Após quase 50 anos desde que o primeiro projeto para o aterro da baía Sul, no Centro de Florianópolis, foi elaborado, pouco, ou quase nada, foi realizado. O renomado paisagista Roberto Burle Marx é o autor do projeto.
Ele imaginou edifícios âncoras – inclusive uma sede do governo estadual – imersos em um parque urbano com paisagismo, vegetação nativa, além de uma orla diferenciada, reativando a relação do local com o mar. Mas como lembra o arquiteto e urbanista Bernardo Brasil a área continua abandonada.

“O próprio projeto dos calçamentos, do paisagismo, nunca foi totalmente entregue. O que faltou foi humanizar. Como ficou um projeto inacabado, as pessoas não usaram”, registra Brasil. Segundo o especialista, a ausência de pessoas levou à falta de valorização, investimentos e de continuidade no projeto inicial.
Na sequência, edifícios, como o Centro de Eventos, uma estrutura da Polícia Civil, outra da Casan e a arela Nego Quirido ocuparam o espaço e só em 1997 o arquiteto André Schmitt elaborou novo projeto para o aterro da baía Sul. Ele venceu um concurso da prefeitura e visava promover dois movimentos e dois eixos na área, segundo Brasil.

Segundo o projeto de Schmitt, o mar chegaria novamente perto do Mercado Público e assim voltaria a fazer parte do cenário de um dos cartões-postais de Florianópolis. Os dois eixos ocupariam com edifícios institucionais e comerciais. Um deles seria um novo Miramar, prédio que marcou época na Capital. O projeto, entretanto, também não saiu do papel.
Na gestão de Cesar Souza Junior (2013 a 2017), o Ipuf (Instituto De Planejamento Urbano de Florianópolis) também fez um projeto para o aterro da baía Sul, criando novo eixo em direção ao Centro-sul, com comércio popular, mirando o público que frequentava o antigo camelódromo. Mais um projeto que ficou no campo das ideias e não foi adiante.
Parceria pública-privada é alternativa 311e29
Para o arquiteto e urbanista Bernardo Brasil, considerando que existem ao menos três ótimos projetos para a área, é preciso uma leitura do território para concepção de um projeto futuro, abrangendo a totalidade da área.
“Se queremos um parque urbano, com edifícios comerciais, precisamos dar essas diretrizes. Pode ter uma parceria público-privada, mas imagino que é preciso um debate”, defende Brasil.

Coordenadora do movimento Floripa Sustentável, Zena Becker, sugere que a parceria entre entidades públicas e privadas resolva a situação no aterro da baía Sul.
“Não temos dúvidas, tem que ser a iniciativa privada, junto a com o poder público, a definidora de um projeto para que realmente a área saia do abandono absurdo que vem acontecendo”, comenta Zena.
Prefeitura pretende ativar um espaço para turistas 436ig
O secretário municipal de Mobilidade e Planejamento Urbano, Michel Mittimann, lembra que o aterro da baía Sul é um acréscimo sobre o mar, que veio na esteira da construção do sistema viário, para a obra da primeira e, mais tarde, da segunda ponte que conecta a ilha ao continente.
Conhecedor dos projetos anteriores para o aterro, Mittimann avalia que todos são desconectados de uma estratégia urbanística gradual. Ele disse que o trabalho no Largo da Alfândega e o projeto de revitalização do Centro-Leste pertencem à proposta de estratégia urbanística da prefeitura para a cidade e que estas são as bases para um processo gradativo de recomposição do aterro.
“Achamos que não adianta termos um projeto grande, sem uma estratégia de como superar ele ao longo do tempo”, disse o secretário.

Segundo Mittimann, os contratos de concessões do centro de eventos e dos terminais estão perto do fim e essas variáveis são consideradas pela prefeitura em relação ao aterro da baía Sul. Ele afirmou que um centro de recepção turística será colocado no espaço.
“Ou seja, em vez de grandes estratégias, pequenas estratégias mais pontuais e acreditamos que teremos mais sucesso nesse processo”, pondera o secretário.
*Com informações de Daniela Ceccon, repórter da NDTV.