O conflito entre Ucrânia e Rússia, que se acirrou nesta semana, colocou o mundo em alerta e levantou a questão sobre a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Horas depois do início da ofensiva militar contra a Ucrânia, tropas russas alcançaram a capital Kiev.

Em uma invasão coordenada, que tem forçado o Exército ucraniano a combater em diversas frentes, as tropas russas avançam rapidamente pelo território do país do Leste Europeu.
Num contexto mais recente, o conflito recupera disputas ocorridas em 2014, quando o território da Crimeia, península ucraniana, foi incorporado à Rússia. Há, no entanto, dimensões geopolíticas e históricas relacionadas ao confronto, que remontam há muito tempo antes.
“É uma questão basicamente de geopolítica, mexendo com o tabuleiro de xadrez da política internacional. É como se fosse um triângulo com três vértices: de um lado a Rússia, do outro lado os Estados Unidos e o terceiro vértice seria a Europa propriamente dita. E, no meio de toda esta confusão, está um país relativamente pequeno, que é a Ucrânia”, resume o professor aposentado de História Contemporânea Antônio Barbosa, da UnB (Universidade de Brasília).
Relação conturbada 374ot
O professor Sidnei Munhoz, do Programa de Pós-graduação em História da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), conta que a relação entre Ucrânia e Rússia é conturbada há tempos.
No final do século 18, a Ucrânia conquistou a independência após ter sido anexada ao Reino Unido da Polônia e da Lituânia. O recém independente país do Leste Europeu se ligou ao Império Russo em busca de apoio.
No entanto, a relação entre eles nunca foi harmoniosa, segundo o professor. “O Império Russo sempre foi truculento na relação com seus dominados”.
Com a criação da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) em 1922, em tese, cada um dos países membros possuía certa autonomia. A consolidação do regime de Josef Stalin fortalece a supremacia russa na URSS.
Na Segunda Guerra Mundial, forças do eixo lideradas por Adolf Hitler invadem a União Soviética em 1941. De acordo com Munhoz, no início, parte da Ucrânia aderiu às forças nazistas.
Ao fim da guerra, esses colaboradores sofreram represálias. “Vem daí a justificativa usada por Vlir Putin, que diz que a ação dele se deu, entre outros motivos, pela necessidade de ‘desnazificação’ da Ucrânia”, explica Munhoz.
Criação da OTAN 2j2ku
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, emerge um novo conflito denominado “Guerra Fria” (1949-1989). Neste contexto, os Estados Unidos propõem a criação de uma aliança militar sob a justificativa de fazer frente à ameaça soviética.
A aliança é batizada de OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Ao final da Guerra Fria, repúblicas que faziam parte da URSS começaram a demandar sua independência, entre elas, a Ucrânia.
“Líderes ocidentais garantiram ao líder soviético que a OTAN não expandiria ‘uma polegada’ para as áreas controladas pela União Soviética. Mas, isso não aconteceu. Então, grande parte do conflito entre Ucrânia e Rússia está associada à expansão da Organização”, afirma.
“Se de um lado não se justifica a agressão da Rússia à Ucrânia, também não se justifica a contínua expansão de uma aliança militar liderada pelos Estados Unidos para confrontar a Rússia”, completa.
Para Rússia, expansão da OTAN é ameaça 4j65
O professor de História relata que a Ucrânia tem o segundo maior exército de toda a região do Leste europeu – atrás, apenas, da Rússia. O país de 41 milhões habitantes incrementou o exército com 220 mil combatentes e tem previsão de reunir mais 100 mil até 2025.
“O discurso ucraniano é aumentar a força para fazer frente à ameaça russa. Já a Rússia se considera um alvo e diz que essas forças ucranianas estão sendo estimuladas com o apoio do Ocidente, como dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, no fornecimento de armas, dinheiro e treinamento”, explica.
Além disso, a Ucrânia era uma grande potência nuclear dentro da URSS. Acordos feitos entre Rússia e Estados Unidos desmantelaram esse status. Contudo, o historiador aponta que em um curto espaço de tempo, a Ucrânia poderia reativar as instalações criando um novo arsenal nuclear.
“Países que aderiram a Otan aram a ter bases militares. Isso é visto como uma ameaça à segurança do Kremlin”, completa.
Relação ‘simbiótica’ 6t2150
O professor de História aponta que há uma relação “simbiótica” entre a Ucrânia e a Rússia. Isso porque boa parte da Ucrânia fala russo e há dentro do país uma minoria que se reconhece como cidadã russa.
Ao longo do século 21, houve governos pró-Rússia na Ucrânia. Entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014 cresceu uma onda de protestos contra o então governo pró-russo.
Esses protestos, segundo o acadêmico, foram influenciados por países ocidentais. Ainda em 2014, a Rússia ocupa a Crimeia, que era um território ucraniano com população predominantemente de etnia russa.
Em 2015, Petro Poroshenko foi eleito presidente na Ucrânia. Ele era visto pelos russos como favorável ao ocidente. Dois anos depois, os Estados Unidos am a vender armas para Ucrânia, o que gera ainda mais tensões.
Terceira Guerra Mundial? 442546
O professor diz que o confronto é resultado do expansionismo e imperialismo liderado pelos Estados Unidos e associados da OTAN e do regime autoritário e autocrático da Rússia. O próprio governo da Ucrânia, segundo ele, também tem responsabilidade pela falta de negociação dos pontos de tensão entre os dois países.
O professor diz que é difícil prever a proporção que a guerra tomará e se chegará ao nível de uma Terceira Guerra Mundial. Isso depende do avanço das possíveis negociações para o cessar fogo.
Nesta sexta-feira (25), o Kremlin anunciou que o presidente russo, Vladimir Putin, concordou em abrir negociações com o governo ucraniano após o presidente do país, Volodymyr Zelensky, dizer que está pronto para discutir a “neutralidade da Ucrânia”.
*Com informações da Agência Brasil