Os moradores do Morro das Pedras, em Florianópolis, estão cada vez mais preocupados com a erosão marinha que atinge a região. Desde que o problema começou, foram registradas 11 quedas de muro na praia, a queda de uma edícula, de um deque e de uma piscina. Na tarde desta terça-feira (25), a maré subiu ainda mais e atingiu o maior nível das últimas duas semanas, deixando muitas pessoas assustadas.

“Foi bem terrível. Agora é que o mar está vazando um pouco, mas foi muito ruim. Não dá para o cara dormir, o cara fica com medo”, contou o pescador Alberto Bino, que também é morador da região. Ele nasceu no Morro das Pedras e mora há quase 40 anos na mesma casa. “Eu moro aqui desde criança. Eu nunca vi isso na minha vida. Aqui era tudo restinga, a gente tinha uma trilha para chegar na praia e o mar devagar veio comendo”, lamentou.
A erosão marinha se intensificou no dia 10 de maio, agravada pela ressaca do mar. A Defesa Civil está monitorando 12 propriedades ao longo de 200 metros da orla. Três casas foram interditadas e houve queda de árvores e muros na região.
A moradora Cinthia Sens observa a erosão evoluir com apreensão. “Cada minuto que a cai um pouquinho mais. Mesmo com a maré estando baixa, a vibração de quando a onda bate faz com que a areia que está embaixo trabalhe e caia. Com isso, tudo o que está em cima vai desabando. É uma sensação de tensão. Não só por nós que estamos perdendo nosso terreno, como também pelas pessoas que estão trabalhando aqui na praia para tentar conter, fazendo essa paliçada”, relatou ela.

As contenções fazem parte de um mutirão, organizado pela própria comunidade, que pede uma solução definitiva. Nesta terça-feira (25), pelo segundo dia seguido, os moradores realizaram uma manifestação cobrando maior apoio do poder público.
“Nós não fomos avisados em nenhum momento de forma preventiva. Quando os muros caíram, o mar veio e levou um poste que tinha aqui na frente de casa e várias árvores. Quando começou a cair, aí a Defesa Civil veio e nos notificou para fazer a remoção do que caiu na praia. Somente isso. Precisávamos de um apoio efetivo da prefeitura com fornecimento de bags nesse momento, paliçada, de areia”, disse Cinthia.
A Defesa Civil justifica que por se tratar da beira do mar, é preciso analisar os impactos de qualquer intervenção. “Nesse momento, o que está autorizado é o projeto de paliçada e, com isso aprovado pela Defesa Civil, esse projeto tem que ser acompanhado com requerimento e por um profissional habilitado para poder ter a autorização para fazer essa paliçada”, explicou o gerente de operações da Defesa Civil, Alexandre Vieira.
De acordo com o oceanógrafo da Epagri Carlos Eduardo Salles de Araújo, o pior já ou e o avanço do mar se deve a uma combinação de fenômenos ao mesmo tempo: “A maré astronômica é provocada pela atração gravitacional que o Sol e a Lua exercem sobre a superfície da água. Então, a cada seis horas, essa água é puxada para cima e a maré sobe e, depois de seis horas, ela é empurrada para baixo. Além da elevação normal daquela maré astronômica, a gente tem essa elevação do nível do mar provocada pelo empilhamento do vento; existe sobre o oceano, na atmosfera, um ciclone extratropical lá no Uruguai e esse ciclone provocou fortes ondulações”.
Ainda segundo Araújo, “com a maré meteorológica baixando, o empilhamento do vento cedendo, o nível do mar começa a baixar cada vez mais e reduz o perigo para os moradores”.
Outras casas da praia também já foram ameaçadas pelo mesmo problema. Ainda em 2016, a pedido da associação de moradores, foi feito um projeto indicando uma solução. O projeto já é de conhecimento da prefeitura, mas até agora pouca coisa avançou para fazer o enrocamento virar realidade.
“Neste projeto que tem para o Campeche, que a gente está tentando estender até o Morro das Pedras, existem vários estudos comprovando que existe a possibilidade [de fazer o enrocamento] afetando minimamente o meio ambiente”, contou Cinthia.
Saiba mais sobre a situação na reportagem do Balanço Geral Florianópolis!