Presságio: esquema usou pessoas em situação de rua em fraude na Fenaostra, diz polícia de SC 3z6l2o

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Investigados teriam montado estacionamento ilegal na Fenaostra com uso de pessoas em situação de rua de Florianópolis, aponta Polícia Civil de SC; esquema foi descoberto após análise de celular

Mensagens nos celulares dos investigados na Operação Presságio, deflagrada pela Polícia Civil, em Florianópolis, mostram que o grupo alvo do inquérito “se aproveita das mais diversas oportunidades para angariar recursos”. É o caso do uso de pessoas em situação de rua para cobrar por vagas de um estacionamento clandestino na Fenaostra de 2023, segundo a Polícia Civil. O documento foi obtivo com exclusividade pelo Grupo ND.

Fenaostra retornou a Florianópolis em 2023 após pausa desde 2019 – Foto: Leo Munhoz/NDFenaostra retornou a Florianópolis em 2023 após pausa desde 2019 – Foto: Leo Munhoz/ND

Os citados na fraude do estacionamento da Fenaostra são Ed Pereira, ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis, e Renê Raul Justino, à época diretor de Projetos da Fundação Franklin Cascaes.

As novas informações surgem após os 24 mandados de buscas e apreensões realizados em janeiro pela Polícia Civil e a partir de análise feitas em celulares, documentos e computadores apreendidos.

“De acordo com a representação, a partir da análise preliminar do aparelho celular apreendido na posse do investigado Renê Raul Justino, foi possível identificar conversas que evidenciam a existência de uma suposta organização criminosa enraizada na Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Esporte”, escreve o juiz Vara do Crime Organizado da Grande Florianópolis, Elleston Lissandro Canali, que definiu os ex-secretários municipais da Capital, Ed Pereira e Fábio Braga, como “supostos membros de organização criminosa”.

A operação investiga crimes ambientais, corrupção e lavagem de dinheiro cometidos por Fábio, Ed e Samantha Brose, em parceria com indivíduos do setor privado. O juiz prorrogou o afastamento de Ed Pereira, Fábio Braga e Samantha Brose de cargos públicos, a pedido a Polícia Civil.

O esquema do estacionamento na Fenaostra 16et

Em 3 de novembro de 2023, o estacionamento da Fenaostra foi alvo de conversa em Ed Pereira e Renê. O ex-secretário encaminhou para Renê que o estacionamento do evento, situado em uma área pública, estava sob questionamento da Polícia Militar. Ed comandava a pasta que coordenava a Fenaostra.

Ed Pereira na Fenaostra de 2023 – Foto: Diogo de SouzaEd Pereira na Fenaostra de 2023 – Foto: Diogo de Souza

Segundo a conversa, os militares questionavam a cobrança realizada por máquinas de cartão de crédito particulares, cujo destino dos valores arrecadados era incerto. Renê mencionou ter ordenado a retirada das máquinas para evitar futuras investigações. Veja o diálogo a seguir com as falas na íntegra, sem ajustes:

Ed Pereira: Esse estacionamento que vai livrar as coisas que tenho mais equipe novembro [SIC].

Renê Justino: Outra coisa, que agora que é meio importante, que a PM acabou de sair daqui, né? Cara, os caras fizeram um monte de pergunta, fiquei sem pai nem mãe, joguei pro André, não sabia o nome dele, daí o André ligou na hora, André disse ta vindo aqui, daí os caras queriam saber de quem era o estacionamento, se era particular, se era privado, se tinha maquininha, se a maquininha estava tirando o comprovante, se sai em nome da prefeitura se sai de privado, particular, ele mandou tirar cone da pista, pra deixar só um ou dois aqui. Mandou também é, diz que vai mandar pra cima para ver de quem é esse estacionamento, pra quem que tá indo, pra ver pra quem que tá arrecadando, que pode ser corrupção, e ‘pa e pa pa pa’. Aí eu já dei um toque no André e já recolhi a maquininha, cara. Com certeza eles vão voltar. [SIC]

Renê Justino: Deu ruim, mandei recolher tudo.

Mas foi outro ponto que deixou os investigadores “incrédulos”. Os agentes constataram que os suspeitos utilizavam pessoas em situação de rua para controlar o e cobrar no estacionamento clandestino em áreas públicas no evento.

Ed Pereira: Mas ontem deu quantos carros????? Vale o risco??? [SIC]

Renê Justino: Cara, de verdade acho que não vale, ontem deu movimento de dois pila e pouco. É, Kleber chegou, Andrezão sumiu, foi fazer as paradas dele que tinha pra fazer na arela, voltou só depois. Quem tava cuidando dos carros cara era todo mundo de gente de abrigo, os cara estavam ali no albergue, não acho que vale a pena não. [SIC]

Os nomes de terceiros mencionados nos diálogos não são esclarecidos pela Polícia Civil, que sustenta não ter dúvidas de que pessoas em situação de rua eram usadas pelos investigados na fraude do estacionamento.

“A conversa é autoexplicativa, mas, merece destaque que o controle de o e cobrança do estacionamento clandestino estava sendo realizado por moradores de rua, que pernoitavam no abrigo, e o recolhimento dos valores feitos por meio de terminal de processamento de dados de cartões de créditos em nome de um dos integrantes da organização criminosa”.

A Polícia Civil ressalta, por outro lado, que “não foi possível, até o momento, confirmar a titularidade, mas fica subentendido que estaria vinculado a conta de Renê Raul Justino”.

“Não há limites para o grupo criminoso realizar desvio de dinheiro público ou obter vantagens indevidas”.

Operação Presságio mirou em corrupção e crimes ambientais em Florianópolis – Foto: Divulgação/PCSC/NDOperação Presságio mirou em corrupção e crimes ambientais em Florianópolis – Foto: Divulgação/PCSC/ND

Pedidos de afastamentos na Operação Presságio 1z1a67

  • Edmilson Carlos Pereira Junior (ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis)
  • Fabio Gomes Braga (ex-secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis)
  • Samantha Santos Brose (esposa de Ed Pereira e ex-assessora parlamentar do vereador Marquinhos)

Quais os crimes investigados 1o5f3q

  • Crime ambiental de poluição
  • Fraude à licitação
  • Corrupção iva e corrupção ativa
  • Associação criminosa
  • Lavagem de dinheiro

O que dizem os citados 4h1sn

  • Ed Pereira e Samantha Brose. “O material apreendido na busca e apreensão ainda está em análise preliminar. A defesa tem ciência da decisão proferida que renovou o afastamento dos cargos, porém não teve o à íntegra das provas objeto de análise. No momento oportuno tudo será esclarecido, com o fito de elucidar o caso e demonstrar a inocência do senhor Edmilson e senhora Samantha. Estamos confiantes que se fará Justiça, ante as infundadas acusações”, diz o advogado Guilherme Fernandes Cirimbelli.
  • Fábio Braga. “A defesa de Fábio Braga, ex-secretário municipal de Meio Ambiente de Florianópolis, contesta as acusações que surgiram durante a Operação Presságio. Segundo a defesa, seu nome não é mencionado nos áudios e ele nega qualquer envolvimento com os investigados. Braga alega que assumiu o cargo após a contratação da empresa mencionada no inquérito e foi incumbido de gerir o contrato devido a uma reforma istrativa aprovada pela câmara de vereadores. Meu constituinte solicitou várias vezes a deflagração de processos licitatórios para o serviço em questão”, diz o advogado Gabriel Kazapi.
  • Renê Raul Justino. A defesa de Renê contesta o pedido de prorrogação do afastamento dos investigados, alegando que tiveram o apenas ontem às supostas conversas mencionadas pelo Ministério Público. Segundo o advogado Alessandro Marcelo de Sousa, os autos contêm apenas relatórios policiais que mencionam essas conversas, mas estas ainda não foram oficialmente apresentadas aos autos por meio de laudos técnicos. “A defesa poderá constatar a autenticidade das mídias e a forma como foram adquiridas quando os laudos forem disponibilizados”, diz. Segundo eles, até o momento, a defesa argumenta que não há evidências concretas para uma manifestação segura sobre o caso.

O que é a Operação Presságio 612n13

2021 foi o ano em que iniciou a investigação, em virtude de crime ambiental de poluição que estaria ocorrendo pela empresa Amazon Fort em um terreno, adjacente à arela Nego Quirido.

17 meses foi o tempo que vigorou o contrato entre Amazon e Prefeitura de Florianópolis, sendo que R$ 29 milhões foi o total pago pela à empresa nos 17 meses do contrato.

Com o andamento das investigações, a Polícia Civil encontrou indícios de outras ilegalidades em contratos públicos e rees de dinheiro, envolvendo empresários, secretários de Florianópolis e servidores públicos, além de empresas e organizações, como a Amazon Fort e o Instituto Bem Possível.