Quem transita diariamente entre o Centro de Florianópolis e qualquer outra região da cidade, já está acostumado a lidar com longas filas e horas no trânsito.
Não importa se o deslocamento é em relação ao Sul da Ilha, Norte, Leste ou Continente, as vias principais que ligam as áreas com o Centro da cidade constantemente lidam com uma movimentação intensa.
Cidade de alta procura turística, esses problemas de mobilidade urbana em Florianópolis se multiplicam durante a temporada de verão, mas o aumento de moradores fixos no município já ocasiona uma situação alarmante mesmo fora do período de veraneio.

Corrigir a mobilidade é uma das principais urgências relatadas pela própria prefeitura na proposta de revisão do Plano Diretor.
“Criar condições para uma mobilidade sustentável” é mencionado como um pilar da revisão, e promove intensos debates entre a sociedade.
Prefeitura aposta em ‘bairros completos’ 10174x
A elaboração da revisão do Plano Diretor reconhece a “necessidade de diminuir os deslocamentos, que hoje se concentram no sentido bairros-centro, sobrecarregando o sistema viário”.
De acordo com a proposta do município, o objetivo é favorecer e estimular a mobilidade sustentável através de “bairros completos”, o que inclui modais de mobilidade ativa, ampliação de infraestrutura viária, corredores exclusivos para ônibus e um aumento na oferta de comércios e serviços nos bairros, para evitar que longos deslocamentos sejam necessários para os moradores.
Multicentralidades e adensamento populacional como formas para aliviar o trânsito l5i37
Ainda de acordo com o diagnóstico da prefeitura, “poder de atratividade é o termo chave para entender o conceito de centralidade urbana”.
A ideia é evitar uma única centralidade, visto que “cidades com várias centralidades “apresentam opções de compras, serviços e empregos em diferentes regiões de seu território, o que reduz o tempo gasto com deslocamento e reduz todos os impactos sociais e ambientais consequentes disso”.
Para promover esse “modelo ideal” em Florianópolis, a proposta identifica 10 centralidades no município. A proposta verifica que a oferta de serviços e comércios por pessoa residente na região Central chega a ser, em média, mais que duas vezes maior do que para os moradores de distritos mais afastados.
“As análises acusam o surgimento de potenciais centralidades secundárias, principalmente na região Norte, nos distritos dos Ingleses e de Canasvieiras, na região Central, próximo aos bairros Trindade, Santa Mônica e Saco Grande e também, com um pouco menos de peso, na região Sul, distrito do Campeche”, aponta o documento.
Professor teme que “remédio vire veneno” a174h
O professor de arquitetura e urbanismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Lino Bragança Peres, afirma que concorda com o intuito da proposta, mas teme a sua execução no município.
“O tempo de deslocamento deum morador de Florianópolis é muito grande, mesmo comparado com cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que são muito maiores. A ideia em si, de promover bairros completos, é importante. Mas o modelo de fundo está distorcido”, diz.
Segundo ele, a mobilidade urbana deve ser pensada comum a visão metropolitana, e não municipal.
“O modelo está concentrado em empregos na Capital e na grande Florianópolis, e grande parte dos moradores estão concentrados na parte periférica. Assim, a cidade exclui esses moradores”, observa.
O professor de Arquitetura e Urbanismo teme alguns pontos da medida.
“Ela pode fomentar a concentração imobiliária e expulsar ainda mais a população de baixa renda. Hoje já está acontecendo uma verdadeira guerra, falta fiscalização. O diagnóstico é bonito, mas é incompleto”.

E quais seriam as soluções para o sistema de transporte coletivo? 2z493l
“Corredor de ônibus. A prefeitura começou a abrir na rua Deputado Antônio Edu Vieira, mas está parado até agora. Tem que implantar na Ilha inteira”.
Outra medida mencionada são ônibus circulares, interligados com a região metropolitana. Além disso, o professor destaca que o sistema de transporte deve ser implementado de forma combinada com outras alternativas.
“O transporte marítimo, que é uma novela de 40 anos. Vão fazer uma marina na Beira-Mar, que só vai afogar o trânsito e não é público”.
Peres ressalta ainda a necessidade de avanços na questão das ciclovias no município. “Eu concordo com as iniciativas da prefeitura neste sentido, mas está tímido. São necessárias mais ciclovias e não apenas para eio, mas para trabalho mesmo”.
Ele critica o modelo atual de Florianópolis, que “foi desenhado para os carros, e não deveria ser. O transporte coletivo, assim como as bicicletas, têm que ser priorizados. Florianópolis tem o pior sistema viário do país. Aumenta o número de carros e a rua não muda. O planejamento aqui não dá para copiar de Curitiba nem de Barcelona. Isso aqui é um planejamento muito específico, muito próprio”, conclui.
O que dizem as propostas do Plano Diretor 2qe63
Ciclovias
A prefeitura destaca que o incentivo ao uso de bicicleta como meio de transporte é uma diretriz da política nacional de mobilidade e do Plano Diretor da cidade.
Ainda conforme o diagnóstico, a região Central tem uma necessidade maior ainda da inclusão dessa alternativa ao tráfego.
Segundo os dados divulgados pelo Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), a região tem 64,14 km de malha total, sendo 16,42 km de ciclofaixas, 23,74 km de ciclorrotas, e 23,98 km de ciclovias.
O programa de políticas voltadas para esse incentivo na Capital é o +Pedal, da prefeitura. A proposta de revisão reitera que “faz-se necessário dar continuidade à ampliação da malha cicloviária, complementando conexões que ainda ofereçam dificuldades ou configurem barreiras ao uso da bicicleta”.
Transporte coletivo
As informações divulgadas pelo Ipuf mostram que o Ticen (Terminal de Integração do Centro) recebe mais de 4 mil viagens por dia, considerando apenas as do transporte urbano municipal. “O sistema de transporte coletivo não apresenta integração entre os sistemas municipal e intermunicipal, o que contribui para a concentração de viagens no TICEN e sobrecarrega o sistema viário da região, onde uma série de linhas intermunicipais concorrem com linhas municipais continentais”, critica a proposta de revisão.
A análise reconhece que “o transporte coletivo na região apresenta boa capilaridade, contudo carece de priorização frente ao Transporte Coletivo modos motorizados individuais, o que causa atrasos nas viagens e problemas de sincronização do sistema”.
Segundo a proposta de alteração do Plano Diretor, mediante a progressão do crescimento populacional de Florianópolis, a solução deverá ar pela otimização da capacidade defluxo das principais vias, que será efetivada com a implantação do sistema BRT, com faixas exclusivas para o transporte coletivo