
A entrega da medalha da cultura de Janja gerou reações diversas no meio cultural e político. A Ordem do Mérito Cultural é entregue anualmente pelo Ministério da Cultura e visa reconhecer personalidades, grupos artísticos e instituições que contribuíram de forma relevante para a cultura brasileira.
A edição de 2025, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, marcou o retorno da principal honraria pública dedicada à cultura no Brasil após cinco anos de interrupção, O evento homenageou 112 personalidades e 14 instituições que contribuíram significativamente para a cultura nacional.
Medalha da cultura de Janja 6xu2r
A cerimônia chamou atenção principalmente pela inclusão de Janja entre os agraciados, ao lado de artistas consagrados como Alcione, Arlindo Cruz, Alceu Valença, Marília Mendonça, Camila Pitanga e Fernanda Torres.

A primeira-dama, que já havia sido elogiada por Lula por seu papel ativo em pautas culturais dentro do governo, recebeu a medalha em reconhecimento à sua atuação institucional na promoção da cultura popular.
No entanto, críticos alegam que a medalha da cultura de Janja reflete mais uma decisão política do que um reconhecimento técnico e artístico. Isso porque, embora Janja tenha se destacado como articuladora política e defensora de manifestações culturais, sua trajetória não está diretamente ligada à produção ou curadoria artística. Além disso, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, foi indicação da primeira-dama.
Em 2024, no G20 Talks, evento paralelo ao encontro do G20, Janja coordenou eventos culturais. No entanto, sua participação ficou marcada pelas ofensas que fez ao bilionário Elon Musk, dono do X e da Tesla. Apesar das críticas pela participação de Janja no governo, Lula já afirmou que acha graça de quem reclama da influência da Janja.
A discussão sobre a medalha da cultura de Janja se intensificou pela comparação com grandes artistas que ganharam o prêmio. No entanto, há outros que nunca foram agraciados com a Ordem do Mérito Cultural, apesar de contribuição relevante à identidade cultural do país.
Grandes artistas nunca receberam a honra 4f2y4t
Entre os artistas que jamais receberam a honraria, destacam-se nomes emblemáticos como Djavan. Outro exemplo é Elza Soares, falecida em 2022, que fez de sua carreira um símbolo de resistência e inovação na música. Ambos representam contribuições artísticas inquestionáveis, com impacto social e cultural profundos, mas ainda assim foram ignorados pela OMC.
A medalha da cultura de Janja também acendeu o debate sobre os critérios adotados pelo governo para a escolha dos agraciados. A Ordem do Mérito Cultural foi criada em 1995 e, ao longo dos anos, já homenageou intelectuais como Ariano Suassuna, músicos como Gilberto Gil, e atores como Fernanda Montenegro. No entanto, muitos apontam que o prêmio ainda carrega forte influência do contexto político e de alianças institucionais.
Outro ponto questionado por especialistas é a ausência de nomes ligados a culturas periféricas e à juventude. Enquanto a medalha da cultura de Janja reforça o papel das mulheres na cultura institucional, críticos argumentam que figuras que promovem debate sobre identidade, racismo e justiça social ainda não receberam a medalha.
Um desses casos é o do artista visual Dalton Paula, que possui trabalhos com inspiração em comunidades quilombolas e cultura popular. No ano ado, Dalton representou o Brasil na 60ª Bienal de Veneza, que teve como foco a diversidade e a expressão cultural de artistas de todo o mundo, especialmente em artistas indígenas e do Sul Global. Outra participação de Dalton marcante é a exposição itinerante “Histórias Afro-Atlânticas”, exibida no MASP, Instituto Tomie Ohtake, Brasil (2018) e museus norte americanos.
O artista tem recebido amplo reconhecimento no Brasil e fora, incluindo o Chanel Next Prize (2024) e o Prêmio Marcantonio Vilaça (2019). Além de artista, Dalton Paula também é fundador do Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, projeto educacional que o rendeu o Prêmio Soros Arts Fellowship pela Open Society Foundation em 2023. No entanto, nada disso foi suficiente para ser homenageado pelo MinC.
Dentro da edição da Ordem do Mérito Cultural de 2025, há controvérsias sobre a medalha da cultura de Janja ser a maior honraria concedida, a Grã-Cruz. Outras artistas renomadas, como a Liniker, por exemplo, receberam o título de Cavaleiro, referente a contribuições artísticas com reconhecimento apenas na área de atuação.

O caso da medalha da cultura de Janja também evidenciou o quanto a cultura segue sendo um campo de disputa simbólica no Brasil. Para aliados do governo, a condecoração é legítima e representa o compromisso da gestão Lula com a reconstrução cultural do país após anos de desmonte. Já para opositores, é um gesto que banaliza a importância da OMC, retirando o foco de artistas e pensadores cuja obra artística é a base da cultura brasileira.