Deslizar o dedo para a direita ou esquerda por horas, por incrível que pareça, pode causar um cansaço extremo identificado como “burnout dos apps de relacionamento”. É o que aponta uma pesquisa feita pelo Badoo.
O cansaço, no entanto, está ligado às interações frustrantes durante o uso dos aplicativos. O Hinge, por exemplo, identificou que 61% dos usuários se sentem sobrecarregados com os processos que envolvem a procura de um novo amor na atualidade (a pesquisa é de 2022).

Outro estudo norte-americano mostrou que quatro a cada cinco adultos sentiram “algum grau de cansaço emocional ou burnout com o namoro online”. Isso afeta também os brasileiros, como explica a psicóloga Daniela Nunes.
“No consultório as pessoas têm apresentado, sim, esse cansaço na busca por relacionamentos. Mas isso está voltado a um contexto geral e não específico só aos aplicativos de relacionamento ou à internet. Num contexto geral da dificuldade de encontrar uma pessoa que combine, que queira algo sério, que queira dar um seguimento na vida e fazer planos juntos”, começa a psicóloga.

“Então tem sido muito presente esse cansaço, principalmente atrelado à crença de que ‘parece que eu nunca vou encontrar alguém ou parece que nunca encontro o momento ou a pessoa certa para isso’. Como se houvesse num primeiro momento todo um encantamento, envolvimento, mas isso não prossegue”, destaca.
Conversas ficaram mais longas após pandemia 3v6r1s
Apesar dessa estafa, as pessoas não deixam de usar os aplicativos de relacionamento – como já mostrado nesta coluna. Dados do Tinder apontam que o uso por parte dos brasileiros cresceu 19% em relação ao período pré-pandemia de Covid-19.
A pesquisa também mostra que as conversas ficaram 32% mais longas, e que a maioria dos usuários são da geração Z (aqueles que nasceram entre 1997 e 2015), o que demonstra que as pessoas estão mais empenhadas em encontrar uma conexão nos apps.

Para Daniela, as possíveis causas para esse cansaço – e insistência – é algo apontado já por Zygmunt Bauman nas “relações líquidas”.
“As relações líquidas nada mais são do que relações superficiais, que a gente fica em um estado de superfície por status, mais racional, focado no que é belo e legal aos olhos. Mas não diz muita coisa, isso é um dos pontos que causam esse cansaço na busca por relacionamentos”, explica.
“Se a gente for analisar os modelos desses aplicativos de relacionamento, é muito comum que as pessoas coloquem no espaço destinado a ‘sobre mim’ coisas mais superficiais. Mas em contrapartida, quando há alguém que aponta que quer um relacionamento sério ou algo mais profundo isso também assusta”, pondera.
Um ‘job’ sem remuneração 6k4k5j
Muitos usuários de aplicativos de relacionamento viram o uso dos apps como um segundo emprego, um “job” que tem dado pouco resultado.
“Uma das principais dificuldades apontadas no consultório é que as pessoas sentem que sempre vai acontecer da mesma forma. Ou seja, elas vão ver vários perfis e conversar com alguns, mas isso não prossegue, não sai da superficialidade”, salienta Daniela.
“Algo muito importante que as pessoas precisam analisar é qual o tipo de relacionamento de fato estão buscando, que tipo de companheiro imagina? Como será o dia a dia com essa pessoa? Não só a parte física, mas as atitudes, valores, gostos e visão de vida”, reforça a psicóloga.

Parece que a vontade de encontrar uma conexão maior tem feito as pessoas insistirem na procura online por um novo parceiro. Porém, 35% dos usuários do Tinder deixam o aplicativo por se sentirem mal sucedidos ou desapontados – é o que aponta uma pesquisa feita por Leah LeFebvre, professora de estudos de comunicação da Universidade do Alabama (EUA).
A pesquisa de LeFebvre ouviu 395 usuários do Tinder em 2019. Apesar de 40% informar que deixaram o aplicativo porque começaram um novo relacionamento, 35% relataram que se sentiram “aborrecidos” ou “cansados” de usar o aplicativo. Outros acharam o app “inútil”.
O amor não acabou 19334m
Apesar da falta de esperança aparente, seres humanos são criados sobretudo para se relacionar. O amor está presente em nossas vidas desde os primeiros dias nesse mundão.
Esse amor, no entanto, começa em nós mesmos! Eu sei que parece uma lição clichê, mas antes de procurar e amar outra pessoa é preciso ter consciência de quem somos. Isso inclui nossos valores, sonhos e desejos.

“É preciso estar consciente de si, da sua história, das suas dinâmicas, do seu modo de ser e viver no mundo: como você se relaciona com outras pessoas, amigos, familiares, enfim. Estar consciente de como você funciona te possibilita soluções para esse cansaço e frustração na busca de novos parceiros”.
“Quando você tem consciência sobre quem você é, sobre o que você quer, você tem isso como um norte. Então não vai ser qualquer cara, qualquer parceira! E principalmente sabendo quem é essa pessoa que você quer, você vai saber quais lugares vão te proporcionar isso”, finaliza Daniela.