O designer gráfico e ilustrador, Lucas Sales, publicou em seu Twitter uma descoberta surpreendente na Costa da Lagoa, em Florianópolis. Em uma publicação com imagens, Sales mostrou a descoberta de uma “casa das bruxas” e as lendas em torno da descoberta.

Segundo uma de suas publicações sobre o assunto, ele amou a descoberta.
“Eu amo muito essas histórias de bruxa aqui da ilha, da até vontade de criar um quadrinho com isso”, escreveu.
Estamos ficando em um airbnb na costa da lagoa em Floripa, e nessa vilinha tem uma historia da bruxa do engenho, tem até escultura pra ela. pic.twitter.com/38K6Mudzc2
— Lucas Sales (@luscassales) January 2, 2023
A mini casa teria sido construída em homenagem à “Bruxa do Engenho” e foi avistada em um local alugado pelo ilustrador.
O engenho é uma estrutura antigona do Sec XIX e ta de pé até hoje, esse lugar é uma mistura de um filme do Miyazaki com o Ari Aster ahaha pic.twitter.com/AejaPwLewf
— Lucas Sales (@luscassales) January 2, 2023
Segundo o historiador Rodrigo Rosa, da Fundação Catarinense de Cultura, o cenário da foto é algo bem contemporâneo, e não está ligado às histórias catalogadas pelo escritor de lendas de Florianópolis, Franklin Cascaes, e tampouco pela comissão catarinense do Folclore nos anos 1940, antes mesmo de Cascaes.
Outra lenda 6q12j
“Das bruxas e bruxarias daquela área que conheço, uma das mais interessantes é a da Marina. Ela seria uma moradora da Barra da Lagoa e voltaria para se vingar do povo dali, após o debate sobre a construção de uma marina no canal da Barra, nos anos 90”, conta.
De acordo com Rosa, apesar de muito interessante, as histórias só começaram a fazer sucesso em Florianópolis a partir dos anos 70, como uma venda do turismo local.
“Franklin Cascaes, por exemplo, quando escrevia essas lendas não era bem visto em sua época pela elite intelectual em Florianópolis. Há um conjunto de acontecimentos que ao longo do tempo construíram essa imagem da cidade”, conta.
O historiador esclarece que na extinta TV Manchete, uma novela que não chegou a ser concluída era chamada de “Ilha das Bruxas”, o que também chamou atenção para a cidade.

“Havia ainda uma casa no norte da Ilha chamada de “Ilha de Cascaes”, por exemplo, e vai havendo envolvimento da cidade e discurso econômico. É então que Cascaes vem agregando importância e participando da retórica”, salienta.
Como nascem as bruxas na cidade? 606q5x
De acordo com o Boletim Trimestral da Sub Comissão Catarinense de Folclore, de 1950, as bruxas nascem a partir do número de irmãs. A escrita foi feita como uma pesquisa de campo, no interior da ilha, narrando como nascem as bruxas em Florianópolis.
Confira a lenda: 3c2e41
BRUXAS (Ilha)
Quando de um casal nascem sete filhas, sem nenhum menino de permeio, a primeira ou a ultima será, fatalmente, uma bruxa. Para que isso não venha a acontecer faz-se misté que a mana mais velha seja a madrinha de batismo da mais moca. São apontadas como tal certas mulheres magras. feies antipaticas. Dizem que têm pacto com o demonio, lançam maus olhados, acarretam enfermidades com os seus bruxedos, etc. Costumam transformar-se em mariposas e pene- trar nas casas pelo buraco das fechaduras.
Têm por habito-chupar o sangue das crianças ou mesmo de pessoas adultas, fazendo-as ador mecer profundamente. A marca do chupão deixado na pêle, chama vulgo de “melancolia”. Para que as crianças não batizadas não se Jam atacadas pela bruxas, deve-se à noite conservar a luz acêsa no quarto. Sabe-se que uma mulher é bruxa quando dá a apertar a mão canhota esquerda. Para se descobrir a bruxa que chupa o sangue da criança e ela logo apareça, sóca-se em um pilão a camisa da criança ou da pessoa por ela chupada.
Ela logo se apresenta e pede para que não façam aquilo. Existe também uma oração contra elas: quem a possue consegue descobri-la e prende-la e também não adormece quando ela à noite penetra em casa. A pessoa assim premunida toma, para prende-la, de um tacho ou uma medida de alqueire e logo que a bruxa entra em casa, emborca o tacho ou a medida e ela fica incapaz de sair. Ha ainda outro processo de identificar uma bruxa: vira-se a lingueta da fechadura de uma canastra. A bruxa, ao entrar em casa, imeira coisa que faz e pedir para endireitar a lingueta.

Rodrigo Rosa diz ainda que “se sairmos do lado digamos mitológico as bruxas também eram mulheres reais”.
“Benzedeiras, “feiticeiras”, pessoas que faziam algo que não era comum, fora do religioso também. Isso inclui: parteiras, fazedoras de chás, simplesmente não queriam casar. Quem atendia pessoas em casa (…)”, diz.
A fama das mulheres então ia “longe” e corria pela cidade atraindo olhares curiosos e fofocas.
“Temos que lembrar que os açorianos vieram para a ilha em 1750. Na época, ainda existia a inquisição na Europa. Então achar que bruxas existiam era aceitável naquele tempo, como em qualquer vila portuguesa, ainda mais vindo do isolado arquipélago”, finaliza.