Ninguém gosta disso, mas no último domingo, o vigia Leandro Delfino, 25 anos, chegou ao trabalho com os pés molhados. A rua dele, no Rio Vermelho, Norte da Ilha, foi uma das 42 que alagaram com os 225 milímetros de chuva que encharcaram Florianópolis de quarta-feira (4) a domingo (8).

O vigia mora há três anos no bairro e ‘caos’ foi a palavra que usou para resumir a condição da via onde mora. Para chegar ao serviço, percorreu mais de 20 quilômetros com os pés molhados, de ônibus, até o Itacorubi.
Ele e outros tantos moradores da Capital sofreram, mais uma vez, com a grande intensidade de chuva. Além das dezenas de ruas alagadas, foram sete deslizamentos, dez quedas de muros, dez residências interditadas e 16 desalojados, conforme a Prefeitura de Florianópolis.
A chuva e a quebra das rotinas 5q2gx
Sem guarda-chuva, o vigia Leandro ficou encharcado nos primeiros minutos após sair de casa para chegar ao condomínio que ajuda a proteger no Itacorubi.
“Lá me troco, tomo uma ducha e ponho uniforme. Tomara que melhore com as obras que estão fazendo, porque estou pensando em me mudar”, lamentou.
O barbeiro Jalaks Souza da Silva, 45, mora na servidão Caminho das Orquídeas, uma das mais alagadas no bairro, após a intensa chuva. Sábado até abriu a barbearia, mas não faturou nada.

“Fiquei aberto por ficar, porque não tinha como ninguém chegar. Choveu, infelizmente é assim. A nossa sorte é que o caminhão hidrojato vem dar e e ameniza, então é agradecer. Infelizmente, não é só a nossa rua”, comentou.
O motorista de aplicativo Aldoir Carvalho Ribeiro, 45, queria ter ado o domingo com a família e o caçula de sete meses, mas saiu para trabalhar porque a prestação mensal do carro vence na terça-feira (10).
A casa dele foi invadida pela água, atingindo cerca de 20 centímetros de parede e a família levantou todos os móveis para não perder nada.
“No Rio Vermelho não dá para trabalhar, só estou aqui porque é a primeira viagem. De 50 ruas, 49 é isso aí”, disse apontando para o alagamento na servidão das Tulipas Vermelhas.
Também motorista de aplicativo, Anderson Rak Moreira, 38, é outro decepcionado com a situação no Rio Vermelho.
“Cada vez que chove, a nossa rua [Maringá] fica alagada. Não tem como sair, levar as crianças para o colégio. Uber não entra aqui. Trabalho no app e é difícil até para mim entrar na rua que eu moro”, descreveu.
Segundo ele, a rua tem licitação para ganhar calçamento e a obra até começou, mas parou do nada e ele não sabe o porquê.
Macrodrenagem e limpeza das vias 1y1b3v
A fim de amenizar o histórico de alagamentos no Rio Vermelho, a prefeitura contratou uma empresa para obras de macrodrenagem em seis vias.
Caio Murilo Martins, 41, proprietário da ZM Construções, empresa que executa os serviços, explicou que numa delas o trabalho acabou e que outras serão beneficiadas.
“Todas as ruas ligadas na macrodrenagem estão tendo vazão para a Daria da Rosa, que já recebeu macrodrenagem”, disse.
“Nas ruas contempladas no contrato será feito calçamento e microdrenagem. As que não estão contempladas, estamos deixando espera para futuramente fazer calçamento e ligação na macrodrenagem”, completou.
O contrato termina em 12 meses e a expectativa é que até fevereiro de 2024 não tenha nenhuma galeria no Travessão e estejam todas instaladas, segundo Caio.

Na servidão das Gérberas, outra rua alagada, a intendência, comandada por Erivaldo Bastos, o Peri, utilizou uma retroescavadeira para improvisar um o de pedras e permitir a agem de pedestres. O tráfego de veículos não foi comprometido, mas impôs um certo risco.
Segundo Peri, a via está ganhando pavimentação, mas o trabalho está na metade e deve ser concluído entre seis a oito meses. O intendente descreveu a situação do bairro como complexa e preocupante.
“Graças a Deus, nesses três, quatro dias de chuva ninguém ficou desabrigado, porque estamos com três caminhões hidrojato atacando as piores ruas. Viemos diariamente, antes da chuva, limpar galerias e bocas de lobo. Em algumas casas entrou água, mas não foi pior por causa da prevenção”, afirmou o líder comunitário.

No resto da cidade, a chuvarada da semana também provocou rompimentos em sistemas de drenagem em cinco locais: Pantanal, Caieira, Saco do Limões e Ingleses, na Ilha, além de Jardim Atlântico, no Continente. A previsão aponta para uma melhora no tempo a partir desta segunda-feira (9), mas a Defesa Civil segue monitorando as ocorrências.