Gestor estadual da crise de saúde pública provocada pela pandemia do novo coronavírus, o secretário de Estado de Saúde, Helton Zeferino, esclareceu algumas questões relativas ao combate a doença do Covid-19 em entrevista no programa Balanço Geral, da NDTV, apresentado pelo jornalista Raphael Polito, nesta quarta-feira (8).

Zeferino destacou o papel importante da população durante a fase de isolamento social para conter o avanço da doença em Santa Catarina, revelou o uso da hidroxicloroquina em pacientes internados em Santa Catarina e a disposição de ampliar os leitos de UTI no Estado com a implantação de hospitais de campanha em todas as regiões do Estado.
O secretário estadual também garantiu total proteção aos profissionais de saúde que atuam na rede hospitalar pública e privada e disse aguardar a chegada de mais testes rápidos para que possamos ter uma amostragem mais real do atual quadro epidemiológico de Santa Catarina, um dos primeiros estados a adotar medidas restritivas como o isolamento social para prevenir o disseminação do vírus e se preparar para o combate do Covid-19, principalmente na segunda quinzena de abril, período crítico segundo as projeções do Ministério da Saúde.
Grupo ND – Em uma rede hospitalar de São Paulo mais de 300 pacientes tratados com azitromicina e hidroxicloroquina tiveram resultados positivos e foram curados de Covid-19. Qual a perspectiva de utilização desses medicamentos em Santa Catarina?
Helton Zeferino – A hidroxicloroquina associada a azitromicina é uma das formulações medicamentosas que vem sendo utilizada no enfrentamento da Covid-19. Temos alguns estudos publicados, alguns deles apresentaram resultados, outros estão em fase de finalização. O Ministério da Saúde disponibilizou para os Estados a hidroxicloroquina para que pudesse ser associado ao tratamento da Covid-19 para alguns casos específicos, mas obviamente que todo arsenal medicamentoso que possa enfrentar o Covid-19 é bem-vindo. O Ministério da Saúde já nos sinaliza que é uma das alternativas.
É importante destacar que a hidroxicloroquina não vai salvar todos os nossos casos. Temos alguns casos que apresentam melhora com essa medicação, e tem outros que não tem resultados tão positivos assim. Mas é fundamental que tenhamos isso devidamente comprovado, para que a gente possa realmente analisar em que situação a gente possa usar, quais são as doses, e isso é importante, porque toda medicação tem seus efeitos colaterais e a hidroxicloroquina não é uma medicação nova dentro de um arsenal de medicamentos disponível. Ela é muito específica para malária, artrite reumatóide, mas em específico está sendo utilizado para o Covid-19 e tem alguns estudos que indicam resultados muito interessantes.
Grupo ND – Santa Catarina está usando ou não esses medicamentos?
Zeferino – O protocolo do Ministério da Saúde indica que sim. Inicialmente, a indicação era para pacientes com quadro mais grave, que não estavam apresentando resposta a nenhum tipo de conduta clínica adotada. A partir dessa semana, o Ministério da Saúde realinhou a indicação, e ou a indicar para uso naqueles pacientes que não estão nos quadros graves, mas que requerem os cuidados mais intensivos. Ou seja, é uma recomendação do Ministério da Saúde, que distribuiu essa medicação. O governo do Estado já realizou essa distribuição para toda a rede hospitalar para que possam ser utilizados obviamente no enfrentamento da Covid-19.
Grupo ND – Como está a perspectiva de expansão dos leitos de UTI?
Zeferino – Desde o início do enfrentamento da pandemia disponibilizamos dentro do território catarinense mais 220 leitos de UTI, de um total, que tínhamos antes da pandemia, de 810, portanto já estendemos para mais de mil leitos. A nossa proposta de trabalho, dentro da rede hospitalar catarinense, é disponibilizar 713 leitos. Isso vai nos trazer de um patamar inicial, de 1,15 leitos para cada 10 mil habitantes, para uma situação de 2,17 leitos para cada grupo de 10 mil habitantes.
Já está sendo trabalhado a disponibilização de até mil leitos de UTI através de hospitais campanhas que serão distribuídos pelas regiões onde temos o maior número de casos, aonde nós estamos projetando esse crescimento, o que vai nos levar para uma proporção de 3,6 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes. Para efeitos de comparação, essa realidade está acima do que a Alemanha oferece hoje para a população (3,02 leitos). Com relação a esses leitos, dependemos de algumas aquisições, especialmente ventiladores, que são os equipamentos que temos maior dificuldade de adquirir, pois todo mundo está buscando e o país que mais produz é a China. Mas estamos trabalhando com outras alternativas, em especial, que esse equipamento possa ser construído no território catarinense, e estamos trabalhando para que os leitos possam estar disponíveis em todas as regiões do Estado. Nós estamos trabalhando com as sete macro regionais de saúde, então esses 713 leitos vão estar disponíveis em todas as macro regionais do Estado.
Grupo ND – Com o afastamento de profissionais de saúde contaminados, existe algum plano de contratação emergencial para reposição do quadro?
Zeferino – Nesse momento, temos 193 servidores afastados do serviço estadual, dos quais 14 estão confirmados para Covid-19. Esse 193 significam 2,36% do nosso efetivo operacional, e quando se fala em recomposição de efetivo, já estamos fazendo o chamamento dos processos seletivos que tínhamos em aberto, e se for necessário, uma chamada emergencial será feita pelo Estado. Temos a fiel convicção de que temos que ofertar servidores para urgência e emergência, para os leitos de terapia intensiva e para as enfermarias, que farão o manejo desses pacientes.
Grupo ND – Como o Estado pode dar apoiar aos municípios para garantir a proteção dos profissionais de saúde com EPI?
Zeferino – Desde o início, o Estado tem feito algumas ações que vão impactar diretamente no resultado, e uma delas é a proteção dos nossos servidores, sejam eles da rede municipal, estadual ou privada. A primeira ação que adotamos é a disponibilidade de informação em todos os nossos canais de comunicação. Além disso, 5 mil servidores já foram atingidos por capacitações. Servidores que trabalham nas portas das urgências e emergências, que trabalham nos leitos de UTI, que trabalham nos pronto-atendimentos, lá nos municípios.
Estamos trabalhando de uma forma enfática em relação a isso porque nós entendemos que os servidores precisam estar devidamente orientados no que diz respeito à suspeição, ao uso de equipamento de proteção individual, às suas condutas no dia a dia, porque é isso que vai fazer a diferença. Também estamos trabalhando para ofertar à rede de filantropia mais recursos para que possam fazer as aquisições necessárias, em especial equipamentos de proteção individual, motivo pelo qual, nossa política hospitalar catarinense, que trabalha com teto de corte, baseada na matriz de desempenho de cada hospital, foi integralizada para todos os hospitais e 96 unidades foram atingidas, de tal sorte que teremos injetados nos hospitais filantrópicos ao longo do ano de 2020 quase R$ 280 milhões para que possam fazer o enfrentamento da crise.
Além disso, também recebemos do Ministério da Saúde algum quantitativo de equipamentos de proteção individual. O conselho de Secretários Municipais de Saúde fez a divisão desse quantitativo e esses insumos já saíram do nosso Centro de Distribuição, e estão sendo disponibilizadas pelas regionais de saúde, onde os municípios podem retirar e levar para os seus profissionais de saúde. Nós temos que entender que isso é uma demanda em grande escala e estamos buscando cada vez mais adquirir equipamentos para que nenhum servidor de saúde fique desprovido de equipamento de proteção individual.
Grupo ND – O Estado já tem uma projeção de quando será o período de maior contaminação e quando os casos começam a desacelerar?
Zeferino – Essa é também uma preocupação do Estado. Nós temos alguns estudos epidemiológicos que estão sendo rodados para que tenhamos essa projeção e expectativa. O que temos em nível de território nacional é que provavelmente na segunda quinzena de abril teremos a agudização em Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Amazonas e Ceará. Esses estados, por conta de expectativa do próprio Ministério da Saúde, terão uma agudização de casos quando ingressarmos na segunda quinzena de abril. Desde o início que foi detectada a transmissão comunitária no território catarinense, o governador teve a sensibilidade de instaurar algumas ações que interromperam o convívio social da população.
Isso faz com que tenhamos um espaço um pouco a maior de agudização dos casos, mas o mais importante nesse momento, é que tenhamos a fiel convicção de que a população tem um papel mais importante nesse cenário. Se as pessoas não entenderem que precisamos restringir nosso convívio social, que as pessoas saiam de casa somente para aquilo que é necessário, que tenham a convicção de que os hábitos, como uso de alcool gel, lavar as mãos e usar máscaras, são muito importantes para que tenhamos a interrupção dessa transmissão.
Obviamente, quanto mais fazemos essa interrupção, a contaminação é mais suave, e fazemos com que esses casos se prolonguem mais ao longo dos meses. Mas isso não é algo ruim, pois quanto mais for prolongado e essa curva de agudização for menor, maior vai ser a capacidade operacional da rede hospitalar, e isso faz com que a população possa ser assistida na sua integralidade.
Grupo ND – O Hospital Municipal São José, em ville, é indicado pelo Estado como referência para tratamento do Covid-19 no Norte do Estado e uma ala específica para tratamento de pacientes de Covid-19 está sendo finalizada com ajuda de empresários. De que maneira o Estado vai ajudar financeiramente com equipamentos?
Zeferino – O Hospital Municipal São José, desde o início do nosso trabalho, já se demonstrou como unidade proponente de instalação de leitos de UTI e de leitos de enfermaria para que população dessa região pudesse ser assistida também nesse hospital. Obviamente que o Estado também está contabilizando a questão de disponibilização de equipamentos, temos agora a questão da própria habilitação no Ministério da Saúde, hoje nós tivemos a publicação de uma portaria a qual estaria definindo os valores, temos também a questão do teto a maior da política hospitalar catarinense, com integralização de todo o teto do hospital. Nós tínhamos, salvo engano, R$ 540 mil por mês, eles arão a receber R$ 1 milhão por mês justamente para que possam fazer esse enfrentamento. Sabemos que isso fica muito aquém do que as unidades precisam, mas o Estado, de uma forma geral, está realizando esse planejamento para que todas as unidades, especialmente aquelas referenciadas para Covid-19, sejam atendidos nas suas necessidades.
Grupo ND – Em Blumenau, a prefeitura contratou laboratórios particulares para realizar exames e agilizar os resultados. Como está a situação no Estado nessa questão de agilidade, de apresentar o resultado para as pessoas que são casos suspeitos e qual a postura do Estado para realização de testes para detectar o Covid-19, pois há correntes que defendem o teste em massa e há correntes que não pensam assim?
Zeferino – Na última semana, recebemos um bom quantitativo de testes de kits do Ministério do Saúde, também fizemos a compra de kits por parte do Estado, e ao longo do último final de semana nós regularizamos todos os exames que estavam represados ou pendentes no Lacen (Laboratório Central). Hoje, estamos numa situação de normalidade, temos capacidade operacional de enfrentar e devolver os exames das amostras que chegam ao Lacen. Obviamente, que aqueles municípios que entenderem que precisam fazer a contratação da rede privada, nós não temos nenhum tipo de impedimento. A única coisa que precisamos enquanto Estado é que esses laboratórios privados façam as devidas notificações, caso contrário nós teremos dados de casos confirmados por municípios que sequer foram notificados pelo Estado e isso acaba causando uma certa confusão.
Em relação aos testes, recebemos uma determinada quantidade de testes rápidos que foram disponibilizados a partir de terça-feira (7) para municípios e hospitais. O Estado está fazendo uma aquisição de testes rápidos mas sem essa perspectiva de fazer uma testagem de toda a população (mais de 7 milhões de habitantes). Essa testagem rápida precisaria ser realizada de forma sequencial, e o importante é destacar que todos (estados e países) estão buscando os testes rápidos, então temos uma grande demanda.
Operacionalmente, as empresas não tem capacidade de entregar sete milhões de kits de testes rápidos, então o que estamos fazendo é delimitar como esses testes serão utilizados dentro do território catarinense, como vamos trabalhar com protocolo que seja específico dessa testagem para que tenhamos uma realidade muito mais próxima do que temos hoje. Porque essa ideia de subnotificação é verdadeira, nós temos isso em todos os países por onde essa doença ou, que é a capacidade operacional de avaliar todos os casos positivos, especialmente aqueles que muitas vezes são assintomáticos e nós não temos sequer um indicativo clínico que a pessoa está acometida pela Covid-19.