A concessão de uso do terreno do aterro da Baía Sul, no Centro de Florianópolis, venceu no mês de novembro. A Prefeitura disse que entrou com os documentos para continuar com a concessão do terreno. No entanto, a outra parte do aterro ainda está abandonada.

A área de 400 mil m² seria totalmente urbanizada, voltada para o mar da Baía Sul, com atrativos para moradores e turistas. Mas o projeto original, feito há 50 anos, nunca foi totalmente concluído.
O aterro da Baía Sul começou a ser feito no início dos anos 1970. Foram 2 milhões de m³ de areia, retirados do meio da Baía Sul. E quando o aterro ficou pronto, começaram as obras da Ponte Colombo Salles, inaugurada em março de 1975.
De lá pra cá, a obra do aterro, inacabada, teve pouco uso. Do projeto inicial, feito pelo arquiteto urbanista Roberto Burle Marx, pouca coisa restou.
O funcionário público Roni Manoel Silveira é manezinho, nascido e criado em Florianópolis, e lembra bem quando frequentava o aterro da Baía Sul durante a infância: “Eu era criança. Tinha festival de pipa, a gente vinha aqui. Saía da escola, vinha para cá, jogava futebol, tinha um campeonato de futebol aqui. Era uma área de lazer e hoje eu vejo um abandono. a gente a aqui, não sente nem segurança.”
O desabafo do professor de Arquitetura da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) César Floriano dos Santos revelou o sentimento de quem espera por uma área pública de frente para o mar, há pelo menos 50 anos, e nada foi feito até hoje.
“Uma cidade como Florianópolis, uma cidade turística, com um perfil como nós temos, de frente para o Continente, para o Cambirela, uma borda d’água maravilhosa exatamente entregue às traças. Vários projetos já foram desenvolvidos, falta de projeto não foi. Fazer aquele ponto ali ser um ponto de referência, como outras cidades portuárias mundo afora fizeram, Lisboa, no Brasil nós temos vários exemplos de cidades, Porto Alegre está fazendo agora com a revitalização do Guaíba. Por que Florianópolis não?”, questionou ele.

A revolta do professor tem fundamento. O primeiro projeto de Burle Marx ficou pela metade, e só sobraram algumas palmeiras. O segundo era do Parque Metropolitano Dias Velho do arquiteto André Schmidt e previa até um canal artificial entre a Estação de Tratamento de Esgoto da Casan e o Centro de Convenções, além de uma área gastronômica de frente para a Baía Sul. O arquiteto morreu em 2019 e o projeto dele nunca saiu do papel.
O próprio professor César Floriano projetou uma arela jardim que iria interligar o terminal de ônibus ao mar, mas a proposta também não decolou.
“Nós desenvolvemos esse projeto em cima de uma demanda do Ministério Público e essa resposta foi aprovada pelo Patrimônio da União, pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Então, nós tínhamos um projeto praticamente pronto para ser detalhado e executado. Não foi para a frente”, contou Santos.
Parte do aterro deu lugar ao Terminal Central de Florianópolis. A parte do meio continua abandonada e a outra vem servindo como estacionamento de ônibus. A SPU/SC (Superintendência do Patrimônio da União), até a produção desta reportagem, ainda não havia recebido o pedido de renovação do contrato.
Segundo o superintendente da SPU/SC, Nabih Henrique Chraim, “qualquer ente público federal, estadual, municipal pode fazer a requisição da área, porque hoje a área está disponível. Até mesmo, com base na lei 14.011, essa área poderia ser vendida. Existe hoje a proposta de aquisição de imóveis do governo federal”.
A Prefeitura de Florianópolis explicou que já deu entrada nos documentos para manter o terreno nas mãos do Município. O superintendente de Turismo da Capital, Vinícius de Lucca, contou que está sendo feito um grande projeto que elimina o estacionamento para dar lugar a uma área de lazer.
“A Prefeitura tem um projeto que tá sendo executado pela Secretaria de Mobilidade e Planejamento Urbano, que é de integração de diversas áreas do Centro. Por exemplo, essa região extremamente central é uma região que vai conectar toda a região do Centro Leste, o Centro Antigo, que começa sua revitalização a partir do dia 3 de janeiro. Unindo também com o novo Largo da Alfândega, unindo também com a nova área de concessão do Centro de Convenções e da arela do Samba”, disse o superintendente.
Agora, aos mais saudosistas da antiga área aberta do aterro, resta esperar pra ver se finalmente a tão sonhada urbanização do aterro da Baía Sul vai mesmo ser concluída, mesmo com 50 anos de atraso.
Confira mais informações na reportagem do Balanço Geral Florianópolis.