Mais de 200 mortos e um rastro de destruição incalculável. Petrópolis, no Rio de Janeiro, ainda procura por vítimas após o desastre. Um trabalho difícil e doloroso e que acende um alerta para tantos outros lugares do país.

Florianópolis já sofreu muito com as chuvas. Foram vários os verões onde os grandes volumes de água causaram estragos. Mas, segundo a Defesa Civil municipal, o que aconteceu em Petrópolis dificilmente seria registrado na capital catarinense.
“O relevo de Florianópolis é um pouco diferente da região de Petrópolis. A tipificação de ocorrência lá em Petrópolis, que ocorreu muita corrida de lama, deslizamentos pesados, uma enxurrada muito forte, uma chuva intensa. Florianópolis tem uma certa diferença”, explicou o diretor da Defesa Civil de Florianópolis, Luiz Eduardo Machado.
Mesmo assim ainda há muitas áreas na cidade que preocupam. Conforme o geólogo Rodrigo Sato, “além da declividade e do clima, nós podemos também colocar a natureza da geologia da região, algum tipo de rocha que existe também é importante ser analisado. A espessura do solo. Locais que existe uma grande espessura de solo, quando esse solo fica saturado de água, ele fica muito pesado e isso pode ocorrer deslizamentos”.
O último levantamento da Defesa Civil, ainda de 2014, revela que há 71 pontos de risco na Capital. A maioria, mais de 10 mil residências, estão dentro de áreas catalogadas como R1, que são aquelas consideradas de menor risco.
Ao todo, 30 casas estão em locais de nível 4, onde há maior risco. Todas elas no Maciço do Morro da Cruz. Há anos a região é foco de trabalhos de prevenção a desastres naturais.
Segundo Machado, “ao longo dos últimos anos, [foi feita] execução de muros de contenção, execução de drenagem, direcionamento da água, um certo nível também de contenção de construção. É importante. Em Florianópolis, nos últimos 15 anos, a gente tem uma queda nos números de ocorrências relacionadas a deslizamentos e isso se dá, logicamente, por essa intervenção estrutural que vem acontecendo”.
Em dezembro de 2011, chovia muito quando uma pedra rolou do alto do Morro da Mariquinha levando tudo pela frente. Casas foram atingidas e uma mulher morreu soterrada.
A moradora Adelina Oliveira Mendes lembra bem. Nascida e criada na região, nunca teve medo de morar na comunidade, inclusive lembra que brincava na pedra que se soltou naquele dia.
“Desde quando eu era pequena a gente ia brincar lá na pedra. Todo mundo se sentava lá. Tinha uma árvore que era grandona a raiz dela. Foi ela que levou”, contou Dona Adelina.
Do desastre ficaram os restos da casa. O local onde Adelina morava foi um dos atingidos. Ela morou de aluguel social por meses e hoje, no quintal, estão ainda as marcas de quando tudo aconteceu. De acordo com a moradora, “era uma ventania. Era um fim de mundo aquilo ali que deu e aquilo foi caindo”.

Dona Adelina mudou de casa e a comunidade também mudou. A situação trouxe mais conscientização sobre os riscos e a necessidade de infraestrutura.
O líder comunitário do Morro da Mariquinha, Alex Corrêa, afirmou que o desastre trouxe mudanças, “principalmente na questão da conscientização dos moradores e das áreas de risco onde eles moram. A partir daquele momento, a gente conseguiu identificar outras áreas de risco, onde a gente conseguiu conscientizar os moradores sobre como morar nessa área com um pouco mais de segurança”.
De lá para cá, a comunidade ganhou alguns muros de contenção nos locais mais perigosos, mas ainda há casas em pontos preocupantes. Pelo menos 20 residências estão na mira de uma outra grande pedra. O bloco rochoso de 90 toneladas tira o sono de Corrêa cada vez que chove.
“A pedra bicuda tá no meio da comunidade e qualquer abalo que possa acontecer por água, por erosão, às vezes até um tremor de terra pode estar deslocando esse bloco rochoso. Não tem como apagar da lembrança algo que aconteceu em 2011 e pode acontecer novamente e pode acontecer coisas piores”, disse o líder comunitário.
De perto, o tamanho da pedra é assustador. A própria comunidade já fez uma obra no local para dar mais sustentação à rocha, mas ainda é preciso fazer algo que garanta a segurança. A pedra inclusive já foi até demarcada, mas até agora nada foi feito.
Segundo Corrêa, “tanto Defesa Civil quanto Prefeitura de Florianópolis quanto Ministério Público já estão cientes da situação da pedra bicuda. Já abriram licitações para fazer essa obra, mas até o momento nenhuma empresa se interessou”.
O que tem sido realizado na cidade é preparar melhor a população. Moradores de diversos bairros já participaram de cursos de voluntariado e núcleos da Defesa Civil foram montados nos locais que correm maior risco de algum desastre natural acontecer.
“A gente implementou núcleos comunitários de Defesa Civil em dez localidades, queremos ampliar no segundo semestre para mais dez, totalizando 20, para que a gente possa preparar a comunidade, que ela se autoproteja durante períodos de emergência para que a gente evite desastres como o que aconteceu em Petrópolis”, falou Machado.
Vivendo sob o risco 684d1u
Entre estes moradores em situação de risco, está Valdemira Silva Cardoso. Moradora da rua Ângelo La Porta, no Morro da Cruz, a senhora de 68 anos conta que nas noites de chuva forte é quando precisa ficar mais atenta.
A casa dela fica em um terreno com risco de deslizamento, uma vez que o muro lateral que ‘segurava’ o barranco foi implodido em ação da prefeitura ainda na década de 1990, quando a sogra dela, que vivia no local, morreu após a casa vizinha desabar sobre a dela. Até hoje, a moradora recebeu apenas uma lona de contenção da Defesa Civil para auxiliar na sustentação da terra quando chove.
A Defesa Civil explica que a área, de fato, está em risco, mas que, por se tratar de terreno privado, a moradora deveria ser a responsável por financiar a construção. Sem dinheiro para levantar o muro, ela relata que há anos briga na prefeitura para conseguir a reconstrução.

“Cada vez que chove muito, eu não durmo. Por causa disso, eu já parei no hospital com parada cardíaca, por que eu não durmo, eu fico com medo. Tenho muito medo disso”, finaliza a moradora.
Confira mais informações na reportagem do Balanço Geral Florianópolis.