Pouco, praticamente nada, sabemos a respeito da produção do compositor José Brazilício de Souza (1854-1910).
Se muito, sabe-se dizer que ele foi o autor do Hino de Santa Catarina, mas a sua obra foi muito mais relevante, o credenciando como um dos músicos brasileiros mais influentes do seu tempo. A depender do pianista e professor Rodrigo Warken esse legado não ficará mais no limbo.

Desde 2010, Warken se dedica a pesquisar a obra de Brazilício e na última semana deu início a uma nova turnê por Santa Catarina com apresentações gratuitas do seu recital centrado no trabalho do ilustre compositor. “Ilustre” para os tempos da antiga Desterro, porque hoje, atesta Warken, Brazílico é praticamente um desconhecido do público em geral.
Em compensação, o hino do nosso Estado composto por ele já foi tema de algumas tentativas de mudanças.
A tour que integra o projeto “Toca Brazilício” teve início há uma semana e já ou por Lages, Palhoça e ville. Nesta quarta-feira (15), Rodrigo Warken se apresentará no Museu da Música em Timbó. Na quinta (16) será a vez de Brusque receber o recital no Instituto Aldo Krieger. A tour continurá em junho e julho, com roteiro pelas cidades de Chapecó, Joaçaba, Jaraguá do Sul, Blumenau, Itajaí e Florianópolis.
Warken ainda pretende lançar neste ano uma edição com obras para piano de Brazilício e as gravações em formato extended play (EP).
No recital, o pianista apresenta um contraponto entre o compositor polonês Frédéric Chopin (1810-1849) e José Brazilício de Souza. Para Warken, embora não tenham sido contemporâneos, as obras de Chopin, que circulavam nos meios musicais brasileiros no século XIX, certamente serviram de inspiração e modelo para Brazilício. O repertório traz mazurcas, polcas, schottisch e valsas.
Brazilício: músico, professor e “astrônomo nas horas vagas”
José Brazílicio nasceu em Pernambuco, mas viveu desde cedo na então Desterro (que viria a se tornar Florianópolis em 1894), onde foi professor, musico e, segundo o professor Rodrigo Warken, “astrônomo nas horas vagas”.
Figura influente em seu tempo, Brazilício compôs a ópera “O Ermitão de Muquém”, obras sinfônicas, de câmara e música sacra e, claro, o Hino de Santa Catarina.
Além de maestro e violinista, foi pianista, tendo deixado muitas composições para o instrumento. São valsas, schottisches, polkas, mazurkas, havaneiras e quadrilhas, no estilo da música de salão da época. As partituras, ainda em cópias manuscritas, nunca foram editadas ou gravadas em sua versão original para piano.
Rodrigo Warken é “manezinho”, formado em música, com mestrado a atualmente é doutorando na área. Atuou como professor de música e produção cultural na UDESC, UNIVALI, Universidade Federal Fluminense e Instituto Federal do Rio de Janeiro. É advogado e trabalha desde 2012 na Agência Nacional do Cinema.
Ele tem dedicado atenção especial às pesquisas e divulgação de obras de compositores catarinenses. Além de Brazilício, Warken já lançou trabalhos resultantes de seus projetos como os álbuns “Entre Cláudio Santoro e Edino Krieger” (1998) e “Saudades no Coração: Aldo Krieger” (2003).
Para o trabalho sobre José Brazilício de Souza, Rodrigo Warken contou com o apoio da família do compositor. Sueli Sepetiba, bisneta de Brazilício, cedeu ao pianista catarinense um álbum com algumas das composições para piano do autor, que serviu de principal fonte para o projeto que está sendo desenvolvido. “Trata-se de um repertório de valor inestimável, seja quanto à qualidade musical, seja em relação ao que esse conjunto de obras representa para o patrimônio cultural catarinense e brasileiro”, destaca o pianista.
As músicas selecionadas fazem parte do acervo particular da família Sousa e ainda não estão disponíveis ao grande público.
O projeto é realizado por meio do Programa de Incentivo à Cultura (PIC), do Governo do Estado de Santa Catarina.

Recital do pianista Rodrigo Warken: obras de José Brazilício de Souza e Frédéric Chopin 47v60
Timbó: Quarta-feira (15/05), 14h, no Museu da Música.
Brusque: Quinta-feira (16/05), 19h, Instituto Aldo Krieger.
Chapecó: 30 de julho, Escola de Artes de Chapecó
Joaçaba: 31 de julho, Teatro Alfredo Sigwalt
Jaraguá do Sul: 2 de agosto, Teatro SCAR
Blumenau: 7 de agosto, Teatro Carlos Gomes
Itajaí: 10 de agosto, Teatro Municipal
Entrada: gratuita
Confira a programação completa no site do projeto. e no Instagram “Toca Brazilício”