São muitas as questões que envolvem a vida das mulheres. Lutamos por direitos e autonomias que ainda não conquistamos, por equidade salarial, segurança e garantia e melhoria de direitos, com demandas relevantes e até urgentes.
Entretanto, uma discussão para a qual não damos muita atenção é abordada de forma muito corajosa e profunda pela saudosa Bell Hooks, autora, professora, teórica feminista, artista e ativista antirracista americana: a importância do amor construtivo na vida das mulheres, em especial as negras.

Em uma de suas inúmeras obras “Tudo sobre o amor: novas perspectivas”, publicado nos Estados Unidos, em 2000, Bell aborda de forma brilhante a ideia de que o amor não é apenas um sentimento, apresentando-o como ética de vida.
As discussões apresentadas pela escritora são ainda mais impactantes quando as centralizamos na perspectiva das mulheres negras. Tidas como fortes, resistentes e resilientes, as mulheres negras são, muitas vezes, negligenciadas pela sociedade, que as enxerga como pessoas que não precisam ser amadas ou, ainda, difíceis demais de amar.
Conceição Pereira, representante do Setorial de Cultura Afro-brasileiras em Itajaí, no Litoral Norte de Santa Catarina, explica que as mulheres negras estão na base da pirâmide sociais. São as que menos recebem, apesar de estudarem mais que os homens negros e brancos.
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“Nós estamos na base da sociedade, trabalhamos três vezes mais e somos as que menos recebem. E no fim disso tudo, muitas vezes, a mulher negra acaba sozinha. É preterida por todos”, destaca Conceição.
Os dados da pesquisa de Desigualdades Sociais por Cor ou Raça publicada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em novembro de 2019, mostra que mulheres negras seguem na base da desigualdade de renda do Brasil, recebendo 44,4% do que homens brancos recebem.
“O amor é o que o amor faz” 6x3k4q
O assunto, no entanto, é tido como algo supérfluo, dispensável de ser pensado e discutido. Para Bell, o amor não tem nada a ver com fraqueza ou irracionalidade, como é dado pelo senso comum. A autora apresenta o sentimento como uma potência, como a possibilidade de rompermos o ciclo de perpetuação de dores e violências para caminharmos rumo a uma “sociedade amorosa”.
Bell relaciona as maneiras pelas quais homens e mulheres em geral, e pessoas negras em particular, desenvolvem sua capacidade de amar dentro de uma cultura machista e racista como os principais problemas da sociedade.

Tudo o que se relaciona com o amor mostra a forma com a qual somos ensinadas desde a infância, com conceitos e suposições erradas e falsas sobre o amor, mostrando que como sociedade não consideramos a importância e a necessidade de aprendermos a amar.
Tendemos a acreditar que já nascemos sabendo como amar as pessoas. Mas Bell aponta que o amor não está dado: ele é construção cotidiana, que só assumirá sentido na ação. O que significa dizer que precisamos encontrar a definição de amor e aprender a praticá-lo.
Como completa o psiquiatra M. Scoot Peck, o amor é a “vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa”.
Portanto “o amor é o que o amor faz”. É essa transformação e evolução espirituais que causa em quem ama e quem é amado. Para Bell, amor e negligência não podem coexistir, portanto, é impossível amar violando o outro, não dando espaço para que ele se abra de forma sincera, com respeito e igualdade.
Para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes: carinho, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como honestidade e comunicação aberta.