Depois do desastre no reservatório da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) que se rompeu no dia 6 de setembro, a Polícia Científica de Santa Catarina concluiu que houve “falha clara” no projeto e na fiscalização da Companhia executado pela Gomes & Gomes Engenharia.
A conclusão foi apresentada nesta terça-feira (21) na Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina).

A perícia, conforme o perito Cassiano Fachinello Bremm, superintendente regional da Polícia Científica em Florianópolis, fez medições e analisou as diferenças entre o projeto elaborado para o reservatório e o que foi executado pela construtora.
Com base nas conclusões da Polícia Científica, houve “falha clara de execução do projeto, especialmente na armadura de ligação dos pilares com as cortinas de concreto [paredes]”. Houve, ainda, falha na fiscalização, pois, conforme Bremm, “o erro era facilmente identificado.”
O perito apontou que a principal causa do rompimento estava nas falhas na execução dos estribos, que foram feitos com diâmetro menor e espaçamento maior do que o especificado no projeto.
Além disso, as barras de negativo, que deveriam ter 16 milímetros a cada 15 centímetros, não foram encontradas durante a perícia da Polícia Científica. Essa combinação foi identificada como a causa do descolamento da parede, conforme afirmou o perito.
Fotos da destruição do reservatório: 5j5qz
Quanto à qualidade do concreto utilizado no reservatório, os resultados de análises em laboratório indicaram resistência insatisfatória. No entanto, a perícia destacou que, mesmo com uma resistência mais baixa, a qualidade do concreto não foi a responsável pelo rompimento.
Na reunião desta terça-feira, estiveram presentes o relator da comissão mista, deputado Mário Motta (PSD); o presidente da comissão, deputado Ivan Naatz (PL); o vice-presidente Marquito (Psol) e o membro do grupo, deputado Lunelli (MDB). Lunelli concluiu afirmando que se trata de mais um caso de corrupção no setor público.
Questionada, a Casan disse que só vai se posicionar quando houver a finalização da investigação completa de todos os órgãos envolvidos.
“O trabalho da polícia científica faz parte desse processo, não há uma conclusão ainda da investigação. Há pelo menos duas frentes principais de investigação. Uma delas é um inquérito aberto pela Polícia Civil e Polícia Científica. A outra frente caberá ao Ministério Público de Santa Catarina”, conclui a companhia.
Questionada, a Gomes & Gomes, construtora responsável pela obra, disse que não teve o ao relatório apresentado e que só irá se posicionar após ter o documento em mãos.
Rompimento do reservatório da Casan 5i216o
Após o rompimento do reservatório da Casan no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, no dia 6 de setembro, a comunidade do Sapé, no bairro Jardim Atlântico, foi fortemente castigada. Cerca de 170 pessoas ficaram desalojadas e tiveram o lar destruído em função da força da água.
O reservatório, que fica localizado na região continental de Florianópolis, tem capacidade para armazenar 4 mil metros cúbicos de água (cerca de 8 milhões de litros).
Além disso, há também 280 famílias atingidas, que procuraram auxílio da empresa, seja com alimentação ou com hospedagem, de acordo com dados da Companhia.
Troca de e-mails 551e42
De acordo com o repórter da NDTV, Paulo Mueller, alguns e-mails foram trocados entre a Casan e a empresa responsável pela construção do reservatório. As trocas de mensagens apontam que a companhia solicitou, cerca de 16 meses antes do colapso, que a construtora Gomes & Gomes reparasse o reservatório “urgente”.
Ao todo, a Casan firmou contrato com a Gomes & Gomes para a construção de três reservatórios de água. Além deste que rompeu, outros dois ainda estão em operação no município de São José, na Grande Florianópolis.
O reservatório foi inaugurado em março de 2022 e os e-mails foram trocados em 10 de maio de 2022, apenas dois meses após a inauguração do local. A Casan informou a construtora que a Defesa Civil e o CBMSC (Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina) haviam inspecionado o local a pedido dos moradores e identificado infiltrações no reservatório.
Questionado sobre isso, em setembro deste ano, o diretor de operação e expansão da Casan, Pedro Joel Horstmann, não soube responder por que, mesmo após o reservatório ter apresentado tais avarias, ele foi mantido abastecido. O diretor aponta que, após os avisos da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, a estrutura foi esvaziada para evitar colapsos, mas por indicação da Gomes & Gomes foi novamente reabastecido.