Falta de transparência nas relações entre UFSC e fundações de apoio é alvo da PF e CGU 264c3a

Criadas pouco depois da universidade, as fundações surgi­ram para atender necessidades de captação de recursos financeiros e apoiar desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da exten­são 4c3vy

O centenário do ensino supe­rior em Santa Catarina se com­pletou em 2017. A marca históri­ca, no entanto, foi praticamente ignorada pela comunidade uni­versitária. Nos registros da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), o ano de 2017 estará manchado pelas acusações de desvios de recursos públicos e pela trágica morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Na mira das autoridades está, princi­palmente, a falta de transparên­cia nas relações entre a universi­dade e as fundações de apoio.

A Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitá­ria recebe o maior volume de recursos entre as fundações da UFSC - Flávio Tin/Arquivo/ND
A Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitá­ria recebe o maior volume de recursos entre as fundações da UFSC – Flávio Tin/Arquivo/ND

Criadas pouco depois da pró­pria UFSC, as fundações surgi­ram nos anos 1970 para atender às “necessidades crescentes de captação de recursos financeiros e apoiar o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da exten­são”, como define texto no site da Fapeu (Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitá­ria). Instituída como pessoa jurí­dica sem fins lucrativos, a Fapeu recebe o maior volume de recur­sos entre as fundações e é o prin­cipal alvo de irregularidades nos relatórios da CGU (Controladoria- Geral da União).

Somente em 2017, foram repas­sados pelo menos R$ 71 milhões à Fapeu em contratos. O destino desses valores não está totalmen­te claro, na avaliação da CGU. Há mais de dez anos, o órgão de con­trole apresenta relatórios à UFSC com solicitações de correções, mas pouco foi feito desde então, de acordo com o superintendente substituto da CGU em Santa Ca­tarina, Marcelo Campos da Silva. “Entendemos que aquilo que re­comendamos desde 2007 não foi atendido a contento pela univer­sidade”, afirma.

Os problemas com as funda­ções de apoio culminaram na Operação Torre de Marfim, da Polícia Federal, deflagrada em dezembro de 2017. Os recursos in­vestigados são de R$ 500 milhões. Como as investigações ainda es­tão em curso, não se sabe quanto desse valor foi desviado no total.

Um único investigado movi­mentou R$ 245 milhões gerindo projetos e apresenta patrimônio incompatível com os rendimentos de servidor público. Outro con­trato é referente à compra de um programa de computador para a área de saúde realizada entre Fapeu e Tríplice, empresa que tem como proprietário um professor aposentado da UFSC. A compra foi considerada ilegal pelo Tribu­nal de Contas da União, que prevê devolução de R$ 23 milhões.

>> UFSC tenta se recuperar da crise instalada com duas operações da PF e morte de reitor

CGU analisa taxas istrativas

Os indícios de irregularida­des começam na prestação de contas da taxa istrativa que as fundações cobram para a execução dos projetos. São porcentagens pequenas dos con­tratos, mas como alguns deles giram cifras milionárias, as ta­xas também são altas. Segundo o relatório da CGU, isso traz dis­torções, uma vez que as despesas istrativas não aumentam na mesma proporção do valor do orçamento. “Não conseguimos identificar o que, de fato, com­põem essas taxas nem como são aplicados esses recursos, o que foi gasto e o que não foi gasto”, relata Marcelo Campos da Silva.

As suspeitas de mau uso do dinheiro público continuam na execução dos projetos. Os au­ditores identificaram a contra­tação de pessoas físicas ligadas aos coordenadores, inclusive familiares. Também há casos de empresas contratadas que têm pesquisadores dos projetos como sócios e contratos com empresas de fachada.

Fundações são consideradas imprescindíveis para a UFSC

São quatro fundações de apoio que atuam na UFSC e executam mais de 880 projetos nas áreas de saúde, tecnolo­gia, jurídica, estudos socioeco­nômicos, entre outras. Apesar da polêmica, as fundações de apoio são consideradas funda­mentais para a realização de projetos de pesquisa e extensão. “Muitas vezes, os recursos para istração dos projetos não têm como entrar no orçamento da universidade. As fundações intermediam a gestão desses recursos, permitindo o desenvol­vimento de grandes pesquisas feitas no âmbito da UFSC”, ex­plica o reitor Ubaldo César Bal­thazar, eleito no dia 11 de abril e nomeado ontem pelo Ministério da Educação para o mandato de quatro anos. Procurada, a Fapeu não se manifestou.

O chefe de gabinete da reito­ria, Áureo Moraes afirma que as fundações são entidades cre­denciadas e autorizadas a fa­zer contratos e que o Conselho de Curadores da universidade aprova a prestação de contas. “A operação Ouvidos Moucos apontou que ‘a UFSC não tem controle’, é mentira. É possível ter havido alguns equívocos na gestão, é preciso aprimorar os mecanismos de controle inter­no, mas não há desvio de recur­so público. Tudo que acontece está sob os olhos dos órgãos de controle”, afirma.

Reitor da UFSC por três man­datos (1984-1988, 1996-2000 e 2000-2004), o professor Rodolfo Pinto da Luz também entende as fundações como imprescin­díveis. “Essa relação sempre foi necessária dada a falta de au­tonomia para a universidade realizar essa parceria com a sociedade. Talvez o Marco Re­gulatório de Ciência e Tecnolo­gia, recentemente regulamen­tado, facilite essa relação. Mas esse mesmo marco reconhece a necessidade das fundações atuarem nessa intermediação entre universidade e sociedade, inclusive na gestão de parques tecnológicos”, justifica.

Fundações de Apoio - UFSC - ND
Fundações de Apoio – UFSC – ND

Objeto de contrato com Fapeu, obra no HU está parada

Entre as consequências mais nefastas para a sociedade está a não realização de servi­ços contratados. Um exemplo é a construção da ala de queimados do HU (Hospital Universitário). A obra, não concluída, foi objeto de um termo de cooperação firma­do entre o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura) e a UFSC em 2010, para fazer um sis­tema integrado para atendimen­to do programa de transportes de produtos perigosos no trecho Sul da BR-101.

O DNIT reou R$ 4 milhões para a pesquisa, feita pela Fapeu, e R$ 2,4 milhões para a constru­ção da ala de queimados do HU. A obra, que deveria ter sido en­tregue em 2011, está parcialmen­te erguida e apresenta racha­duras e infiltrações. Em vez do atendimento a vítimas, o espaço é usado para depósito de mate­riais de construção.

De acordo com o relatório da CGU, em 2014, foram constatadas irregularidades na gestão do con­trato, incluindo pagamento de agens aéreas e hospedagem a pessoas sem vínculo contratual com o projeto, assim como a lo­cação de veículos sem explicação plausível. Nesse mesmo contrato, foram verificados pagamentos de aluguéis de imóveis em valo­res não justificados.

A conclusão da obra deve ficar a cargo do hospital. A superinten­dente do HU, Maria de Lourdes Rovaris, explica que existe uma pendência no Corpo de Bombei­ros quanto ao projeto de preven­ção e combate a incêndios, que contempla saídas de emergência daquela unidade, não previstas anteriormente. Para isso, é preci­so construir uma torre, que deve custar em torno de R$ 2 milhões aos cofres do hospital. “O proje­to arquitetônico é da década de 1960. Foi construído em forma de blocos [horizontal], e não vertical. É uma construção antiga e esta­mos com dificuldade de atender às exigências dos bombeiros”, diz.

Ala de queimados faz falta para Florianópolis

Não é de hoje que obras no HU se arrastam por anos. A construção do hospital começou em 1966, mas foi concluída somente em 1980. O tratamento de vítimas de queimaduras faz falta para Florianó­polis. Santa Catarina tem três unidades públicas de referência no atendimento a queimados, uma para adultos – Hospital Tereza Ramos, em Lages -, e duas para crianças e adolescentes – Hospital Jesser Ama­rante Faria, em ville, e Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis.

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