Saudável, de forma planejada, com as contas em dia. Essas três características descrevem o Criciúma Esporte Clube que, no último final de semana consolidou sua hegemonia em Santa Catarina ao conquistar seu 11º título estadual.
Candidato a uma das quatro vagas à Série A de 2024, o gigante carvoeiro precisou ar pelo vale das sombras para, nesse momento, despontar como o principal nome do Estado na Série B do Campeonato Brasileiro.
Para entender esse ressurgimento é preciso voltar um pouco no tempo.
Era quase meia-noite do dia 21 de abril de 2021. O Criciúma, ao ser derrotado pelo Avaí por 1 a 0, dentro de casa, consolidava um inédito e vexatório rebaixamento à Série B do Campeonato Catarinense.
Àquela altura, o clube não tinha nem condições de pensar que, em um mês, teria que dar início a mais uma tentativa de escalar a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, já que duas temporadas antes fora rebaixado também em escala nacional.
Era o fundo do poço para uma instituição que, no início da década de 2010, media forças com os principais clubes do Brasil – quiçá da América do Sul.
O símbolo do drama foi personificado na figura do então presidente Anselmo Freitas que, em entrevista coletiva após a derrota para o Leão da Ilha, chorou diante da imprensa e comunidade carvoeira.
Empresário Anselmo Freitas, ex-presidente do Criciúma – Vídeo: Diogo de Souza/ND
Mal sabia Anselmo que aquele momento também foi determinante para uma virada de chave que representou o renascimento de um dos clubes mais cativantes do Brasil.
Antiga gestão e o pivô da retomada 495d5m
O Criciúma tem uma das torcidas mais onipresentes e respeitadas do Brasil. Não só pelas cores que usa e pela maneira que torce, mas pela onipresença mundo afora. Pois foi esse adepto o grande responsável por recolocar o Tigre nos trilhos a partir de um caso de amor, fidelidade e fanatismo.
Esse laço, no entanto, só começou a ser resgatado depois que o clube refez seu modelo de gestão. Antes istrado por uma empresa, o Criciúma viu a estrutura ruir depois que o seu torcedor, incomodado, simplesmente “abandonou” o clube durante a presidência de Jaime dal Farra.
“Ele pegou o clube pra ele e conseguiu ‘correr’ todo mundo. Quanto menos torcedores viessem para xingá-lo, melhor”, contou uma fonte consultada pela reportagem do Arena ND+.
Em 2011 o Criciúma ou a ser istrado pelo Grupo GA, e se manteve dessa forma até o fim de 2020 quando o então presidente Dal Farra decidiu por renunciar e deixar o clube “acéfalo”.
Foi então que os conselheiros definiram o nome de Anselmo Freitas para o chamado “mandato-tampão”.
“Ele (Dal Farra) entregou o clube formalmente. Estava sem dívidas, mas com o caixa zerado”, relembrou Freitas, em entrevista concedida ao Arena ND+ no alto do edifício Due Fratelli, no centro de Criciúma.
“O torcedor estava desanimado, achava que o clube não era mais dele. Nós tínhamos uns 1.400 sócios sendo que eram 800 ou 900 adimplentes.”
O Criciúma é Nosso 22332r
Começa pelo slogan acima o atual momento institucional e desportivo do Tigre. Foi com esse lema que o ex-presidente Anselmo Freitas deu início ao processo de restruturação – ainda em curso – de uma das maiores forças do futebol do sul do Brasil.
Mesmo com a queda à Série B do Catarinense, chegou à marca dos 5 mil sócios. Com uma versão bastante controversa, o Tigre, em nível nacional, conseguiu chegar à 4ª fase da Copa do Brasil de 2021 onde arrecadou “um importante dinheiro” para fazer seu futebol no segundo semestre.
O tricolor do Sul de Santa Catarina, mesmo “capenga”, conseguiu se desvencilhar da Série C do Campeonato Brasileiro ao avançar ao quadrangular final, e ficar com uma das quatro vagas à Série B do ano seguinte.
Essa retomada, é claro, refletiu no número de sócios, que pulou para 10 mil pessoas. Os torcedores deram mais uma demonstração de fidelidade no ano seguinte, 2022, quando o time ou quase cinco meses sem calendário em meio à devastadora pandemia do coronavírus.
Além da sua participação na Copa do Brasil, o Criciúma precisou esperar o começo da segunda divisão de Santa Catarina e a segunda divisão do Brasil, que começam entre o final de abril e o começo de maio.
“É quase inacreditável, mesmo sem calendário, nosso torcedor comprou a ideia, se associou e pagou em dia, mesmo em tempo de pandemia. Teve a situação da Copa do Brasil que também conseguimos levantar um bom recurso”, incluiu Anselmo.
Curva ascendente do futebol do Tigre 6k4j5y
Tudo o que o time teve que se preparar e se concentrar, precisou descontar no semestre seguinte. Em dado momento, o Criciúma chegou a disputar Série B do Catarinense, Copa do Brasil e Série B do Brasil.

“Nós chegamos a jogar em intervalos inferiores a 48h devido ao calendário comprimido e o ineditismo do nosso patamar”, relembrou Paulo Cesar Bitencourt, gerente istrativo e financeiro do Criciúma.
No último final de semana, em Brusque, o Criciúma só confirmou a condição de favorito que ele mesmo se colocou no início da temporada de 2023.
Mais que isso: o Criciúma é, nesse momento, o atual campeão da Série A e da Série B em Santa Catarina em uma clara demonstração de soberania no futebol local.
Espinha dorsal identificada nn
“Hoje a gente sabe quem é a escalação do Criciúma. Ou, ao menos, a gente reconhece e consegue entender quem é quem”. O depoimento foi dado pelo vice-presidente da barra-brava Os Tigres, Fabiano Coelho, 36 anos e de empresas.
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Fabiano, ao ser perguntado, até é impreciso ao apontar um “ídolo” nesse momento do clube. “Eu não consigo dizer só um nome”, justificou, antes de lembrar Romulo, Rodrigo, Claudinho, Gustavo.

O goleiro Gustavo, o zagueiro Rodrigo, o volante Arílson, o lateral Hélder. Esses são alguns dos nomes do Criciúma que, para quem não conhece, parecem estranhos, mas para os torcedores são personagens fundamentais nesse reaparecimento do clube.
Todos eles estiveram na campanha do o à Série B do Campeonato Brasileiro, em 2021, bem como o rebaixamento para a segundona estadual. Em comum o fato de que, mesmo depois dessa situação, estão no estádio Heriberto Hülse e hoje gozam da condição de campeões estaduais.
“É com muita felicidade [a trajetória no Criciúma], comecei em 2021, peguei o clube numa transição. Lembro quando eu cheguei, quase não tinha atleta aqui. Era um momento de transição e o clube estava machucado”, relembrou o goleiro Gustavo, de 30 anos, que está prestes a completar 99 jogos com a camisa carvoeira, marca que deve ser consolidada no jogo contra o Tombense.
Crença nos processos e na saúde financeira 11mv
Hoje o Criciúma é um clube saudável. Sem dívidas, com um quadro associativo de 18 mil pessoas e um leque de 125 parceiros entre apoio e patrocínio, o clube tem todas as prerrogativas para, depois de dez anos, voltar à Série A do Campeonato Brasileiro.

Rebaixado em 2014, o Tigre nunca esteve tão perto de frequentar novamente os principais palcos do futebol brasileiro e, mais que isso, receber as principais camisas no intimidador estádio Heriberto Hülse.
“O Criciúma tem, hoje, o segundo melhor CT [Centro de Treinamento] do sul do Brasil, tem estrutura física, tem estrutura de recursos humanos, que permite o clube sonhar e voltar para a Série A do futebol brasileiro”, projetou o presidente Vilmar Guedes, que assumiu no lugar de Anselmo Freitas e é pertencente à mesma gestão.
Sem querer falar no ado “para não arranhar pessoas que por aqui aram”, Guedes ainda deu uma declaração mais contundente sobre o momento vivido pelo clube e o que está no horizonte:
“Queremos voltar à elite do futebol brasileiro, não para ear, mas por um período longo.”
O maior patrimônio do Criciúma 5u1f6r
Não há nada mais valorizado em um clube de futebol que o seu torcedor. Com o Criciúma, isso é diferente. Não que ele não conte, mas essa travessia dos últimos anos mostra que o adepto tricolor é o grande protagonista dessa retomada.

“É a retomada da confiança, da esperança, do motivo para fazer sorrir. Hoje o torcedor tem prazer e orgulho de dizer que torce para o Criciúma”, observou o presidente Guedes.
A reportagem do Arena ND+, em uma imersão na cidade de cerca de 200 mil habitantes, constata exatamente isso.
Viviani Olimpio é gerente de marketing e comercial do Criciúma; apenas mais um elo na corrente que leva o Tigre ao topo do Estado – Vídeo: Caio Marcelo/Especial para o ND
O time, as cores e as alusões ao Criciúma estão em toda parte da cidade. Nas sacadas, nos outdoors, nos carros, nas ruas. O Tigre, nesse momento, é soberano desde os rodapés aos topos da cidade. Azar dos adversários que veem o renascimento de um clube colossal.