Anteontem: rota de navegação, banhos, pescarias.
Ontem: lodo fétido, água contaminada, poluição despejada na baía Babitonga.
Hoje: areia onde há lodo, fim da fedentina, muita vegetação, tilápias, biguás, garças, capivaras e até jacarés.
Amanhã: a ver.
Esta seria uma “linha do tempo estilizada” do rio Cachoeira, um dos símbolos de ville. O “anteontem” seria o rio desde o início da colonização, em meados do século 19, até a metade do 20.
O rio era limpo, piscoso e servia ao transporte fluvial, ligando o Centro de ville à baía da Babitonga e ao porto de São Francisco do Sul. Os primeiros imigrantes europeus a chegar à então Colônia Dona Francisca fizeram de barco o trajeto até onde hoje é o Centro de ville. Além da navegação comercial, o rio também servia como raia para as competições de remo.
O “ontem” começa em meados do século ado, quando o processo acelerado de industrialização fez a cidade crescer rápida e desordenadamente. Sem qualquer tipo de tratamento, os efluentes industriais eram despejados diretamente no rio.
Como não havia rede de esgoto, também os dejetos residenciais tinham como destino o rio e seus afluentes. Da metade até o final do século, a qualidade do rio foi piorando: assoreado, já não permitia navegação; poluído, espalhava mau cheiro, potencializado quando a maré baixava; vida, só dos mosquitos.
A partir da virada do século, com mais rigor na legislação ambiental e o início da coleta domiciliar de esgoto, a situação foi melhorando. O “hoje” mostra um rio menos poluído, abrigando mais vida – ainda que o assoreamento esteja em situação crítica.
Ambientalistas buscam recuperação 1i3u5g
E o “amanhã”, como será? Uma resposta vem do ambientalista e jornalista Altamir Andrade, fundador da ONG ambiental Instituto Viva Cachoeira, hoje a Oscip Viva Cidade.
“Na última década vimos uma melhora significativa nas condições do rio. A qualidade da água subiu, pois a maioria das indústrias deixou de despejar seus efluentes não tratados no rio; algumas ainda o fazem, porém. E, apesar de recebermos denúncias frequentes de despejo domiciliar clandestino, a rede de esgoto trouxe um alívio ao rio e seus afluentes”, detalha Andrade.
Enquanto ele falava ao repórter, sobre a arela Charlot, a maré ainda alta permitia ver dezenas de tilápias – comestíveis, garante o ambientalista, como na hora atestavam os “pescadores” biguás, saracuras e uma bem nutrida capivara nadando rio abaixo.
Em março, a Prefeitura de ville lançou um edital para revitalizar o boulevard do rio Cachoeira. Serão revitalizados o mobiliário urbano, comunicação visual, paisagismo e infraestrutura urbana. O objetivo é criar um cenário mais humanizado, promovendo o convívio social e a integração com o rio.
Estratégias para recuperação 4x51s
Altamir Andrade, que também é conselheiro do Grupo Pró-Babitonga, demonstra otimismo quanto ao futuro do rio, mas condiciona a expectativa a alguns fatores: desassoreamento, substituição das figueiras, expansão da rede de esgoto e reabertura do canal do Linguado.
O otimismo é compartilhado por outro ambientalista, o executivo José Mário Gomes Ribeiro, CEO da Döhler e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Cubatão e Cachoeira – ou simplesmente Comitê Babitonga.
“Hoje há vida no Cachoeira, como não havia durante quase meio século. Com o avanço no tratamento de efluentes, o rio vai dar um pulo nos próximos dez anos.”
Monitoramento e conscientização n405o
“Fazemos baterias periódicas de monitoramento nos rios Cachoeira e Cubatão. Os resultados das análises mostram a evolução dos últimos anos e as boas perspectivas para a bacia em geral”, diz Gomes Ribeiro.
Além do monitoramento, o Comitê desenvolve outras ações, como um programa de cursos de conscientização voltados às crianças da rede escolar, coordenado pela educadora ambiental Izabel da Silva Liberato Speckhahn.
Altamir Andrade e José Mário Gomes Ribeiro são dois dos muitos ambientalistas e profissionais voltados ao esforço de resgatar o rio Cachoeira. Um deles é Milton Wendel, criador da ONG Parque da Bacia do Cachoeira. Outro é o artista plástico Ademar César dos Santos, fundador do instituto que leva seu nome, dedicado à cultura e à preservação ambiental.
Símbolo de ville 6j5e1p
Eternizado até no hino de ville (…“Às margens do rio Cachoeira / Um dia o audaz pioneiro / Plantou do trabalho a bandeira / E se deu, corpo e alma, ao torrão brasileiro”), o rio Cachoeira tem 14 quilômetros de extensão, inteiramente localizados na cidade de ville.
Nasce no bairro Costa e Silva e recebe diversos afluentes, como Morro Alto, Mathias, Jaguarão, Bucarein, Bom Retiro e Boa Vista. Atravessa o Centro da cidade e deságua na lagoa do Saguaçu, parte da baía Babitonga, percorrendo nove bairros.
A bacia hidrográfica ocupa uma região plana: a nascente encontra-se a 40 metros acima do nível do mar. A foz é caracterizada por estuário sob a influência de marés e onde se encontram remanescentes de manguezais.
Em marés altas, principalmente nas luas cheia ou nova, há uma inversão do fluxo de água em mais da metade de seu percurso, o que causa entrada de água salgada muitos quilômetros a montante da foz.