolgado em poder acompanhar o jogo final da Copa Sul-Americana.
Do sul também era o cinegrafista Djalma Araújo Netto, 35, que deixa um casal de filhos.

Profissionais de rádios z5215
Entre as vítimas, há sete radialistas locais de Chapecó – só um deles sobreviveu. “Eles eram todos muito conhecidos aqui na cidade. São muitos anos de contato próximo com a população. Vamos ter que reconstruir não só o time, mas também todo o jornalismo esportivo aqui em Chapecó”, diz Ivan Carlos Agnoletto, diretor esportivo da rádio Super Condá.
Agnoletto soube da tragédia quando ligaram por volta de 1h30 à sua mulher com mensagens de pêsames por sua morte. O motivo: o nome dele está na lista de ageiros. Mas Agnoletto não viajou. Desistiu no sábado (26) para atender ao pedido de Gelson Galiotto, 41, também narrador da rádio e chapecoense fanático, que sonhava em fazer essa cobertura.
“Meu Deus, que desespero. Cai o avião, morre gente e quem está lá? O Gelson, que foi no meu lugar. Que desespero”, diz ele, ao lembrar do colega com quem trabalhava há 15 anos na rádio.
No mesmo voo estava outro jornalista da rádio, Edson Luiz Ebeliny, 39, conhecido como Edson Picolé. “Ele estava muito nervoso, apreensivo, mas não falou o porquê. Nos falamos pela última vez ontem [28] pela manhã. Desejou bom dia aos nossos filhos e disse que nos amava”, diz a mulher, Roberta.
Luis Carlos Agnolin, pai do jornalista esportivo Renan Agnolin, 27, conta que o filho costumava enviar uma mensagem no celular quando chegava. “Dessa vez ele não enviou. Tentei enviar um áudio para ele no WhatsApp, mas não tive resposta”, conta. “Este é o pior dia da minha vida, perder um filho desse jeito. E o perdi no que ele mais amava, na carreira de jornalista esportivo.”
Gaúcho, Renan foi morar em Chapecó há seis anos para estudar jornalismo e trabalhava como apresentador da RICTV, e como narrador da rádio Oeste Capital. Outro jornalista da rádio, Rafael Henzel, é um dos sobreviventes da tragédia. Também da RICTV, trabalhava Jacir Biavatti, morto no acidente.
Fábio Schardong soube da notícia da morte do irmão, Fernando, 48, quando estava ao vivo na rádio Chapecó. Também jornalista, estava de plantão desde a madrugada, conta o colega Mário Tomasi. “Tentamos não falar em morte, falar dos que eram encontrados com vida. Mas, quando confirmaram a morte por volta das 10h, o Fábio profissional deu lugar ao Fábio pessoal e foi cuidar da família”, diz ele.
À tarde, Fábio falou com a reportagem sobre a paixão do irmão. “Como radialista, meu irmão acompanhou toda a trajetória da Chapecoense, séries D, C, B e A. É um momento muito triste. Estamos esperando por mais informações oficiais e para ir reconhecer o corpo”, disse ele.
Também repórter da rádio Chapecó, Douglas Dorneles, foi outra vítima fatal da tragédia. Três jornalistas da Globo também morreram no acidente: o repórter Guilherme Marques, 28, e os repórteres cinematográficos Ari de Araújo Jr. e Guilherme Laars.
RICTV sofre com a perda de dois profissionais h2r
Um gauchinho de bem com a vida, como diria seu Luiz, pai de Renan. Um menino apaixonado por esporte desde os bancos da faculdade. Ainda enquanto cursava jornalismo, começou a carreira de locutor na rádio comunitária da Efapi.
Depois foi repórter de campo na rádio Super Condá, também em Chapecó. E em agosto de 2010 começou a escrever a história na RICTV, dividindo bancada com o comentarista Sergio Badá. Além de apresentar o bloco esportivo do jornal do meio dia, Renan também produziu e apresentou o programa RIC Esportes, que ia ao ar toda manhã de domingo.

Em 2013, o jovem repórter foi finalista do prêmio Acaert profissional de TV revelação. Humildade e irreverencia eram marcas do Renanzito, como era carinhosamente chamado pelos colegas. Nos últimos anos, o jornalista também integrava a equipe de esportes da Rádio Oeste Capital e ou a viajar com frequência para narrar os os da Chapecoense.
Da Série D, em 2009, até a Série A em 2013, a história do Verdão do Oeste foi contada por Renan. Diariamente o jornalista acompanhava o time e não escondia a paixão pelo clube. Renan havia acabado de voltar de uma viagem aos Estados Unidos. Durante as férias, ele noivou e em breve subiria ao altar com a companheira Cristiani Vicentini.
“Um jovem repórter que, aos 27 anos, deixou de contar histórias para a gente. Seguiu o time do verdão e o compromisso continuar narrando a trajetória do time, que não cansou de subir e agora chegou no céu”, afirmou a repórter e apresentadora da RICTV Chapecó, Fernanda Moro.
O irreverente J. Biavatti 391i3h
Jacir Biavatti, ou simplesmente J.Biavatti como gostava de ser chamado, tinha um jeito irreverente e peculiar de Se comunicar. O modelo foi copiado e autorizado pelo próprio Gil Gomes, ídolo dos áureos tempos de rádio e TV.
Assim, Biavatti contava suas histórias, a maioria delas sobre o jornalismo policial, sua paixão e vocação.
Jota sempre figurou entre rádios AMs e FMs, canais fechados de TV até chegar à RIC, onde, ao lado de João Rodrigues, contava de uma forma engraçada, fatos do cotidiano a partir do dia a dia dos distritos policiais. Não há no Oeste do Estado quem não tenha ouvido pelo, menos uma vez, o bordão: “Atenção todas as unidades, alerta, alerta.”
Mas nesta terça-feira, quando ouvidos o sinal de alerta, o aviso, não era ele informando, e sim, sendo um a noticia.
Os guerreiros da imprensa esportiva 1m125d
Por Mário Lima, narrador
Ivan Carlos, titular de esportes da Rádio Índio Condá, além de grande profissional é um grande cara. Tipo assim: desprovido de vaidades. No sábado, véspera do jogo da Chape com o Palmeiras em São Paulo, ouviu de alguns colegas que o sonho do seu outro narrador Gelson Galiotto era narrar o jogo em Medellín. Pois o Ivan, para prestigiar o colega, mudou a escala, providenciou toda a logística e chamou o parceiro para a viagem. De tantas viagens do Gelson com a Chapecoense esta foi a última. Foi um dos 21 colegas que perdemos na tragédia da noite colombiana. Os caras que fazem a cobertura esportiva são guerreiros. Sem limites. Sem cansaço. Sem fome. Às vezes sem grana. Tem sempre uma solução. A cobertura vai sempre para o destino. Mas para esses companheiros da crônica esportiva que caíram antes do combate no Atanasio Girardot a fatalidade não deu chance.
As viagens aéreas e rodoviárias são rotina para os que cobrem o futebol. Não metem medo ao povo dos microfones, das câmeras e das canetas. Só o que importa é fazer a emoção para ouvintes, telespectadores e leitores. Os que nos ouvem ou lêem parecem fazer parte do nosso habitat. Sentimos isso. No meu caso, ao abrir a microfone na minha cidade ou em qualquer parte do mundo.
O futebol nos leva às mais incríveis situações. Na Venezuela, por exemplo, ficamos eu (pela Rádio Bandeirantes) e os colegas da Guaíba e da Gaúcha junto à delegação do Internacional confinados em um hotel fora de Caracas durante uma semana. A capital venezuelana estava em conflito, mas transmitimos o jogo mesmo com bombas e tiros fora do estádio e sem público dentro.
Os que ficaram nas montanhas de Medellín na madrugada desta terça-feira nunca sentiram medo de nada. Estavam indo para fazer emoção e contar um capítulo grandioso do futebol catarinense e brasileiro. Outros farão isso. Eles, os 21 que caíram, agora são a história.
O perfil dos jornalistas 162i4o
André Podiacki (RBS) – Natural de Florianópolis, André era repórter do jornal Diário Catarinense desde 2011. Tinha 26 anos e atuava como setorista da Chapecoense.
Ari de Araújo Jr. (TV Globo) – Era reconhecido como um dos mais talentosos profissionais de imagem do Brasil. Nasceu em Trindade, no estado de Goiás. Começou como porteiro na TV Serra Dourada, afiliada do SBT. Virou repórter cinematográfico na TV Anhanguera, afiliada da Rede Globo. Depois de ar pela Globo São Paulo, estava na Globo Rio desde 2012. Seu trabalho mais conhecido foi o programa Planeta Extremo. Participou da cobertura de Copa do Mundo e Olimpíada.
Bruno Mauri da Silva (RBS) – Técnico de externas, estava na emissora desde 2012. Atuou ainda como operador técnico. Tinha 25 anos.
Devair Paschoalon (FOX) – Conhecido por Deva Pascovicci, era narrador da Fox Sports. Tinha 51 anos e nasceu em Monte Aprazível, São Paulo. Começou narrando por emissoras do interior até chegar à extinta TV Manchete, no início dos anos 90. Em 1995 foi para o SporTV e ficou até 2004. No ano seguinte, foi para a CBN. Estava desde o início de 2016 na Fox.
Djalma Araújo Neto (RBS) – Aos 35 anos, era repórter cinematográfico da RBS TV. Tinha 13 anos de empresa.
Douglas Dorneles (Rádio Chapecó) – Comentarista da emissora.
Edson Luiz Ebeliny (Rádio Super Condá) – Repórter da emissora.
Fernando Schardong (Rádio Chapecó) – Narrador da emissora.
Gelson Galiotto (Rádio Super Condá) – Narrador da emissora.
Giovane Klein Victória (RBS) – Repórter da RBS TV, o jornalista tinha 28 anos. Trabalhou também na TV Pampa, em Porto Alegre.
Guilherme Marques (TV Globo) – Completou 28 anos no último dia 25 de novembro. Estudou na Escola Parque e se formou em jornalismo pela PUC Rio. Foi estagiário do GloboEsporte.com e ou pela TV Brasil, antes de voltar à Globo para trabalhar como produtor e repórter esportivo da TV em 2013.
Guilherme Van der Laars (TV Globo) – Completou 43 anos no último dia 20 de novembro. Trabalhou no LANCE! e no Jornal Extra antes de se tornar produtor esportivo da TV Globo. Trabalhava na equipe do ”Esporte Espetacular”.
Jacir Biavatti (RIC TV e Rádio Vang FM) – Era comentarista esportivo da TV há quatro meses. Viajou para fazer a cobertura da partida para a rádio.
Laion Espíndola (GloboEsporte.com) – Nascido em 23 de outubro de 1987, Laion era jornalista do GloboEsporte.com em Santa Catarina. Antes, trabalhou nos jornais O Sul e Correio do Povo. Também ou pelo Grupo RBS, todos em Porto Alegre. Atuava como setorista da Chapecoense há dois anos.
Lilacio Pereira Jr. (FOX) – Aos 48 anos, Lilacio era coordenador de transmissões externas.
Mário Sérgio (FOX) – Ex-jogador e ex-treinador, tinha 66 anos e era comentarista do canal de TV Fox Sports. Defendeu a seleção brasileira e atuou por Flamengo, Vitória, Fluminense, Botafogo, Internacional, São Paulo, Palmeiras, Grêmio, entre outros.
Paulo Julio Clement (FOX) – O jornalista Paulo Julio Clement, 51 anos, era comentarista do canal. Foi diretor de esportes do Sistema Globo de Rádio. ou também pelos principais jornais do Rio de Janeiro. Foi repórter de O Globo e editor de Esportes do Jornal do Brasil. Também trabalhou no Marca Brasil, como editor.
Rafael Henzel (Rádio Oeste Capital) – Único jornalista sobrevivente. Narrador da rádio, Rafael tem 43 anos, é casado e tem um filho de nove anos. Começou a carreira aos 17 anos na rádio. Após sair de Chapecó, trabalhou no Rio e em Volta Redonda. Voltou para a cidade catarinense há seis anos. Tem um programa diário, chamado Som e Café News. Acompanha a Chapecoense em todas as viagens. Foi um dos seis sobreviventes do desastres.
Renan Agnolin (RIC TV Rádio Oeste Capital) – Aos 27 anos, Renan atuava como repórter da rádio apenas em jogos da Chapecoense. Também trabalhava para a Ric TV, afilhada da TV Record em Chapecó e ancorava o programa Jornal do Meio-Dia.
Rodrigo Santana Gonçalves (FOX) – Rodrigo era repórter cinematográfico da emissora. Tinha 35 anos.
Victorino Chermont (FOX) – Repórter, tinha 43 anos e estava na Fox Sports. Trabalhou na Rádio Globo e SporTV até 2012, quando mudou de emissora.
Com informações da Folhapress.