Água emprestada e máscaras n95: limpeza não tem prazo para terminar em Porto Alegre 523dx

As marcas de lama nas paredes e os entulhos espalhados pelas ruas se tornaram parte do visual de Porto Alegre desde que a cidade foi inundada pelo lago Guaíba. Na região central, o Mercado Público, um dos cartões postais da cidade, teve os trabalhos de limpeza retomados nesta terça-feira (28), após o mau tempo do fim de semana. Ainda não há um prazo para retomada das atividades, mas a expectativa é de que alguns lojistas já possam voltar a trabalhar dentro de quinze dias.

Mercado Público de Porto Alegre estampa a marca de lama deixada pelas enchentes – Foto: Vivian Leal/ND

“A primeira fase da operação é a limpeza das áreas comuns, onde tira lodo, lama, areia, essa parte mais pesada. Depois, os permissionários poderão entrar e avaliar os estragos, realizar o descarte dos produtos e, a partir de então, conseguir limpar a parte interna das lojas”, explica Rafael Sartori, presidente da Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc)

Atualmente, são mil funcionários diretos e outros setecentos indiretos, que atuam em 6 mil metros quadrados de área comercial.

A prefeitura de Porto Alegre montou um planejamento de limpeza para as 20 áreas que foram afetadas pela enchente, mas em apenas dez os trabalhos iniciaram porque algumas regiões ainda estão com o reduzido ou inviabilizado pelos alagamentos.

“Mais de trezentas mil pessoas circulam, todos os dias, pela região central de Porto Alegre, então é fundamental que essa limpeza aconteça na região. Já retiramos mais de 14 mil toneladas de resíduos inertes [contaminados] de áreas que foram atingidas pela enchente. Já chegamos a atuar em 17 áreas com a limpeza, mas agora estamos em apenas dez para garantir a segurança dos trabalhadores”, afirma o diretor do Departamento de Limpeza Urbana, Carlos Alberto Hundertmarker.

Limpeza do Mercado Público de Porto Alegre foi retomada nesta terça (28) – Foto: Vivian Leal/ND

Todos os descartes decorrentes da inundação possuem uma destinação diferente do lixo doméstico, que seria destinado para reciclagem ou aterros sanitários.

Itens como mesas, cadeiras, colchões, armários e similares são direcionados para uma área, contratada emergencialmente, em Gravataí, na região metropolitana. Lá, esses itens serão triturados e reavaliados posteriormente.

Lama e lodo, removido das ruas, são destinados para o mesmo local e depois encaminhados para aterro sanitário, conforme legislação ambiental. A istração pública estima coletar entre 77 a 180 mil toneladas de detritos, em prazo indeterminado.

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Todo processo de limpeza é realizado sob orientação e vistoria de uma equipe de segurança do trabalho para preservar a saúde dos 3.500 garis e outros 400 trabalhadores do Departamento de Limpeza Urbana envolvidos na operação.

Entulho segue acumulado pelo Centro de Porto Alegre – Foto: Vivian Leal/ND

Os funcionários usam botas, luvas, máscaras n95 para evitar contaminação bacteriológica, óculos para áreas mais contaminadas e, recentemente, aram por vacinação contra gripe e tétano.

“Nós começamos a vacinação de todos os colaboradores, principalmente, com essas duas vacinas porque, mesmo que a nossa equipe seja treinada para fazer recolhimento de cacos de vidro, ferros e outros materiais, buscamos ter esse cuidado e garantir a segurança dos colaboradores”, destaca Hundertmarker.

Água emprestada 672t15

A livraria Só Ler, no centro histórico da Capital, espera abrir as portas em vinte dias, após ficar quase o mês de maio inteiro fechada. Além das perdas de discos de vinil, CDs, histórias em quadrinhos e livros, parte da estrutura da loja foi danificada e precisará ar por reforma.

Livraria Só Ler precisará de reforma após danos estruturais devido à enchente em Porto Alegre – Foto: Vivian Leal/ND

“A gente ainda está limpando tudo, precisamos tirar a umidade dos livros que não foram diretamente afetados pela água, mas estão úmidos e precisamos recuperar. As prateleiras, tem até algumas faltando que foram levadas, vão precisar ser reformadas”, conta Sabrina Nekel, gerente da livraria.

Ao lado da livraria tem uma igreja, que está emprestando água para que as funcionárias realizem os trabalhos de limpeza da loja.

“A gente tá conseguindo fazer essa limpeza desde ontem. A energia elétrica voltou ontem e água o prédio ainda não tem, a igreja que nos cedeu. Estamos com ar ligado para tentar ajudar a secar”, conta.

A empresa estima que 13 mil livros foram descartados e os prejuízos totais ainda não foram contabilizados.

Ainda não há estimativa para os prejuízos totais da livraria – Foto: Vivian Leal/ND